segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um último olhar

Após a morte de Cleópatra, o Egito torna-se o celeiro de Roma que oprime o Duplo País. Em 384 da nossa era, um decreto ordena o fechamento dos templos. No dia 14 de Agosto de 394 é gravado o último texto hieroglífico em Filae, de onde os sacerdotes de Ísis serão expulsos em 535. A língua sagrada desaparece, caindo assim no ostracismo um prodigioso instrumento cultural, bem como a aventura dos faraós, até o dia em que a sua decifração permitiu conhecer a sua civilização.

A viagem ao Egito é um deslumbramento para todo aquele que quiser reencontrar as suas origens e as suas raízes mais profundas. O visitante sente com uma intensidade muito especial que o segredo da civilização está ali, oculto naquelas pedras, no sorriso das divindades, na verticalidade das colunas. A história dos faraós do Egito constitui um ensinamento, fazendo-nos tomar consciência da verdadeira grandeza do homem. E é tão imperecível quanto a sua arte.

Filho único do deus Rá, o Egito era considerado pelos seus habitantes como o centro do mundo, como o olho aberto para o real. Templo do mundo inteiro, reflexo dos cosmos, o Duplo País era oferecido a cada soberano como um tesouro inestimável. O Sul é dado  ao rei tão longe quanto sopra o vento, Norte até os confins do mar, o Ocidente tão longe quanto chega o sol, o Oriente até onde ele desponta. De modo que a atividade dos faraós não foi política no sentido estrito do termo; o senhor do Egito, intermediário entre o céu e a Terra – como, por exemplo, o imperador da China – não se comportava como um administrador profano. Investido da sua missão pelos deuses, qual mago que mantém a harmonia da natureza, o faraó é o modelo de um chefe de Estado que à primeira vista parece estar muito longe de nós. Haverá, contudo, maior desígnio político do que criar uma ordem terrestre em harmonia com a ordem celeste? Eis a grande obra dos reis do Egito, eis a verdade dos chamados faraós.

(Christian Jacq em 'O Egito dos Grandes Faraós - história & lenda')

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