Nasceu provavelmente em Tebas e lá foi criada; o desenvolvimento religioso que ela deu a essa região demonstra o amor que lhe dedicava. Exerceu o poder durante muitos anos, quando Amenhotep I era muito jovem para assumir o cargo. Foi também autora de notáveis inovações cujas consequências seriam ainda perceptíveis vários séculos após o seu desaparecimento, quando a dinastia das Divinas Adoradoras reinava em Tebas.
Numa estela em fragmentos, foi encontrado um texto que revelou que Ahmés-Nefertari tinha o título de "segundo servidor do deus" na hierarquia do templo de Karnak e renunciou. O rei oferece em troca os meios materiais necessários para criar uma nova instituição religiosa e ecomômica: a da "esposa do deus" de que a rainha se tornou a fundadora. Passou a dispor de bens móveis e imóveis destinados a constituir o domínio da esposa do deus:
- terras, ouro, prata, bronze, vestes, trigo e unguentos.
O rei mandou construir uma morada para a esposa do deus, e um registro foi selado a seu favor. Nas suas funções, Ahmés-Nefertari usava um vestido estreito até os calcanhares, apertado na cintura e com alças que cobriam parcialmente os seios, um vestido clássico como os da sacerdotisas do Antigo Império; uma peruca curta, cingida por um aro. Usava duas altas plumas que completavam o toucado tradicional das rainhas e que eram "os despojos do abutre", símbolo da função materna no seu aspecto espiritual.
– Chefiou um colégio de sacerdotisas que a ajudariam a exercer a sua principal função:
- manter, com o seu amor, a energia do deus Amon, a fim de que o amor divino alimentasse o Egito.
Foi considerada a santa padoreira da necrópole tebana e durante várias décadas gozou de grande popularidade. Seu templo foi edificado perto de seu túmulo, "aquele cuja localização é estável (menset)", na orla das terras cultivadas. Esse tipo de construção estava normalmente reservado aos faraós, sendo conhecidas poucas exceções. Ao longo da história do Egito, algumas mulheres colaboraram nas escritas dos textos utilizados nas liturgias, Ahmés-Nefertari foi certamente um desses autores sagrados.
– Várias representações da grande rainha espantaram os observadores:
- não havia dúvida de que tinha a pele negra
- seria de origem negra
A descoberta de sua múmia, retirada do seu túmulo de Dra Abu el-Neggah e abrigada no esconderijo de Deir el-Bahari depois de uma onda de assaltos aos túmulos reais no reinado dos últimos ramessidas, ofereceu uma certeza:
- ela morrera velha e tinha a pele branca;
em contato com o ar e por falta de precauções, o corpo decompôs. Por que razão certas estátuas da rainha são em madeira betumada, e por tanto da cor negra? No simbolismo egípcio, ela encarna a ideia da regeneração, do processo alquímico pelo qual a alma deve passar para reviver no Além.
Ahmés-Nefertari prefigura assim as Virgens negras, outrora numerosas nas catedrais e igrejas do Ocidente; remotas figuras de Ísis segurando Hórus, o menino-deus, eram também descendentes de uma rainha do Egito, tornada deusa da ressurreição.
Origem: 'As Egípcias' de Christian Jacq
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