sábado, 5 de dezembro de 2009

O tesouro de Tânis

O esplendor das obras-primas de Tânis inspira uma comparação com os tesouros de Tutancâmon. Em ambos os casos os esconderijos vieram de tumbas de faraós quase invioladas e assim permitindo comparar as formas pelas quais os egípcios de dois períodos diferentes:
  1. "a era de ouro" do Novo Império,
  2. a 21ª dinastia,
forneciam o descanso eterno a seus divinos reis.

Em termos de qualidade técnica e escultural, os vasos de ouro e de prata e as joias dos túmulos de Psusenes I, de Amenemope e do general Undjebauendjed são equiparados às mobílias funerárias de Tutancâmon. Em termos de quantidade, o conteúdo destas tumbas de Tânis, procedentes da 21ª dinastia é escasso, até mesmo se somarmos os esconderijos do rei Sheshonk e de duas outras múmias alojadas na antecâmara de Psusenes – os reis Takelótis I e Osórkon II – junto com o esconderijo do príncipe Hornakht, que escapou da pilhagem da tumba de Osórkon III na antiguidade.

O Egito do Terceiro Período Intermediário, desprovidos de suas fronteiras naturais, já não possuía a riqueza da qual tinha desfrutado durante o Novo Império, quando os faraós da 18ª dinastia dominaram um império que se estendia:
  • da Síria, no nordeste,
  • até a 4ª catarata do Nilo, no sul.

A montagem funerária de Tutancâmon possuía uma enorme riqueza de objetos rituais e luxuosos, as ferramentas associadas à vida cotidiana dos vivos. Por outro lado, durante a 21ª dinastia, a tendência era eliminar dos túmulos os objetos cotidianos desse tipo e restringir as decorações funerárias aos amuletos mágicos, que transformavam o falecido em Osíris. Depois das pilhagens em Tebas das tumbas, na época do Novo Império, transferiram seus túmulos para Deir el-Bahari, que era mais seguro. A escavação de Tânis é um exemplo milagroso de salvamento e conservação.

Osórkon II, que governou em meados da 22ª dinastia usurpou a tumba I para si reformando o vestíbulo de forma que ele pudesse guardar os restos mortais de seu pai, Takelótis I, criando uma nova entrada para as câmaras subterrâneas. Mais tarde, a câmara de granito ocupada por Osórkon II foi alargada, para que nela coubesse o sarcófago de seu filho Hornakht, sumo sacerdote de Amon. Em uma data ainda não identificada, uma enorme tumba complementar, cuja construção era mais rústica foi colocada ao lado da parede sul da tumba de Osórkon.

O faraó Sheshonk II construiu sua própria tumba na esquina sudoeste da necrópole, e fez mudanças no interior da estrutura de pedra calcária construída por Osórkon II. Durante seu reinado o complexo funerário foi coberto com uma superestrutura de tijolos. É difícil saber como eram realmente as capelas dos reis da 21ª dinastia, já que o que restou foram alguns fragmentos esculpidos, reutilizados ou descartados nesse setor do sítio.

Também é difícil julgar em que momento da 22ª dinastia as tumbas foram abertas, a fim de mudar o local de descanso dos reis e dos príncipes. Com todas essas transferências de múmias e apropriações de tumbas, os locais funerários reais de Tânis, com a exceção da tumba de Psusenes I, apresentaram um espetáculo de desordem assustador, difícil de ser interpretado. Depois do abandono quase total do local, no século VII dC, os tijolos de lama que formavam a parede do anexo vizinho e os edifícios ao redor da necrópole deterioraram, acumulando-se para formar uma camada grossa de terra preta.

Os tesouros de Tânis são preciosos para os que apreciam a beleza e a maestria artística. A qualidade dos vasos, dos colares, dos ornamentos peitorais e dos amuletos fala por si mesma. Testemunha a resistência da habilidade dos ourives e dos joalheiros, a partir do suntuoso período dos Ramsés ao longo de uma época politicamente instável. Para glorificar os reis de Tânis, artesãos habilidosos aplicaram seus conhecimentos preservando e passando adiante as melhores tradições da sagrada arte faraônica.

Origem: 'Tesouros do Egito' do Museu Egípcio do Cairo

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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