sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Dar à luz

De acordo com o Papiro Westcar, a dama Red-Djedet, foi uma mãe extraordinária, gerou 3 faraós da 5ª dinastia, esposa de Ra-user "Ra é poderoso". A partir desta dinastia todos os faraós passam a chamar-se "filhos de Ra (a Luz divina)".

Dar à luz, em egípcio antigo "liberta-se" "sair do corpo" "vir à Terra". Para esse grande acontecimento:
  1. o cabelo da parturiente era amarrado,
  2. ungia seu corpo com óleo a fim de distender a carne
  3. injetavam na vagina líquidos à base de plantas medicinais

O pavilhão do nascimento
Onde deve ocorrer o parto, conforme diz nos papiros: fora lá que Ísis parira Hórus.

Uma representação em Der el-Medina dá uma idéia do pavilhão:
  • construção leve
  • colunas de madeira com forma de hastes de papiro simbolizando o Pântano primordial
  • nas paredes há trepadeiras
  • decorações de Bes – o jovem anão músico; e Tueris – a mulher-hipopótamo, também encarregada de retirar "as águas do nascimento; ambos deuses dos partos
  • há um leito, almofadas, tecidos, tamboretes, espelho, objetos de toalete, marfins mágicos e a cadeira do nascimento, ou os quatro tijolos(*) com a mesma função
A parturiente está nua e despenteada, e livre de todos os nós que possam entravar o nascimento.

As parteiras e o nascimento
As parteiras ajudam a parturiente a acocorar-se em cima de uma esteira ou sobre os tijolos e em certos casos utiliza-se a cadeira de parto – com uma altura de 30cm, de madeira pintada de branco. A deusa Meskhenet encarna nessa cadeira e contribui para fixar o destino do recém-nascido.

cadeira de parto

As parteiras são consideradas encarnações da deusa abutre Nekhbet, ligada à maternidade e protetora do faraó. A criança deve ser formalmente agarrada pela parteira, à imagem das garras do abutre que segura a presa e não larga mais. Segurando a parturiente pelas costas, pronuncia fórmulas encantatórias, uma outra cortará o cordão umbilical, levará o bebê a mãe e depois o deitará num confortável leito. Em certos casos oferece ao bebê um pedaço de placenta esmagada com leite, se vomitar «MORRERÁ»; se absorver «VIVERÁ» . O primeiro grito do recém-nascido é muito esperado, se dizia ny «VIVERIA» e se dizia emby «MORRERIA»

Quando era impossível a saída da criança por via natural, recorria-se à cirurgia, que parece ter sido notável nesse campo.

Os mammisis(**)
Cada recém-nascido é um Hórus ressuscitado. Nele se afirma um desejo de harmonia, que poderá ser corroborado ou traído pelo seu caráter. Hórus nasce num templo especial, o mammisi, de que se conservam vários exemplos em Dendera e Edfu. As paredes desses templos, ressoam alegres cânticos e jubilosas músicas, revestidas de finas folhas em ouro coladas sobre estuque. Um grande leito espera a parturiente, por baixo vacas de origem celeste garantem fecundidade e amamentação. Vinte e nove deusas Hathor tocam tamboril, enquanto sete potências masculinas (kau) e sete potências femininas (hemuset) asseguram a formação espiritual e física da criança.

............mammisi em Filaé............................................mammisi em Edfu

o deus Ptah esculpe-a
o deus Khnum molda-a
a deusa Sechat inscreve seus anos de existência na árvore da vida

O ritual encontra-se presente nas paredes do templo de Luxor, onde podemos ver o parto de Mutemuia, a mãe de Amenhotep III, ritual que remonta talvez às mais antigas dinastias.


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(*) os quatro tijolos – são a encarnação de quatro deusas: a grande Nut (o céu); a mais velha Tefnut (polaridade feminina do 1º casal); a bela Ísis e a excelente Néftis.

(**) mammisi – palavra criada por Champollion, deriva do egípcio antigo per-meset, que significa "lugar de nascimento".
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Fonte: 'As Egípcias' de Christian Jacq

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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