sexta-feira, 9 de abril de 2010

O novo nascimento da rainha Hatchepsut

Um faraó não é um oportunista nem um banal personagem político; não são os homens que o escolhem, são os deuses que o moldam, segundo a expressão egípcia, "desde o ovo". Na pessoa de um rei do Egito sobrepõem-se um indivíduo humano, perecível, acerca do qual os textos são mudos, e uma pessoa simbólica, imortal, de que nos falam abundantemente.

Ao tornar-se faraó no ano 7 do reinado de Tutmósis III, Hatchepsut vê proclamado o seu novo nascimento enquanto monarca. Para descrever esse episódio, os eruditos inventaram a expressão "teogamia" – o casamento com um deus. O que revela os baixos relevos do Templo de Deir el-Bahari, a grande obra de Hatchepsut.

Ahmosê, a grande esposa real de Tutmósis I, encontra-se em seu palácio; quando a vê, o deus Thot regozija-se. O senhor das ciências sagradas dirige-se a Amon e anuncia-lhe que acaba de descobrir aquela que procurava. Amon, o deus oculto, é igualmente Ra, a luz revelada, sob o seu nome de Amon-Ra, sintetiza o poder divino que ao mesmo tempo exprime o segredo da vida e a sua mais brilhante manifestação. Depis de consultar o seu conselho formado por 12 divindades, Amon-Ra decide gerar um novo faraó. O deus assume a aparência física de Tutmósis I e entra na câmara onde a rainha repousa. Esta desperta com o maravilhoso perfume que o seu régio e divino marido exala. O deus e a rainha unem-se. Aquela que está unida a Amon, Hatchepsut, será o nome da filha que depositei no teu corpo... É ela que exercerá as funções de faraó, radiosa e benfazeja, no país inteiro.

No nascimento o deus Amon apresenta sua filha às divindades do Alto e do Baixo Egito, que admiram a sua beleza. Ela é o símbolo vivo de Amon, a sua representante na Terra, pois nasceu ela da própria carne do deus.



Fonte: "As Egípcias" de Christian Jacq

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

Comentários