domingo, 26 de setembro de 2010

Enéade

Uma enéade era na mitologia egípcia um agrupamento de nove divindades, geralmente ligadas entre si por laços familiares. A palavra enéade é de origem grega; em egípcio usa-se a palavra Pesedjet.

  • Conhecem-se várias enéades, sendo a mais importante a da cidade de Heliópolis, cidade do Baixo Egito.

De acordo com o mito elaborado pelos sacerdotes da cidade, no princípio existia apenas as águas de Nun, das quais emergiu a colina primordial. Nesta colina encontrava-se um deus que se tinha gerado a si próprio, Atum. Através do sémen produzido pelo ato de masturbação do deus, nasceram outras divindades:
  • Chu (o ar) e
  • Tefnut (a umidade).
– Este casal procriará e dele surgem:
  • Geb (a terra) e
  • Nut (o céu).
– Estes últimos geram quatro filhos:
  1. Osíris,
  2. Ísis,
  3. Set e
  4. Néftis.
Embora pareça estranho, nem todas as enéades egípcias eram constituídas por nove deuses. Por exemplo, a Enéade de Abido era composta por sete deuses e a de Tebas por quinze. A razão para tal encontra-se na perda do sentido etimológico inicial de Pesedjet como grupo de noves deuses; o conceito passou a ser um mero agrupamento de divindades.

Existiu igualmente uma "Pequena Enéade de Heliópolis" composta pelos deuses Hórus, Tot, Anúbis, Maet e Khnum.

Fonte: Wikipédia

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O profissionalismo das egípcias




Muitas egípcias tinham uma profissão absorvente: donas de casa. Mas muitas tiveram um ofício fora da vida familiar e ocuparam importantes funções, a começar pelas grandes esposas reais que estavam à cabeça do Estado, ao lado dos faraós.





Vizir
O braço direito do casal régio era o vizir – uma espécie de primeiro ministro com múltiplas tarefas. O termo verdadeiro é tchaty "o da cortina", aquele que conhece os segredos do faraó, porque foi admitido do outro lado do véu e sabe guardar silêncio "correndo a cortina". Encarregado de executar a vontade do soberano, o vizir jurava cumprir, sem fraquejar, todos os seus deveres e devia observar uma total integridade, sob pena de ser demitido das suas funções, as quais, confirma o texto da investidura podiam ser "amargas como fel".

Uma inscrição do Antigo Império, mostra um documento de memória dos títulos de uma dama "a soberana, a senhora", que foi princesa hereditária (repat), diretora (haty-batet). O caso é raro, se conhece outra mulher que foi vizir, na 26ª dinastia, período deliberadamente inspirado na idade áurea do Antigo Império. Mas o fato não é considerado excepcional, e a inscrição particularmente não o realça.


Altas funcionárias
Na documentação poupada pelo tempo e pelas destruições, descobrimos que uma mulher podia ser governadora de uma província, de uma cidade ou de uma circunscrição administrativa o que implicava um importante trabalho à frente de um pessoal numeroso. Podia tranquilamente ser inspetora do Tesouro, superiora das estofas e da casa da tecelagem, dos cantores e dos bailarinos, das salas das perucas. A exceção do exército, estavam abertos quase todos os setores de atividade que caracterizavam a civilização faraônica.

Fonte: 'As egípcias' de Christian Jacq

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Textos dos Sarcófagos e Textos das Pirâmides

Textos dos Sarcófagos é a designação moderna atribuída a textos de carácter funerário produzidos na civilização do Antigo Egito a partir do Primeiro Período Intermediário, mas sobretudo durante o Império Médio. Em resultado da desagregação do poder político no final do Império Antigo e das alterações culturais produzidas, a hipótese de gozar uma vida no Além deixou de estar reservada à realeza, alargando-se aos funcionários e, progressivamente, a toda a população egípcia. Os Textos dos Sarcófagos, dos quais se conhecem mais de mil fórmulas, visavam proteger o defunto no Além e prover as suas necessidades. Foram inscritos na sua maioria em escrita hieroglífica cursiva no interior das paredes internas de sarcófagos de madeira retangulares (o que explica a designação de "Textos dos Sarcófagos"), embora também se conheçam inscrições realizadas em vasos canópicos, estelas, paredes dos túmulos e papiros.

Os textos retomam e adaptam as fórmulas dos Textos das Pirâmides textos gravados no interior das pirâmides de reis da V, VI, VII e VIII dinastias. Contudo, verificam-se algumas novidades como a possibilidade do defunto assumir várias formas, bem como de regressar à terra para visitar os seus entes queridos. Enquanto que os Textos das Pirâmides apresentam a possibilidade do defunto se juntar ao deus solar Ré, os Textos dos Sarcófagos favorecem a união com Osíris. Saliente-se ainda que o acesso a uma vida no Além está sujeito a ter levado uma vida marcada pela prática de um comportamento justo. Os Textos da Pirâmide de Unas, descobertos em 1881 por Gaston Maspero, são os escritos religiosos mais antigos descobertos até hoje. Por apresentarem uma síntese das crenças religiosas do Antigo Egito, eles datam de 4.500 anos ou mais, considerando que estas crenças devem ter nascido muito antes de serem transcritas na pedra. Embora a Pirâmide de Unas seja a menor das pirâmides reais construídas no Antigo Império, ela foi a primeira a trazer em suas paredes internas este conjunto de encantamentos (fórmulas), que ajudariam a alma do faraó em sua jornada para o próximo mundo. Os textos estão gravados nas colunas, sobre as paredes do corredor, da ante-câmara e da passagem que leva à câmara funerária da pirâmide. As paredes que cercam o sarcófago não têm texto e o teto é coberto por estrelas.

  • Os Textos das Pirâmides e os Textos dos Sarcófagos foram as principais fontes para o chamado "Livro dos Mortos", popular no Império Novo.

Fonte: Wikipédia

domingo, 12 de setembro de 2010

O Livro dos Mortos

O nome original, em egípcio antigo, era Livro de Sair Para a Luz. Designação dada a uma coletânea de feitiços, fórmulas mágicas, orações, hinos e litanias do Antigo Egito, escritos em rolos de papiro e colocados nos túmulos junto das múmias. O objetivo destes textos era ajudar o morto em sua viagem para o outro mundo, afastando eventuais perigos que este poderia encontrar na viagem para o Além.

A ideia central do Livro dos Mortos é o respeito à verdade e à justiça, mostrando o elevado ideal da sociedade egípcia. Era crença geral que diante da deusa Maat de nada valeriam as riquezas, nem a posição social do falecido, mas que apenas os atos seriam levados em conta. Foi justamente no Egito que esse enfoque de que a sorte dos mortos dependia do valor da conduta moral enquanto vivo ocorreu pela primeira vez na história da humanidade. Mil anos mais tarde, essa idéia altamente moral não se espalhara ainda por nenhum dos povos civilizados que conhecemos. Em Babilônia, como entre os hebreus, os bons e os maus eram vítimas no além, e sem discernimento, das mesmas vicissitudes.

Não resta dúvida de que o julgamento dos atos após a morte devia preocupar, e muito, a maioria dos egípcios, religiosos que eram. Para os egípcios esse conjunto de textos era considerado como obra do deus Thoth. As fórmulas contidas nesses escritos podiam garantir ao morto uma viagem tranquila para o paraíso e, como estavam grafadas sobre um material de baixo custo, permitiam que qualquer pessoa tivesse acesso a uma terra bem-aventurada, o que antes só estava ao alcance do rei e da nobreza. Em verdade, essa compilação de textos era intitulada pelos egípcios de Capítulos do Sair à Luz ou Fórmulas para Voltar à Luz (Reu nu pert em hru), o que por si só já indica o espírito que presidia a reunião dos escritos, ainda que desordenados. Era objetivo desse compêndio, nos ensina o historiador Maurice Crouzet, fornecer ao defunto todas as indicações necessárias para triunfar das inúmeras armadilhas materiais ou espirituais que o esperavam na rota do "ocidente".

O Livro dos Mortos não era um "livro" no sentido da palavra. A atual ideia de livro sugere a existência de um autor (ou autores) que propositadamente redige um texto com um princípio, meio e fim. Em vez disso, os textos que integram o que hoje se denomina por Livro dos Mortos não foram escritos por um único autor nem são todos da mesma época histórica. Um dos escritores mais conhecido por colaborar com uma parte desse livro foi Snefferus S. Karnak. Os antigos egípcios denominavam a esta coletânea de textos como Prt m hru , o que pode ser traduzido como "A Manifestação do Dia" ou "A Manifestação da Luz". A atual designação Livro dos Mortos é disputada entre duas origens:
  1. ao título dado aos textos pelo egiptólogo alemão Karl Richard Lepsius quando os publicou, em 1842 - Das Todtenbuch der Ägypter (Todtenbuch, Livro dos Mortos).
  2. o título possa ser oriundo do nome que os profanadores dos túmulos davam aos papiros que encontravam junto às múmias - em árabe, Kitab al-Mayitun (Livro do Defunto).


Estrutura
As edições modernas do Livro dos Mortos são compostas por cerca 200 "capítulos", nome que os egiptólogos dão às fórmulas encontradas nos papiros preservados ao longo dos séculos. Nenhum dos papiros conhecidos apresenta o mesmo número de capítulos e de ilustrações (vinhetas). Entre os mais conhecidos, encontra-se o Papiro de Ani, com um total de 24 m, que se acha atualmente no British Museum, em Londres.


Formação
O Livro dos Mortos data da época do Império Novo, período da história do Antigo Egito que se inicia por volta de 1580 aC e termina em 1160 aC. A obra recolhe textos mais antigos - do Livro das Pirâmides (Império Antigo) e do Livro dos Sarcófagos (Império Médio).

No Império Antigo foram gravadas várias fórmulas mágicas sobre os muros dos corredores e das câmaras funerárias das pirâmides de Saqqara, pertencentes a vários reis da V e da VI dinastias (Unas, Teti, Pepi I, Merenré e Pepi II). Estes textos são conhecidos como Textos das Pirâmides. Nesta altura a possibilidade de uma vida depois da morte era apenas acessível aos reis.

A partir da VII dinastia egípcia verifica-se uma "democratização" da possibilidade de ascender a uma vida no Além. Esta não será mais reservada apenas ao soberano, mas será também possível para os nobres e os altos funcionários, e progressivamente estender-se a toda população. Durante o Império Médio os textos usados pelos reis foram modificados, ao mesmo tempo que surgiram novos textos que mantinham a sua função de ajudar o morto no caminho do Além. Os textos passaram a ser escritos no interior dos sarcófagos (na madeira) dos nobres e dos funcionários, sendo por isso conhecidos como Textos dos Sarcófagos.

Durante o Império Novo reuniram-se textos funerários de períodos anteriores (Textos das Pirâmides e Textos dos Sarcófagos), ao mesmo tempo que se redigiram novos textos, escritos em rolos de papiro e colocados junto das múmias nos túmulos. A coletânea destes textos é hoje conhecida como Livro dos Mortos.

Existem algumas versões locais do Livro dos Mortos, que apresentam pequenas diferenças:
  • A chamada "recensão tebana", escrita em hieróglifos (e mais tarde em hierático) sobre papiro, encontra-se dividida em capítulos sem uma ordem determinada, embora a maioria deles possua um título. Esta versão foi utilizada entre a XVII e a XXI dinastia egípcia não apenas pelos faraós, mas também pelas pessoas comuns.
  • Na "recensão Saíta", usada a partir da XXVI dinastia (século VII a.C.) e até o fim da era ptolomaica, fixou-se de forma definitiva a ordem dos capítulos.

Fonte: Wikipédia

sábado, 11 de setembro de 2010

Mitologia

Mitologia egípcia ou religião egípcia refere-se às divindades, mitos e práticas cultuais dos habitantes do Antigo Egito. Não existiu propriamente uma "religião" egípcia, pois as crenças ,frequentemente diferentes de região para região, não era a parte mais importante, mas sim o culto aos deuses, que eram considerados os donos legítimos do solo do Egito, terra que tinham governado no passado distante.

As fontes para o estudo da mitologia e religião egípcia são variadas, desde templos, pirâmides, estátuas, túmulos até textos. Em relação às fontes escritas, os egípcios não deixaram obras que sistematizassem de forma clara e organizada as suas crenças. Em geral os investigadores modernos centram-se no seu estudo em três obras principais:

O Livro das Pirâmides é uma compilação de fórmulas mágicas e hinos cujo objetivo é proteger o faraó e garantir a sua sobrevivência no Além. Os textos encontram-se escritos sobre os muros dos corredores das câmaras funerárias da pirâmide de Saqqara. Do ponto de vista cronológico, situam-se na época da V e VI dinastias.

O Livro dos Sarcófagos uma recolha de textos escritos em caracteres hieróglifo/hieroglíficos cursivos no interior de sarcófagos de madeira da época do Império Médio, tinham também como função ajudar os mortos no outro mundo.

O Livro dos Mortosque inclui os textos das obras anteriores, para além de textos originais, data do Império Novo. Esta obra era escrita em rolos de papiro pelos escribas e vendida às pessoas para ser colocada nos túmulos.

Outras fontes escritas são os textos dos autores gregos e romanos, como os relatos de Heródoto (século V aC) e Plutarco (século I).

As várias divindades egípcias existentes caracterizavam-se pela sua capacidade em estar em vários locais ao mesmo tempo e de sobreviver a ataques. A maioria delas era benevolente, com exceção de algumas divindades com personalidade mais ambivalente como as deusas Sekhet e Mut.


Um deus poderia também assumir várias formas e possuir outros nomes. O exemplo mais claro é o da divindade solar Rá que era conhecido como Kepra, representado como um escaravelho, quando era o sol da manhã. Recebia o nome de Atom enquanto sol do entardecer, sendo visto como velho e curvado, um deus esperado pelos mortos, que se aquecem com os seus raios. Durante o dia, Rá anda pela Terra como um falcão. Estes três aspectos e outros 72 são invocados numa ladainha sempre na entrada dos túmulos reais.



Estas divindades eram agrupadas de várias maneiras, como em grupos:
  • nove deuses (as Enéades),
  • oito deuses (as Ogdóades),
  • três deuses (tríades).
A principal Enéade era a da cidade de Heliópolis presidida pela divindade solar Rá.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Serpente Apófis

Na sua passagem pelo reino das sombras, à noite, o deus-Sol enfrentava vários adversários, dentre os quais os mais perigosos eram as serpentes. O demônio líder de todos eles era a grande serpente Apófis (em egípcio Apep ou Aapep). Não existem evidências da existência dessa divindade antes do Império Médio (c. 2040 a 1640 aC), mas posteriormente, nos textos funerários, ela é normalmente descrita como uma longa serpente e às vezes se diz que é dotada de espiras firmemente comprimidas, como se fosse uma mola, para enfatizar seu enorme tamanho. Alguns textos a descrevem como tendo mais de 16 m de comprimento, com a primeira seção de seu corpo feito de pederneira. Ela era uma das serpentes que habitava o Nilo celeste e surgia do fundo das águas para atacar o deus-Sol e fazer sua barca soçobrar. Consequentemente, era uma constante ameaça à própria estabilidade do cosmos.

Nas ilustrações Apófis normalmente é mostrado sendo contido, desmembrado ou no processo de ser destruído, frequentemente por meio de inúmeras facas. Na tumba de Ramsés VI (c. 1151 a 1136 aC), no Vale dos Reis, o monstro aparece com 12 cabeças sobre seu dorso, representando aqueles que ele engoliu e que são libertados, embora que apenas por breves momentos, quando ele é derrotado. Depois que o barco de Rá consegue passar pela cobra, as cabeças estão destinadas a voltar para dentro do corpo do monstro, até serem libertadas novamente, só por um breve instante, na noite seguinte.

Existem ainda cenas de caráter diferente estampadas em tumbas e papiros funerários nas quais Rá ou Hátor se apresentam sob a forma de felinos para matar a serpente, cortando-a com uma faca. Em algumas cenas dos templos de Dendera, Deir el-Bahari, Luxor e Philae a serpente também é retratada simbolicamente. Nesses casos o faraó golpeia um objeto circular semelhante a uma bola, que representa o olho mau de Apófis.

Deus do mal, era associado a vários eventos naturais assustadores como:
  1. a escuridão inexplicavel de um eclipse solar,
  2. tempestades e
  3. terremotos.
O ataque desse monstro ao deus-Sol acontecia, segundo os relatos egípcios, a cada manhã, quando a barca solar estava prestes a emergir para a luz e, então, os aterradores rugidos da fera ecoavam na escuridão. Os artifícios que a serpente usava para impedir a passagem do barco eram as próprias ondulações do seu corpo, que são descritas como bancos de areia, ou ainda beber as águas do rio do mundo subterrâneo para fazer com que o barco de Rá encalhasse. A hipnose também é uma de suas armas, pois em algumas versões do mito Apófis hipnotiza Rá e todo o séquito que viaja com ele.

Embora Seth também seja um deus do mal, nesse caso ele atua como divindade protetora e, em alguns textos, se diz que foi o proprio Rá que o convocou para derrotar a serpente. O papel original de Seth era batalhar contra Apófis e impedi-lo de destruir a embarcação. Resistindo inclusive ao olhar fixo mortal da serpente e não se deixando hipnotizar, Seth finalmente derrota o gigantesco animal quando, da proa do barco solar, o trespassa com uma grande lança. Ocasionalmente a entidade malévola teria sucesso e o mundo seria mergulhado em trevas, idéia que pode querer refletir a ocorrência de um eclipse solar. Mas mesmo nesses casos o deus Seth e seu companheiro Mehen, outra deidade em forma de serpente, sairiam vencedores, pois fariam um buraco na barriga de Apófis para permitir que o barco solar escapasse.

Ouras narrativas contam que os companheiros de viagem de Rá e até mesmo os próprios mortos, que podiam se transformar em uma forma do deus Shu, eram envolvidos nesta batalha cíclica para a sobrevivência da criação e da ordem. Principalmente no Livro das Portas – uma narração sobre a viagem do deus-Sol pelo mundo noturno surgida no começo da XIX dinastia (c. 1307 a 1196 aC), Ísis, Neith e Selkis, juntamente com outras deidades secundárias e ajudadas por algumas espécies de macacos, capturam o monstro com redes mágicas. A seguir ele é dominado por deidades, entre as quais se inclue o deus de terra Geb e os filhos de Hórus, as quais cortam seu corpo em pedaços. A cada noite, porém, ele será revivido para atacar mais uma vez. Em outros relatos do mito, o deus-Sol é cercado ou engolido pela serpente que mais tarde o vomita, numa clara metáfora de renascimento e renovação.

Apófis não era uma divindade para ser adorada. Muito pelo contrário, ele foi incluído em vários cultos como um deus ou demônio contra o qual as pessoas deveriam estar protegidas. Assim sendo, foram produzidos vários textos mágicos e rituais para combater os efeitos dele no mundo. Existe um conjunto de textos conhecidos hoje em dia como o Livro de Apófis – uma coleção desses feitiços mágicos que datam do Império Novo (c. 1550 a 1070 aC), embora o exemplar melhor preservado, conhecido como o Papiro de Bremner-Rhind, atualmente de posse do Museu Britânico de Londres, tenha sido produzido no IV século aC. São fórmulas destinadas a derrotar o monstro, fornecendo proteção contra os seus poderes maléficos e também contra as cobras, vistas como manifestações perigosas da deidade, ainda que secundárias.

Os egípcios acreditavam que Apófis comandava um exército de demônios que infestavam o gênero humano e que só tendo fé nos deuses de luz as pessoas poderiam derrotar tal contingente. Ele era uma serpente gigantesta que já existia no começo dos tempos nas águas do caos primevo, antes da criação. Seu poder era tão grande que continuaria existindo num perene circulo vicioso de ataque, derrota e novo ataque. Por conta desse entendimento, anualmente os sacerdotes de Rá executavam um ritual denominado o Banimento de Apófis. Diante de uma efígie do demônio colocada no centro do templo eles rezavam para que toda a maldade no Egito entrasse na imagem. Então eles pisoteavam a efígie, quebravam-na, batiam-lhe com paus, despejavam lama sobre ela e, eventualmente, queimavam-na e a destruiam. Deste modo, acreditavam, o poder de Apófis seria afastado por mais um ano.

No período tardio (c. 712 a 332 aC), os textos mágicos de defesa eram lidos diariamente nos templos para proteger o mundo da ameaça do arqui-inimigo do deus-Sol. Associado à leitura havia todo um ritual durante o qual os sacerdotes cortavam em pedaços e queimavam um exemplar de cera da serpente. Outros rituais consistiam em desenhar na cor verde uma imagem da serpente em um pedaço virgem de papiro, o qual era então lacrado em uma caixa que era posta de lado durante determinado período antes de ser lançada ao fogo. Como o defunto também precisava ser protegido de Apófis, na tumba eram colocados vários rolos de papiro contendo fórmulas para trazer o monstro para o local da execução, onde ele seria cortado, esmagado e consumido pelo fogo. Essa também chamada serpente do renascimento recebeu, durante o Período Romano (30 aC a 395), o epíteto de aquele que foi cuspido e foi relacionado com a saliva da deusa Neith.


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O faraó Merenptah

Merenptah ou Merneptah foi o quarto faraó da XIX dinastia egípcia do Império Novo. O nome Merenptah significa "Amado de Ptah". Governou entre 1213 e 1203 aC, segundo o egiptólogo alemão Jürgen von Beckerath.

Merenptah foi o 13º filho do faraó Ramsés II e de uma das suas esposas, a rainha Isitnefert. Tornou-se rei devido à morte prematura dos seus irmãos mais velhos, que deveriam suceder o pai; tinha já uma idade avançada (talvez cerca de 60 anos) quando ascendeu ao trono.

No 5º ano do seu reinado os Povos do Mar, vindos da Anatólia, invadiram a Líbia. Este povo foi responsável por ali introduzir as armas de bronze; junto com os Líbios, os Povos do Mar pretendiam invadir o Egito. Merenptah não só abortou esta invasão, como também os derrotou numa batalha que se julga teve lugar na região ocidental do Delta do Nilo.

No ato de generosidade, o faraó forneceu cereais aos Hititas (antigos inimigos do Egito) durante um período de fome motivado por mudanças climáticas na área do Mediterrâneo. Realizou também campanhas militares na Palestina contra as cidades de Ascalon, Gezer e Yenoham, com o objetivo de manter a dominação egípcia sobre aquele território.

  • Uma estela no seu templo funerário, que descreve as suas vitórias sobre os Líbios e as cidades da Palestina, faz referência ao nome "Israel", naquela que é a mais antiga menção não bíblica a este nome (que deve ser entendido em referência a uma tribo e não a um país). Em parte por causa disto divulgou-se a ideia de que Merenptah seria o "faraó do Êxodo", mas nada sustenta esta teoria.

Não existem provas arqueológicas ou históricas que sustentem a história do Êxodo ou a ideia da escravatura de um povo semita no Egito.

Uma vez que o seu reinado foi curto, Merenptah não teve possibilidade de levar a cabo um vasto programa de obras. No entanto, salienta-se as obras no templo de Ptah em Mênfis (onde também construiu um palácio), bem como o seu templo funerário em Tebas, construído por detrás dos Colossos de Memnon e recorrendo aos materiais do templo funerário de Amen-hotep III.


Sarcófago de Merenptah do Vale dos Reis


Merenptah foi sepultado na tumba número 8 do Vale dos Reis (KV8), uma das maiores desta necrópole. A sua múmia não foi descoberta neste túmulo, mas no "esconderijo" do túmulo de Amen-hotep II.


Fonte: Wikipédia

domingo, 29 de agosto de 2010

A Ama

Após o nascimento da criança, entra em cena – a ama. Em muitos casos a própria mãe amamentava o filho, mas a ama a assistia para resolver os problemas que surgissem.

A primeira questão era dar nome à criança, que recebia dois nomes:
  1. utilizado diariamente
  2. que definia o seu ser autêntico e secreto (nome dado pela sua mãe e revelado à criança caso esta se mostrasse digna)
Os nomes dos egípcios e das egípcias eram extremamente variados, e especialistas na matéria redigiram abundantes repertórios. A mãe pode dar ao filho o nome de "o Sírio", "o Núbio", mesmo que não seja originário dessas regiões; mas porque considera que sua existência estará relacionada com elas; também escolhe "a Bela", "o Guardador de pássaros"... o fato de atribuir um nome implica um dom de vidência praticado quer pela mãe, quer por uma mulher consultada. Cada nome tem um sentido preciso, que orienta a existência do seu portador.


A importância da ama
Várias tiveram um importante papel na corte egípcia. Tiyi – esposa do dignatário Ay, futuro faraó, e que deu o seio a Nefertiti e educou-a. Chamava "Grande ama" àquela que amamenta um futuro rei. Dispondo de um servo, a ama real tem ainda a possibilidade de mandar escavar um belo túmulo.

Satré, ama da rainha Faraó Hatchepsut, teve o grande privilégio de ver sua estátua colocada no interior do templo de Deir el-Bahari.

Datados da época baixa, determinados contratos especificam que, em troca de honorários, a ama se comprometia a amamentar a criança ou a tratar dela durante um período bem determinado. Também exercia uma função médica e tratava em particular da incontinência urinária da criança, fazendo-a absorver pílulas compostas de parcelas de pedra fervida ou de um líquido à base de cana. O pior para uma ama era não ter leite, ela dispunha de um remédio eficaz contra este inconveniente: ungir as costas com um unguento a base da espinha dorsal de um peixe, o lates niloticus, cozida em azeite.

Como as crianças tinham que ser amamentadas durante pelo menos 3 anos, segundo as prescrições médicas, o trabalho não faltava às amas, sendo mais bem pagas do que certos terapeutas.

Considerado como "o líquido que cura", o leite era examinado com atenção, devia ter o cheiro das plantas aromáticas ou de farinha de alfarroba. A longa duração da amamentação explica a inexistência de raquitismo nos esqueletos das crianças egípcias. O leite podia ser recolhido em recipientes de barro em forma de mulheres apertando os seios e com uma criança no colo.

Tratar os seios das amas era uma tarefa essencial, destinada a evitar pruridos, sangrias e supurações. Os médicos utilizavam produtos à base de cana, fibras vegetais, pistilos e estames de junco.


Leite para o faraó
Em uma estela da XVIII dinastia vemos uma mulher de peruca, sentada numa cadeira de espaldar baixo, dando o seio a uma criança, provavelmente um rapaz, deitado em seu colo. Diante dela, uma das suas filhas despeja água num recipiente, praticando um rito de purificação. Atrás, uma segunda filha traz flores de lótus. As 3 crianças celebram a memória da sua falecida mãe, e esta cerimônia de amamentação tem de exepcional o fato de se desenrolar no ouro mundo, onde a mulher, para sempre viva, continua a exercer a sua função de nutriente.

O leite dá vida, poder e uma longa existência. Hórus conseguiu reconquistar a sua antiga realeza porque foi amamentado por Ísis. Desde a época do Texto das Pirâmides, o mais antigo corpus sagrado, a amamentação faz parte dos ritos de coroação do faraó, que graças a ela volta a ser vivo, reconhecendo a capacidade de exercer as funções reais.

A amamentação implica mais do que a absorção de uma beberagem eterna, é mais do o gesto de uma proteção mágica ou de um simples rito de adoção... Trata-se de uma espécie de iniciação. A alcançar a sua nova dignidade, o Faraó entra no mundo dos deuses. (Jean Leclant)

Fonte: 'As egípcias' de Christian Jacq

sábado, 28 de agosto de 2010

A batalha de Megido

Uma aliança de cidades cananéias era liderada pelo rei de Cades no Orontes e o rei de Megido. A fim de reprimi-los Thutmose III (imagem ao lado em Karnak) marchou com seu exército em dez dias de sua fortaleza da fronteira Sileh de Gaza, a principal fortaleza egípcia em Canaã. Depois de outros onze dias chegaram a Yaham, onde realizou um conselho de guerra. Sabia que os cananeus tinham-se concentrado com suas forças perto de Megido para o qual existem três vias de acesso:

  1. norte
  2. sul
  3. central através de Aruna, menos facilmente defensáveis.
Os generais sabiam sobre a rota Aruna que estava sendo bloqueado pelas forças dos cananeus e aconselhou o faraó a tomar Yokneam ou rota Taanakh.

"Agora, dois (outros) as estradas estão aqui. Uma das estradas (eis que é [a leste de] nós, assim que ele sai na Taanakh. O outro (eis que é para o lado norte da Djefti, e nós vamos sair para o norte de Megiddo. Vamos continuar nosso Senhor vitorioso sobre a [eles], que é satisfatório [a] seu coração, (mas) não nos fazem ir nessa estrada difícil! " Inscrição do Templo Amon em Karnak - JB Pritchard antigos textos do Oriente, 1969: p. 234.

Tutmés rejeitou os argumentos de seus generais, estabelecidos na rota Aruna, atingiu o rio ao sul de Megido Qinah sem qualquer oposição.

Foi então que a disposição das forças cananéias ficou clara. Um contingente de soldados guardavam a estrada do sul de Taanakh. Os carros estavam concentrados em torno de Megiddo, aguardando as forças egípcias para atacar os soldados. Os egípcios os perseguindo iria quebrar o franco e poderiam ser atacados pelos cananeus cavaleiros escondidos.

Eis que Sua Majestade veio adiante, juntamente com seu exército vitorioso e que encheram o vale; deixar nosso vitorioso Senhor escutai-nos desta vez, e vamos aguardar o nosso Senhor para nós a retaguarda de seu exército e seu povo. Quando a traseira do exército veio direto para nós, então vamos lutar contra esses asiáticos e não teremos nenhum problema sobre a retaguarda do nosso exército.

A conquista de Megiddo e seus habitantes foi vital, e caiu após um cerco de sete meses. Todos os príncipes de todos os países do norte são colocados dentro dele. A captura de Megido é a captura de mil cidades.

As forças rebeldes dispersas, incluindo os reis de Megido e Kadesh, conseguiram reorganizar-se dentro da cidade, e ajudaram aos que tinham ficado fora a subir a muralha. Os egípcios, entretenidos saqueando o acampamento rebelde, perderam a oportunidade de uma rápida conquista vendo-se obrigados a sitiar Megido durante sete meses, depois dos quais a cidade foi rendida, ainda que o rei de Kadesh escapou. O botim conseguido pelos egípcios ficou anotado em Karnak:

  • 340 prisioneiros vivos e 83 mãos
  • 2.041 éguas, 191 potros, 6 sementales
  • uma carroça trabalhada em ouro, sua vara de ouro, deste vil inimigo; uma formosa carroça trabalhada em ouro do príncipe de Megido
  • 892 carroças de seu miserável exército ao todo, 924 carroças
  • uma formosa armadura de bronze pertencente ao príncipe de Megido, 200 armaduras de seu vil exército,
  • 502 arcos,
  • 7 varas de madeira do inimigo, trabalhadas em prata
  • 1.929 cabeças de ganhado grandes,
  • 2.000 de ganhado pequeno, 20.500 ovelhas.
(Posteriormente em Yenoam, Nuges, Herenkeru e outras cidades rendidas nesta mesma campanha tomar-se-ia mais botim, incluindo reféns e escravos).

Seguindo o costume da época, Tutmosis III tomou como reféns os filhos da cada um dos reis derrotados. Após ser educados na corte egípcia, foram devolvidos a seus lugares de origem, onde governaram com o consentimento do Egito.

A vitória de Megido foi só o começo da pacificação de Canaã e Síria. A esta batalha seguiriam uma série de campanhas, com periodicidade quase anual, que suporiam a expansão do poder do Egito até o norte de Mesopotamia.

Tutmés levou muitas campanhas mais em Canaã, e oito anos após a batalha de Megiddo tomou Kadesh no Orontes. Após a conquista do Retenu, ele construiu uma grande frota naval, que foi fundamental em sua extensão e influência egípcia sobre grande parte do litoral do Oriente Próximo. Seu exército poderia chegar a qualquer cidade costeira na Síria por via marítima, em 4-5 dias, enquanto a pé, a viagem iria demorar mais de uma quinzena. Surpresa foi uma importante arma em seu arsenal.


Fonte: Wikipédia ; Wikilingue e reshafim.org.il

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tutmés I e Tutmés II

Tutmés I
Terceiro rei da XVIII dinastia egípcia, sucessor de Amen-hotep I. Teve um reinado de treze anos, ficando conhecido por ter concedido ao Egito um grande poderio militar. Suas origens familiares não são claras. Para alguns especialistas, ele seria filho do rei Amen-hotep I e de uma concubina de nome Semiseneb. Habitualmente considera-se que a sua legitimação como rei advém do fato de ter casado com Ahmose, filha do rei Ahmés e da rainha Ahmés-Nefertari e irmã de Amen-hotep I. Uma vez que Amen-hotep I não tinha gerado um sucessor quando morreu, Tutmés virou rei devido ao seu casamento com a irmã do falecido monarca, o que demonstraria a importância da mulher na dinastia real. Da união entre Tutmés e Ahmose resultaram dois filhos e duas filhas. Uma das suas filhas foi Hatchepsut, que mais tarde se tornaria soberana do Egito.
  • Tutmés foi enterrado no Vale dos Reis.


Tutmés II
Quarto rei da XVIII dinastia egípcia. O historiador Maneton atribui-lhe um reinado de treze anos, mas este valor é discutido por alguns egiptólogos, que consideram mais provável ter reinado três anos. Deixou poucas inscrições nos monumentos e é pouco referido nas autobiografias da época do Império Novo. Filho de Tutmés I e de uma esposa secundária, Mutnefert. Assim sendo ocupava uma posição relativamente inferior à da sua meia-irmã Hatchepsut, que era filha de Tutmés I com a sua esposa principal. Para reforçar a sua legitimidade real, Tutmés II casou com Hatchepsut, que se julga um pouco mais velha que ele.

– Teve com Hatchepsut duas filhas as princesas:
  1. Neferure e
  2. Neferubiti.
– Com a sua esposa secundária, Ísis:
  1. o futuro Tutmósis III, que declarou seu herdeiro antes da sua morte.
Vários documentos referem-se às suas campanhas militares, mas alguns investigadores duvidam que o próprio tenha liderado em pessoa essas campanhas; em vez disso estas teriam sido protagonizadas pelos seus generais. No ano 1 do seu reinado esmagou uma revolta na Núbia, que terá levado ao fim do reino de Kush. Conhece-se também uma campanha contra beduínos do sul da Palestina. Há quem sugira que devido à fraca saúde de Tutmés a sua esposa Hatchepsut pode ter sido a verdadeira soberana durante este período. Isto também explicaria o fato de Tutmés II ter nomeado o seu filho como sucessor antes de morrer, talvez para impedir o avanço da sua esposa como monarca do Egito.
  • A sua múmia foi encontrada em 1881 em Deir el-Bahari, mas não se conhece ao certo o seu túmulo (que se julga estar no Vale dos Reis).

Fonte: Wikipédia

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Cruzeiro pelo Nilo

O Nilo, coluna vertebral do território egípcio, foi a principal via de comunicação na época faraônica. Uma forma diferente de ver o país, do Cairo até a Núbia, consiste em utilizar o meio de transporte de que já se serviam os antigos egípcios: o barco. Quer se viaje em luxuosos cruzeiros, em ferrys quer nas típicas falucas, a paisagem é sempre fascinante.

Uma vez no Egito, o ponto de partida da viagem é o Cairo. Em um dos braços do rio adaptados para fazer o percurso inicia-se um cruzeiro que termina em Assuã, depois de subir o Nilo. Durante a viagem, vale a pena fazer algumas paradas para visitar certos lugares interessantes próximos às margens ou, simplesmente, para desfrutar a paisagem.


O Baixo Egito
À medida que o barco penetra no país, o Nilo se parece cada vez mais com o rio de 5000 anos atrás. Os homens compartilham a água com os animais, e a vegetação das margens atrai uma multidão de espécies. É fácil ver ibis, pássaros sagrados para os antigos egípcios, e até poucos anos atrás, o Nilo ainda contava com a presença de outro animal sagrado, mas muito perigoso – o crocodilo. Entrando no Médio Egito, pode parar em Beni Hassan. No local onde o barco atraca, deve-se tomar um transporte terrestre para chegar a um interessante conjunto de túmulos do Médio Império. Da cobertura do barco, pode se ver o conjunto de Gizé, tal como se avistaria do cais do templo chamado Vale.

De regresso ao barco, na margem oposta, podem visitar-se os restos da antiga Hermópolis Magna, ou ainda parte de um templo da Época Ptolomaica dedicada ao deus Tot. Mais para o sul fica Tuna el-Guebel, com túmulos de personagens da época greco-romana e de íbis e babuínos mumificados. Muito próximo encontra-se uma estela que marcava o limite da cidade de Akhenaton ou Tell el-Amarna, onde se faz uma paragem. Entre os locais mais interessantes para visitar encontra-se Abidos, com o templo de Set I dedicado a Osíris; os seus baixos-relevos estão muito bem conservados e no seu interior pode ver-se uma das listas reais mais famosas, com os nomes dos faraós esculpidos numa das suas paredes. Antes de chegar a Luxor, o barco para em Dendera, onde se visita um templo da época greco-romana dedicado a Hathor. Embora em processo de reconstrução, oferece uma ideia bastante precisa de como era um templo egípcio. A partir da açotéia, onde existem várias capelas, desfruta-se de uma vista magnífica de todo o complexo. É curioso observar que o lago sagrado, antes com água, ainda conserva a umidade e permite o crescimento de plantas no seu interior. O pôr-do-sol contemplado da açotéia do templo de Dendera é um espetáculo mágico.


Tebas, e a margem oriental
A atual cidade de Luxor está construída sobre parte da antiga Tebas, uma das capitais do Egito faraônico. Na margem oriental do Nilo, encontram-se os principais edifícios de culto:
  • o complexo sagrado de Karnak e a 3 km, o de Luxor.
A grandiosidade de Karnak pode ser apreciada logo que o barco atraca no cais, de onde se avista a avenida de esfinges que conduz ao interior. As suas salas, com autênticos bosques de colunas e os seus baixos-relevos revelam o que se quer dizer quando se fala de uma obra "faraônica". O trajeto até Luxor pode ser feito de carro, o que permite desfrutar de um passeio pela avenida marginal do Nilo. O templo, com um interessante espetáculo noturno de luz e som, surpreende pela sua grandiosidade e pela presença de uma mesquita no seu interior.


Tebas, a margem ocidental
Dedicada a outros templos e a diversos edifícios funerários. Saindo do cais, de ônibus, taxi, bicicleta ou mesmo em lombo de burro, chega-se a Deir el-Bahari, onde se encontram os templos funerários de Mentuhotep II e de Hatchepsut. Do outro lado da montanha na qual estes templos estão escavados encontra-se o Vale dos Reis. O túmulo de Tutâncamon e o de outros faraós menos populares merecem uma visita. Um pouco mais longe, em Deir el-Medina, ficam os túmulos do Vale dos Nobres, não tão conhecidos mas muito bem conservados. O túmulo de Nefertari, no Vale das Rainhas, é um belo exemplo de túmulo real. E se os templos de Karnak e Luxor são majestosos, os de Medinet Habu e Ramsés não deixam a desejar, sendo visita quase obrigatória, sem esquecer os famosos colossos de Memnon.


Viagem ao sul
A caminho de Assuã vemos alguns dos templos mais espetaculares de todo o Egito. O primeiro é o de Esna, do qual só se conserva a sala hipostila, construída na época do imperador Claudio. À medida que se avança para o sul, o calor é mais sufocante e a vegetação que cresce nas margens do rio torna-se mais espessa. O conjunto dedicado ao deus-falcão Hórus em Edfu conservou-se em muito bom estado por ter ficado praticamente coberto pela areia até o início do século XX. Este templo segue as diretrizes dos templos ptolomaicos, com pilones na entrada, pátio com estátuas de falcões a seguir e finalmente, o templo propriamente dito. Um pouco mais ao sul fica o templo de Kom Ombo, dedicado ao deus crocodilo Sobek, animal sagrado do qual se podem ver algumas múmias, e ao deus-falcão, Haroéris. Esta é a última paragem antes de chegar a Assuã. Aqui a população é heterogênea e caracteriza-se pela sua afabilidade. Um passeio de falua ao entardecer pode ser um dos momentos mais idílicos do cruzeiro. Numa dessas embarcacões, chega-se ao templo de Filae, transferido para a ilha de Agilkia devido à construção da barragem de Assuã. Nesse local, último reduto da escultura faraônica, pode-se visitar o templo ptolomaico de Ísis e o seu nilômetro. Para chegar a Abu-Simbel, é necessário fazer uma excursão de ônibus ou um pequeno percurso de avião. Apesa da elevadas temperaturas da região, os templos que aqui se podem visitar são a joia de ouro do cruzeiro pelo Nilo.



imagem do bolg Khan el Khalili-Egypt



Fonte: Egitomania, o fascinante mundo do antigo Egito - fascículos 2001

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Grandiosidade de Abu-Simbel

Em um local situado às margens do Nilo, na Baixa Núbia, atualmente conhecido pelo nome árabe de Abu-Simbel, ergue-se duas das mais grandiosas construções da história do Egito faraônico.





Os dois templos que Ramsés II mandou construir em Abu-Simbel são dois hipogeus escavados na rocha. O modelo utilizado na sua construção seguiu a planta típica dos templos do Novo Império, embora adaptada à topografia do local, uma montanha, e à natureza do material escavado, a rocha. Aproveitando duas antigas grutas dedicadas as divindades locais, ampliou-se a cavidade interior e criaram-se as diferentes salas. Não foi só a aparência do lugar que se alterou: os deuses antigos também foram substituídos por alguma das mais destacadas divindades do panteão egípcio – Rá-Harakhte e Hathor, com os quais se identificavam o faraó e sua esposa favorita, Nefertari.

O interior dos dois templos articula-se ao longo de um eixo longitudinal, que termina no santuário ou capela dedicado, no templo maior, a Ptah, Amon-Rá, Ramsés divinizado e Rá-Harakhte. No Pequeno Templo, o faraó aparece ao lado de Hathor, identificada com sua esposa. Depois de se passar a ombreira, entra-se na primeira sala hipostila, dividida em três naves por duas fileiras de pilares. No Grande Templo, estes pilares são de tipo osiríaco: encostado em cada um deles, há um colosso de rei representado como Osíris mumificado. No Pequeno, os pilares são hathóricos – um baixo relevo na frente do pilar que dá para a nave central representa a deusa sob a forma de cabo de sistro, instrumento musical parecido com uma matraca. Quanto ao resto, as plantas das duas salas são diferentes. O templo maior apresenta uma segunda sala hipostila menor, antes de se chegar à câmara que antecede o santuário, e um maior número de salas secundárias laterais. A decoração interior dos dois templos evoca as batalhas que Ramsés II travou, rituais religiosos e cenas da vida cotidiana do casal real. Esta obra magnífica foi construída para glorificar o poder do faraó, finalidade plenamente cumprida, tal como atestam as imponentes fachadas.

  • Esta monumentabilidade foi preservada em 1964 quando, devido à construção da barragem de Assuã, os templos foram desmontados, cortados em blocos e transferidos para 65 m acima do seu local original.


O Grande Templo
Quatro grandes estátuas do faraó sentado, com quase 21 m de altura, em grupos de duas, presidem à fachada do templo. Nelas, o faraó aparece com a coroa dupla do Alto e do Baixo Egito. Das quatro, a mais bem conservada é a da extrema esquerda. Sob a entrada do templo, abriu-se uma cavidade, em que se colocou uma estátua de Rá-Harakhte empunhando os outros dois símbolos que compõem um dos nomes do faraó: uma figura de Maat e um cetro de user.

O Pequeno Templo
A fachada oriental do templo dedicado a Hathor e a Nefertari consta de seis estátuas com 10 m de altura. Quatro representam o faraó e duas a esposa Nefertari, que obteve a rara honra de as suas estátuas serem do mesmo tamanho das do faraó. Esculpidas no interior de nichos, as esculturas têm a perna esquerda mais à frente e, ao lado de cada uma, estão representados príncipes e princesas. A rainha identificada com a deusa Hathor, ostenta uma coroa com o disco solar entre os chifres de uma vaca sobrepostos a duas penas. A imagem atual do novo local do templo fala-nos de um meticuloso trabalho de conservação.

A descoberta
A exploração de Abu-Simbel começou em 1813, quando o historiador suíço Johann Ludwig Burckhardt, ao visitar o então já visível templo de Hathor-Nefertari, se afastou alguns metros e descobriu o busto de um colosso que emergia de um monte de areia. A partir desse momento, o lendário e colossal templo de Abu-Simbel tornou-se uma realidade. Poucos anos depois, em 1815, Giovanni Belzoni libertou-o parcialmente da sua prisão de areia e encontrou uma porta de acesso ao interior.

A conservação natural
A grande quantidade de areia que o tempo e o vento do norte acumularam na fachada, bloqueando a entrada, permitiu a conservação dos objetos e pinturas que se encontravam no interior. As paredes, com cenas da vida de Ramsés II, os pilares osiríacos, com os magníficos colossos do faraó, e o teto com os seus variados temas revelaram as suas cores vivas em que a areia foi retirada.

A adaptação da planta
Salvo ligeiras variações, o modelo de planta seguido quando se erigia um templo era o utilizado no Templo de Khonsu, em Karnak. Em contrapartida, tanto no Grande Templo, dedicado a Ramsés II e a Rá-Harakhte, como no Pequeno Templo, dedicado a Nefertari e a Hathor, esta estrutura teve de ser adaptada ao meio físico em que se encontrava. O pilone que franqueava a entrada foi substituído pela fachada esculpida na encosta da montanha e pelas suas diferentes estátuas em alto-relevo. Apesar da ausência de peristilo, mantiveram-se: a sala hipostila, a câmara que antecede o santuário, a capela e várias salas que serviam de armazéns.

Marcas do mundo atual
Os esforços da comunidade científica para preservar este templo, patrimônio cultural da humanidade, deram os seus frutos quando se evitou que desaparecesse sob as águas da barragem de Assuã. No entanto, não foi possível evitar o efeito dos flashes das câmaras dos turistas. Os restauradores também não conseguiram evitar os efeitos das mudanças de temperatura naturais nem os resultantes da presença massiva de visitantes. Um dos resultados mais visíveis dessa deterioração gradual é a perda de vivacidade das cores das pinturas que cobrem os pilares, as estátuas e as paredes.


Fonte: Egitomania, o fascinante mundo do antigo Egito - fascículos 2001


* Ver também: Templo de Abu Simbel

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Música e instrumentos musicais

"Nada mais insípido, monótomo, insignificante" que a música local, escrevia o francês Eugène Gellion-Danglar em 1867, numa de suas Lettres d'Egypte (Cartas do Egito). Para o autor, essa música não passava de uma "mistura confusa e indecisa". Os sons "fundem-se uns nos outros", o ritmo é quase sempre o mesmo, e "tudo isso não forma nenhuma espécie de harmonia".

Na Europa, ouvir um concerto é um ato silencioso. No Egito, a falta de reação do auditório seria tomada como desinteresse. Boa música suscita emoção no público, provoca tarab, um prazer próximo ao êxtase.



Os artistas que surgem nesse período, na corte quedival, são acompanhados por pequenas orquestras, com instrumentos tradicionais:
  • ud – alaúde de braço curto e sonoridade grave
  • qanun – espécie de citara em forma de trapézio, que é posta deitada numa mesa ou no colo
  • rababa – viola com uma ou duas cordas, cuja caixa feita de coco recebe uma membrana de couro
  • flauta nay – pedaço de bambu com 6 furos
  • arghul – clarinete duplo

Alguns desses instrumentos lembram os representados em baixos-relevos faraônicos. Mas daí a falar de uma música nacional, milenar, que teria atravessado os séculos! Vestígios dessa música subsistem nas tradições rurais do Alto Egito e na liturgia copta, mas as harpas e as liras antigas desapareceram. Já o Egito árabe foi marcado por influências turcas e persas.

O disco surgiu às vésperas da Primeira Guerra Mundial. À música folclórica, tocada por desconhecidos, e à música "erudita" reservada à corte quedival, somou-se a canção ligeira, com letras ousadas, quando não maliciosas, a taqtuqa. Paralelamente, o surgimento de salas de espetáculos incentivou compositores em evidência, como Sayed Darwish, a criar óperas de coloração nacionalista, muito apreciadas pelo público.

Na década de 1930 houve nova mudança com o aparecimento do filme musical e dos gigantes da canção egípcia moderna. Apesar de ser filho de um modesto muezim e ter começado salmodiando o Corão, Mohammed Abdel Wahab (1897-1991) sofreu influências ocidentais e as impôs no Cairo graças a um imenso talento.

A canção egípcia impôs-se então em todo o mundo árabe, "do Oceano ao Golfo". Os monstros sagrados dessa época atuaram como protagonistas em filmes musicais. Mas novas influências ocidentais originaram uma dance music local, com órgãos, guitarras elétricas, percussões e sintetizadores. Mais curtas e menos elaboradas, canções "para os jovens" apareceram em eco ao rai magrebino. Ao mesmo tempo, nos subúrbios e nos bairros modestos das grandes cidades nascia uma música chaabi (popular). Mesclando o rural e o urbano, com intérpretes de voz potente e inflexão irreverente, muitas vezes provocante, desagradava aos ouvidos mais delicados.

A música egípcia nunca foi tão diversificada quanto é hoje. Os religiosos sufistas continuam responsáveis pela música em ocasiões importantes (casamentos, circuncisões, enterros, muleds), nas quais costumam salmodiar a meia voz suratas do Corão ou recitar admiravelmente os 99 nomes de Deus.

A música tradicional tem seu lugar assegurado. Vários grupos, bem sucedidos em suas respectivas regiões, ganharam notoriedade nacional e até internacional. Depois do trompete, do saxofone e do acordeão, outros instrumentos ocidentais foram incluídos nas orquestras. Mas ainda é ao ritmo da darabuka (ou tabla) que se faz música popular. Trata-se de um vaso de terracota em forma de funil, sobre o qual se estica um pedaço de couro de cabra a ser percutido com as pontas dos dedos depois de colocar o instrumento debaixo do braço ou entre as coxas. Mesmo sem a darabuka, qualquer grupo de jovens espontaneamente começa a cantar e a bater palmas em substituição àquele instrumento.



Fonte: 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Saqia

No Egito, a água não cai do céu. É preciso ir buscá-la no Nilo por meio de todo um sistema de canais e elevá-la quando está num nível muito baixo. As máquinas elevatórias são parte do campo egípcio há milênios.


Parafuso de Arquimedes
Usado para uma pequena profundidade. Cilindro de madeira, encaixado num eixo de ferro acionado por uma manivela. A cada volta, mergulha no canal, recolhe água e impulsiona para uma vala de escoamento, no alto.





Chaduf
Usado se o desnível ultrapassar um metro. Dispositivo simples, já existente na época faraônica. Consiste numa longa vara, um balde e um contrapeso. Para mergulhá-lo na água, basta puxar a corda, e o dispositivo se ergue sozinho graças ao contrapeso. Dois ou três chadufs superpostos podem somar seus efeitos.





Saqia
Indispensável para alturas superiores a três ou quatro metros. É a noria, conhecida desde a época romana. Com os olhos vedados, um ou dois animais fazem girar uma roda horizontal a que estão atrelados, essa roda com engrenagens faz girar uma roda vertical munida de potes que recolhem a água e, ao subir, despejam na vala de escoamento. Meio hectare pode ser irrigado em 24 horas. Os animaais são trocados periodicamente. Uma pessoa, muitas vezes um idoso ou uma criança, dá perfeitamente conta de trocar o animal, vigiar os potes, as cordas e as peças de madeira. Na falta desse vigia, o felá garante o funcionamento, graças a um cantil que bate na roda a cada giro.

Os gemidos da saqia inspiraram muitos poetas. Há pouco tempo, ela ainda servia também de quadrante solar, com o auxílio de estacas plantadas no chão: ao deslocar-se no círculo, a sombra indicava a hora. As saqias estão em extinção. Depois de 20 séculos de bons serviços, essas máquinas elevatórias já se tornaram metálicas, mas continuam escasseando. Se tornaram menos necessárias desde que as águas do Nilo foram regularizadas pela barragem de Assuã. Além disso, existem as barulhentas bombas a motor para fazer o trabalho delas.


Fonte: 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé – fotos: uni-kassel.de

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Estudiosos de Napoleão


Vinte volumes de textos, 1000 pranchas admiráveis, foi o que restou de mais concreto e positivo da Expedição Francesa comandada por Napoleão Bonaparte. Obra prima editorial, Description de l'Egypte imortalizou a impressionante aventura vivida por cerca de 160 civis, "estudiosos" e artistas que acompanharam o Exército do Oriente de julho de 1798 a setembro de 1801.

O empreendimento de Napoleão foi, antes de mais nada, uma expedição militar, destinada a tomar o Egito dos ingleses. Poucos anos depois da Revolução, a França, que se arvorava em defensora dos direitos humanos, não se podia permitir empreender uma operação colonial pura e simples:


  • tratava-se de uma expedição "civilizatória", não para ocupar o Egito, mas para "libertar os egípcios da tirania dos mamelucos" e levar-lhes a "Ilustração". Era também uma expedição científica, para descobrir um país fascinante.
O próprio Napoleão considerava-se um erudito, um estudioso. O general mais glorioso da República fez se eleger no Institut de France para a vaga de Carnot. Nada o deixava mais orgulhoso do que pertencer a essa assembléia de eruditos fundada em 1795 e composta por 5 Academias:
  1. Francesa
  2. Inscrições e Belas Artes
  3. Ciências
  4. Belas Artes
  5. Ciências Morais e Políticas
No Cairo, Napoleão criou o Instituto do Egito inspirado nesse modelo.

Uma nova expedição liderada por Napoleão foi anunciada, e houve uma grande disputa para tomar parte dela. Engenheiros, naturalistas, astrônomos, geógrafos, médicos e artistas candidataram-se e conseguiram incorporar-se ao empreendimento napoleônico. A média de idade era de 25 anos. Napoleão pediu a seus colaboradores que reunissem uma biblioteca de várias centenas de livros, material tipográfico para imprimir em 3 línguas, um laboratório de física, química, observatório, e equipamento completo de aerostação.

Os primeiros passos da terra dos faraós foram difíceis para todos, mas após a vitória das Pirâmides e a entrada de Napoleão no Cairo, a Comissão começou a trabalhar. Criado em 22 de agosto de 1798, o Instituto do Egito ocupou várias casas confortáveis, abandonadas por mamelucos. Compunha-se de 36 membros, divididos em várias áreas:
  • matemática, física, economia política, literatura e belas artes.
O primeiro presidente foi Monge e a vice-presidência coube a Napoleão.

O Egito de 1798 assemelhava-se antes a um país medieval, adormecido há séculos. A tipografia, que permitia a Napoleão imprimir comunicados e panfletos de propaganda em árabe, fascinava os figurões egípcios. Estes nem sempre manifestavam a curiosidade esperada pelos franceses. Ficavam indiferentes às experiências químicas e aerostáticas, por exemplo.

Dois jovens ex-alunos da Escola Politécnica, Prosper Jollois e Edouard Devilliers du Terrage, fizeram pranchas soberbas. Antes deles, os vestígios do Egito Antigo nunca tinham sido produzidos com tamanha precisão. Copiaram centenas de hieróglifos sem compreender seu significado. Depois do fracasso da campanha na Síria, voltaram clandestinamente com Napoleão para o Egito e continuaram seu trabalho. Mediram a pirâmide de Quéops, determiram a localização exata de Mênfis. O projeto de um livro que reunisse todos os estudos realizados no Egito foi lançado oficialmente.

A permanência dos franceses no Egito estava com os dias contados por causa de uma ofensiva militar conjunta, otomana e britânica. O ingleses queriam confiscar todos os objetos e documentos que estavam em poder deles. Geoffroy Saint-Hilaire enfurecido ameaçou então queimar tudo, dizendo aos ingleses que eles seriam responsáveis pelo segundo incêndio de uma Biblioteca de Alexandria. E estes acabaram levando só as peças mais volumosas, entre elas a Pedra de Roseta.

Pouco depois do retorno à França, formou-se uma comissão para preparar, com financiamento do governo, o grande livro no qual seriam publicados todos os estudos feitos na terra dos faraós – Description de l'Egypte. Para execução do projeto, aperfeiçoou-se a fabricação do papel velino e recorreu-se à criatividade de Nicolas Santé, inventor de um tipo de lápis fantástico, como se vira no Vale do Nilo. Aplicou-se também novos métodos na impressão das pranchas.

A obra começou a ser publicada em 1809. Dividida em 3 partes:
  1. Antiguidade
  2. Egito Moderno e
  3. História Natural
Tratava de todos os temas, dos monumentos aos insetos. O mapa do Egito era de tal precisão que Napoleão proibiu provisoriamente sua publicação por questões de segurança.

Os estudiosos e os artistas de Napoleão tomaram os templos por palácios. Sua formação acadêmica impediu-os de adotar sem reservas as linhas egípcias. Mas, sem dúvida, trata-se de uma obra colossal e admirável. Até então nenhum outro país tinha sido objeto de um estudo tão completo e minucioso. A Description pode ser considerada o ato percursor da egiptologia fundada por Champollion alguns anos depois, com a decifração dos hieróglifos.




Fonte: 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé

domingo, 15 de agosto de 2010

Deserto

Visto do alto, o Egito aparece em toda a sua simplicidade, uma estreita fita verde, que vai do sul ao norte, entre duas imensas extensões de areia. Um país concentrado em torno de seu rio e protegido do exterior por vastos desertos. Esta disposição singular explica uma tentação permanente – a da auto suficiência. O deserto era menos árido há 3 000 anos, até o Novo Império, lá caçavam-se leões.

O Vale do Nilo não estava menos cercado, encerrado, estrangulado por um mundo hostil. Era a terra "vermelha", encarnada pelo temível Seth, contra a terra "negra" de Osíris, sua vítima. No deserto imaginavam animais assustadores e fantásticos. Outros bem reais, confundiam-se com deuses:
  1. Anúbis com cabeça de cão,
  2. Hórus falcão,
  3. Sekhmet a leoa

O deserto não é algo isolado, deixa sua marca em todo o vale.

Mesmo fora do oásis, o deserto egípcio é povoado de animais (cobras, lagartos, chacais, águias, gaviões, falcões, etc). Nele se encontram mosteiros, fortalezas romanas, ruínas de templos ptolomaicos, necrópoles antigas. Se no passado eram extraídos ouro e pórfiro, hoje há exploração de ferro, petróleo, gás, manganês e fosfatos.

O objetivo é conquistar o deserto e ampliar a superfície cultivável e habitável. Frutas e legumes já crescem ali graças a perfurações profundas e a uma irrigação gota a gota. A famosa estrada do deserto, criada pela companhia de petróleo Shell na década de 1930 para ligar Alexandria ao Cairo, mudou de natureza. Virou uma verdadeira auto-estrada, ladeada de arbustos, cujas ramificações levam a outras cidades.




Ver solidões passarem umas após as outras, prestar atenção ao silêncio e nada ouvir, nem um canto de pássaro, nem um zunido de moscas, porque não há nada vivo em lugar nenhum. (Le Désert, 1895 - Pierre Loti)




Fonte: 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé

sábado, 14 de agosto de 2010

Gastronomia

Egito Antigo
Carne
Consumida em quantidade, principalmente a do boi. O assim chamado boi africano é um animal com chifres avantajados, de grandes proporções e rápido no caminhar. Esse animal era submetido a um regime de engorda que o tornava enorme e pesado, até o ponto de ficar impossibilitado de andar. Só então estava pronto para o abate. Ao que parece, a carne era servida geralmente cozida, provavelmente em molho, mas havia alguns tipos de carne que eram assadas no espeto. Entretanto, a carne era uma comida de luxo para a maioria das pessoas, que talvez só a consumissem em ocasiões especiais como, por exemplo, nos banquetes funerários. Pedaços de carne são representados frequentemente nos túmulos em estelas, ou compondo o conjunto de produtos dispostos nas mesas de oferendas como eterno alimento para o falecido.

Aves
Uma vez que a galinha só foi introduzida no Egito tardiamente, criava-se e consumia-se outros tipos de aves em grande escala. Em papiros que registram donativos aos templos, as quantidades de aves citadas são impressionantes. Um deles menciona 126 mil e 200 aves, dentre as quais 57 mil e 810 pombos. A caça, portanto, era uma atividade bastante cultivada pelos egípcios. Os galináceos eram consumidos grelhados, de preferência. Entretanto, Heródoto nos conta — e os documentos confirmam a informação — que os egípcios comiam crus as codornizes, os patos e alguns pequenos pássaros que tinham o cuidado de salgar antes. Todos os pássaros restantes eram comidos assados ou cozidos. As aves aquáticas eram abertas e postas a secar. Os templos as recebiam vivas, secas ou ainda preparadas para consumo a curto prazo.

Peixe
Embora em algumas localidades egípcias fosse proibido consumir certas espécies de peixe em datas específicas, a maior parte da população comia peixe normalmente. Por sua vez, os habitantes da região do Delta e os que moravam às margens do lago Fayum eram pescadores por profissão. Quanto aos peixes, Heródoto informa que alguns eram comidos crus e secos ao sol ou postos em salmoura. Entretanto, várias outras espécies eram comidas assadas ou cozidas. Uma vez pescados, os peixes eram estendidos no solo, abertos e postos a secar. Visando a preparação do escabeche, eram separadas as ovas dos mugens. Mais uma vez um papiro cita a quantidade de peixes doados a três templos: 441 mil. Os templos recebiam não apenas peixes frescos, mas também secos. Como se vê, a pesca era outra atividade importante.

Legumes
Rabanetes, cebolas e alhos fazem parte da dieta egípcia, sendo que estes últimos eram muito apreciados. Melancias, melões e pepinos aparecem representados com freqüência nas pinturas dos túmulos, sendo que neles os arqueólogos também encontraram favas, ervilhas e grãos de bico. Nas hortas domésticas cultivava-se a alface, a qual os egípcios acreditavam que tornava os homens apaixonados e as mulheres fecundas e, assim, consumiam-na em grande quantidade, crua e temperada com sal e azeite. Min, o deus da fecundidade, tem às vezes sua estátua erguida no meio de um quadrado de alfaces, sua verdura preferida. Seth, segundo nos conta a lenda, era outro deus apreciador de alface.

Frutas
Com relação aos frutos, consumiam uvas, figos e tâmaras, sendo que estas últimas também eram empregadas em medicamentos. A romeira, a oliveira e a macieira foram introduzidas no Egito somente por volta de 1640 aC. O azeite era utilizado não apenas na alimentação, mas também para iluminação. Frutos como laranjas, limões, bananas, peras, pêssegos e cerejas não eram conhecidos dos antigos egípcios, sendo que os três últimos só passaram a ser consumidos na época romana.

Outros
O leite era recolhido em vasos ovais de cerâmica tampados com um punhado de ervas, evitando-se fechar totalmente a
abertura, para afastar os insetos do líquido. O sal era utilizado na cozinha e em medicamentos. O papel do açúcar era desempenhado pelo mel e pelos grãos de alfarroba. Embora o mel e a cera de abelha fossem buscados no deserto por homens especializados nesse ofício, também havia criação de abelhas no exterior das residências. Para a formação das colméias colocavam-se jarras de cerâmica e os apicultores caminhavam sem proteção por entre os insetos, afastando-os com as mãos nuas para recolher os favos. O mel era mantido em grandes tigelas de pedra, seladas. Em suas iguarias os egípcios empregavam ainda manteiga ou nata e gordura de pato ou de vitelo.

Pães e bolos
Eram preparados nas casas das pessoas ricas e também nos templos, o que incluía a moagem dos grãos. É possível, entretanto, que moleiros e padeiros independentes trabalhassem para atender as pessoas humildes. A panificação era um trabalho conjunto de homens e mulheres.

Bebida
A número um dos egípcios era a cerveja, consumida em todo o país, tanto nas cidades como nos campos. Era feita com cevada ou trigo e tâmaras e sorvida em taças de pedra, faiança ou metal, de preferência em curto espaço de tempo, pois azedava com facilidade. O vinho, sem dúvida, ficava em segundo lugar na preferência etílica dos egípcios, havendo grande comércio do produto. Eles apreciavam o vinho doce, de uma doçura que ultrapassasse a do mel.

Os egípcios alimentavam-se sentados, a sós ou acompanhados, diante de uma mesinha sobre a qual eram postas as provisões. Os rapazes sentavam-se sobre almofadas ou esteiras. Pela manhã não havia a reunião da família para a refeição. O marido e a esposa eram servidos em separado. Ele, tão logo se aprontara e ela ainda quando a penteavam ou logo após. Pão, cerveja, uma coxa de galináceo e um bolo era um bom repasto para o esposo.

– A relação das grandes refeições compreendia:
  • carnes, galináceos, legumes e frutos da estação, pães e bolos, tudo bem regado com cerveja.
Não é de todo certo que os egípcios, mesmo os da classe rica, comessem carne a todas as refeições. Só podiam mandar abater um boi aqueles que estavam certos de o consumir em três ou quatro dias, isto é, os grandes proprietários que tinham um pessoal numeroso, o pessoal do templo, os que davam um festim. As pessoas humildes só o faziam para festas e peregrinações.

Os arqueólogos, em suas escavações, encontraram pratos, terrinas, travessas, cálices, facas, colheres e garfos, o que abre a possibilidade para o consumo de sopas, purês, pratos guarnecidos acompanhados de molho, compotas e cremes. As baixelas dos ricos eram de pedra: granito, xisto, alabastro e uma certa espécie de mármore. As taças de formato pequeno eram de cristal. Por outro lado, o material pictórico deixado pelos egípcios mostra que, à mesa, eles se serviam muito dos dedos (comia-se com as mãos).

Fonte: curiosidades egipcias



Mais recente
A gastronomia não é o forte do Egito. Sua cozinha, frequentemente inspirada em tradições vizinhas (turca ou sírio-libanesa) carece de diversidade e de imaginação. Na verdade, distingue-se pelos excessos. O abuso de samna (espécie de manteiga derretida) torna os pratos demasiado gordurosos. Um dos pratos mais populares, vendido nas ruas:

  • kochari – mistura indigesta de arroz, macarrão, lentilha e cebola frita, tudo regado com molho de tomate e muito temperado.

Com os legumes recheados, a história é outra. Os egípcios são exímios na arte de embalar recheios em pimentões, berinjelas e folhas de parreira.
  • Bamya – pequeno chifre grego, às vezes cozido com carne de carneiro, mas sempre acompanhado de molho e arroz com aletria.

A iguaria do rei é a molokheya. Num primeiro momento, o prato pode surpreender, mas um paladar treinado sabe apreciar suas qualidades. Há um modo especial de picar as folhas de juta comestíveis, que são a base do prato. As folhas são acrescentadas por último a um caldo feito com dentes de alho, coentro seco triturado e manteiga. Essa sopa verde é acompanhada de arroz, carne ou frango, vinagre e pão seco, mas não de qualquer jeito: cada conviva dispõe os ingredientes no prato à sua maneira, segundo um rito pessoal. Comer a molokheya assemelha-se a uma liturgia. O califa fatímida Al-Hakim (996-1021), para quem uma loucura a mais ou a menos não fazia diferença, tinha proibido esse prato.


Sobremesas


É preciso citar o om ali – folhas de massa cozida, mergulhadas em leite com açúcar, pistaches, amêndoas e nozes. A combinação é saborosa. Há um creme com leite aromatizado, bem mais leve, a mehallabeya.





Carne
Comer carne todos os dias é um luxo. Muitas aldeias do Alto Egito nem possuem açougue. Alimentar-se bem continua a ser um privilégio, e metade das famílias gasta mais de 3/4 de sua renda com alimentação. Na classe média, um homem não se sentiria de fato casado, se chegasse em casa e não encontrasse o ensopado cotidiano. "O caminho mais curto para o coração de um homem passa pelo estômago", afirma um ditado que as esposas levam a sério.

  • A obesidade se generaliza de maneira assustadora na população, que abusa não só dos alimentos feculosos e da gordura, mas também do açúcar, quase um objeto de culto. Qualificar alguém de sokkar (açúcar), assal (mel) ou charbatt (xarope, sorvete) é uma forma de elogiar suas qualidades ou sua beleza.

Sementes
Não se pode falar em gastronomia egípcia sem mencionar tassali (divertimentos) e, principalmente, esse esporte nacional que é o consumo de lebb. Nada é mais propício ao devaneio que essas sementes de melancia ou de abóbora (apelidadas de "morenas" e "brancas") secas ao sol, assadas no forno e salgadas. Colocamos a ponta entre os incisivos e, com uma dentada, rachamos a semente, para recolher a amêndoa com a língua. A casca é discretamente cuspida na mão, quando prevalecem as boas maneiras.

Fonte: 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé

Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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