sábado, 7 de agosto de 2010

Retratos do Fayum

O ar sério ou espantado, o olhar intenso sobre o espectador... A imagem dos retratos do Fayum não nos abandona facilmente. As obras tem essa designação, "do Fayum" porque a maioria delas foi descoberta no fim do século XIX no imenso oásias situado a sudoeste do Cairo. Na verdade, as centenas de peças dispersas pelos museus do mundo provem de todo o Egito.


Os retrados de Fayum correspondem ao encontro de 3 culturas, e civilizações:
  1. egípcia
  2. grega e
  3. romana
Destinados às múmias, segundo a tradição funerária do Egito Antigo, foram pintados por artistas de formação grega, entre os séculos I e III, quando o país se tornou uma província romana.

Costumava-se pintar retrato do defunto no seu corpo mumificado, acima do rosto. Esse retrado podia ter dois suportes diferentes:
  • uma estreita placa de madeira, presa por duas tiras;
  • uma peça de linho, cujas extremidades eram costuradas.
Em certos casos, pintavam diretamente sobre o tecido que envolvia a múmia.

Os artistas usavam a encáustica, usando seus pigmentos à cera de abelha. Às recorriam à têmpera, usando materias solúveis em água, como a goma-arábica ou a resina. Entre os retratos encontrados até hoje (mais de 1 000) há verdadeiras obras-primas, feitas por anônimos.

Os antigos egípcios representavam as pessoas de perfil. Nesses retratos, os rostos estão de frente ou 3/4 de frente. Rostos jovens em sua maioria. Não se sabe se o artista remoçou e idealizou seus modelos ou se eles teriam morrido com a idade que aparentavam no retrato. De qualquer modo, há um desejo de realismo na representação, como sugere esta inscrição funerária encontrada no Egito:

Estrangeiro, olhe para este homem de muitas virtudes,
o sábio Euprépio, estimado pelos reis.
Sua filha erigiu esta estela e disse:
"Paguei aos mortos a dívida de minha educação."
Embora o pintor não tenha dado a voz à sua obra,
jurarias que ouves Euprépio,
quando os homens se aproximam de seu retrato,
são todos ouvidos como se escutassem dizer:
"Sou Euprépio..."





Com figuras de olhos grandes, fundo escuro ou pintado, e às vezes dourações, os retratos do Fayum lembram ícones bizantinos, ou melhor, antecipam-nos – são uma transição entre a arte pagã e a arte cristã.

Vemos hoje os retratos destacados das múmias. O fato de não mostrarem heróis e reis, mas desconhecidos em suas roupas do dia a dia, torna-os particularmente interessantes, o que sobressai é a humanidade desses homens e dessas mulheres.


Fonte: 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

Comentários