segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Papiro

Depois de ter desempenhado função essencial no período faraônico, o papiro desapareceu do Egito por quase 10 séculos, e foi reintroduzido na década de 1960. Voltamos então a ver essa planta aquática, de caule liso e triangular, encimada por uma umbela semelhante a um tufo de cabelo.

Na Antiguidade, o papiro era emblema do Baixo Egito. Presente sobretudo no Delta, em buquês que chegavam a atingir 6m de altura, ajudava os defuntos a atravessar as áreas pantanosas tendo em vista o renascimento:

  • os protegia contra os gênios malfazejos e
  • os animais perigosos,
conseguindo obter os favores da deusa Uadjyt com o farfalhar de suas folhas.

Os caules de papiro – serviam para a fabricação de cordas, esteiras, sandálias, cestos e barcos leves, e os resíduos davam um excelente combustível. A parte tenra dos caules era comida.

O papiro constituía um dos suportes básicos da escrita, muito antes de inventarem o pergaminho e o papel. Sua casca era retirada e depois era cortado em lâminas. Após uma imersão num banho específico, eram superpostas e entrelaçadas, em seguida prensadas para formar uma trama. Nos papiros inscreviam-se minutas de processos, contas, hinos e textos litúrgicos. Graças ao clima seco do Egito, rolos ficaram conservados até hoje. O mais longo, com 41 m, está no British Museum, em Londres.

Mas o papiro foi destronado pelos primeiros papéis inventados na China. Em seus outros usos, foi substituído pela palha, pelo cânhamo ou pelo couro. Como não tinha mais função religiosa, acabou desaparecendo da paisagem egípcia.

Por iniciativa de Hassan Ragab, ex-embaixador do Egito na China, mudas de papiro foram colhidas no Sudão a partir de 1962 para serem plantadas perto do Cairo. O diplomata, engenheiro de formação – e fundador do partido ecológico em seu país – dedicou vários anos à pesquisa do processo de fabricação dos rolos pelos antigos egípcios. "Institutos" destinados aos turistas faziam demonstrações desse processo. Voltou-se a escrever e a pintar sobre papiro, às vezes com resultados surpreendentemente belos.



Fonte: 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé


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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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