domingo, 6 de dezembro de 2009

A Arte Egípcia do Período após Amarna

Estela de Djedamuniuniankh – madeira emplastrada e pintada, altura 28 cm, Tebas ocidental (Deir el-Bahri ou Kurna), 22ª dinastia (945-712 aC)


As formas exageradas características dos primeiros anos do Período de Amarna, já haviam sido modificadas até a segunda metade do reinado de Akhenaton. Os artistas que lá trabalhavam passaram por um período inicial de experimentação, desenvolvendo uma oposição completa a tudo o que tinha sido feito antes, e chegaram à criação de um paradigma livre de tais exageros, mas que refletia as condições variáveis do novo clima social. Esse equilíbrio artístico, adquirido na época em que a experiência religiosa limitada a Aton estava a ponto de chegar ao fim, foi mantido durante os anos que seguiram a morte de Akhenaton e refletido nas delicadas características dos retratos de Tutancâmon, de reinado breve, o jovem rei foi seguido pelos governos do sacerdote Ay e do general Horemheb, que encorajavam a perseguição ao culto de Aton e até o fim da memória do próprio Akhenaton.

Apesar da destruição total dos relicários dedicados a Aton e da rejeição das doutrinas religiosas neles praticadas, várias características de Amarna persistiram. As imagens de Amon-Rá, cujo culto retomou sua importância, eram frequentemente influenciadas pelas tendências artísticas da segunda metade do reinado de Akhenaton. A sobrevivência de certas características desta arte também pode ser observada nas esculturas particulares, como faces finas, olhos amendoados, pálpebras grossas.

Seti I
Uma mudança decisiva na escultura do período foi instaurada quando uma nova dinastia, originada na região do Delta, subiu ao trono. O patriarca que era companheiro de armas e vizir de Horemheb, ascendeu ao trono do Egito com o nome de Ramsés I. Com sua morte, o poder foi passado ao seu filho Seti, que administrou uma campanha enérgica de expansão para o oriente.

Seti I também empreendeu um programa de construção impressionante em Abido, cujo objetivo era exaltar a glória dos reis que o haviam precedido no trono do Egito. Seti iniciou um processo de veneração a monarquia, que atingiria seu apogeu durante o reinado de seu filho – Ramsés II. Dentre todos os seus predecessores, Seti fazia uma referência mais particular a Tutmés III, cujos grandes empreendimentos proporcionavam grande importância a um descendente de uma família militar. A arte de seu reinado também tendia a imitar a solenidade, a sobriedade e o refinamento do início da 18ª dinastia. Aspecto esse claramente demonstrado nos relevos murais que decoram as paredes do Templo de Abidos e da maravilhosa tumba de Seti I no Vale dos Reis.

Ramsés II
Na época em que Ramsés II subiu ao trono, o Egito já havia reconquistado a segurança e a homogeneidade cultural perdidas durante o período precedente. Ramsés II supervisionava um programa de construção sem precedentes, cuja finalidade era sobretudo exaltar a figura do rei e a condição da realeza. Fora do país, iniciou uma campanha com o objetivo de reafirmar o domínio dos egípcios sobre as terras da Síria e da Palestina. A guerra travada nos territórios a nordeste das fronteiras foram concluídas com a 'Batalha de Qadesh' , disputada contra os hititas dos Muwatallis. Conflito que chegou ao fim com um tratado de paz, que ratificava o equilíbrio de poder entre os dois lados. Essa batalha foi transformada em lenda por Ramsés, para não mostrar sua derrota parcial. A história é narrada nas paredes de vários templos e nas esculturas em relevo que exaltam o valor do rei.

Nesse período, o ato de contar histórias por intermédio de imagens chegou a sua maturidade, pois as experiências de Amarna, cujo interesse era concentrado no movimento, foram aproveitadas e levaram à exploração de muitas das possibilidades narrativas dos retratos planos. A mesma força narrativa é encontrada em algumas das decorações figurativas das tumbas particulares da 19ª dinastia.

A arte do reinado de Ramsés II é composta, acima de tudo, por monumentos grandiosos e estátuas colossais. Tudo tinha que ser enorme e espetacular. Tudo tinha que surpreender e ser repleto de ornamentos e de significados. Os templos encomendados por Ramsés II apresentavam efeitos visuais e perspectivas modernas:
  • Templo de Amon-Rá em Karnak
  • Ramesseum
  • Templo em Abu Simbel
Inúmeras estátuas foram produzidas durante os 67 anos de seu reinado. Algumas delas perpetuaram a tradição iniciada por Seti I, portanto inspiradas na era de Tutmés III. Essas são onde o rei é retratado com características típicas, embora idealizadas:
  • um homem jovem
  • nariz aquilino
  • olhos com pálpebras grossas (era de Amarna)
  • boca disposta em um breve sorriso

Merneptah
O 13º filho de Ramsés – Merneptah – o sucedeu, e as suas estátuas são bem parecidas com a do pai. A 19ª dinastia, com uma série de faraós de breve reinados, foi marcada por distúrbios internos.

Ramsés III
Com a 20ª dinastia houve um retorno de estabilidade, cujos reis prestavam homenagens explícitas a Ramsés II, cujos nomes eram baseados ao do célebre predecessor. Assim Ramsés III encomendava estátuas que imitavam o estio das esculturas do início da 19ª dinastia, construiu um templo na margem oeste de Tebas, em Medinet Habu, inspirado no Ramesseum. O uso de elaborados jogos arquitetônicos foi abandonado, havia uma grandiosidade sobrecarregada, arcaíca e inanimada. As paredes do templo de Ramsés III, foram decoradas com cenas que descrevem sua vitória sobre os libaneses e o chamados "povos do mar", nômades que no final do século XIII aC, migraram para o oriente e provocaram um grande caos. Seu avanço foi detido no Delta oriental, apesar de grupos pequenos terem conseguido estabelecer em solo egípcio.

A crise enfrentada pelo Egito no término da 20ª dinastia levou a uma divisão do poder político. O norte para onde Ramsés II tinha transferido o centro administrativo e político do estado, permaneceu sob o domínio dos faraós da 21ª dinastia. O Sul declarou independência e passou para as mãos dos sacerdotes de Amon-Rá em Tebas, a quem reconheciam nominalmente a autoridade do norte. O reino do norte parece viver das recordações gloriosas do passado, demonstrado pelo planejamento de Tânis, a nova capital fundada no Delta oriental, que imitava abertamente o estilo de Tebas. Também transferiram o cemitério real e foram sepultados em tumbas de tijolo dentro do templo principal de Tânis. A forte conexão com a pompa do passado recente também é exibida pelas várias mobílias encontradas nos esconderijos funerários reais de Tânis.

Sheshonk I – faraós libaneses
Os faraós da 22ª dinastia eram de origem libanesa e reavivaram uma política de expansão para o leste. Sheshonk I (945-924 aC), o fundador da nova dinastia, conseguiu unir o poder secular e religioso sobre o Egito inteiro. Durante seu reinado e de seus sucessores, a arte era ainda dominada pelo passado, a Era de Tutmés III também foi escolhida por esse faraó e também pelo estilo sóbrio de Hatchepsut.

O período entre o final da 21ª e o início da 22ª dinastia foi caracterizado por várias mudanças nos costumes funerários, por causa de roubos constantes às tumbas. A prática de preparar túmulos decorados e suntuosos havia sido há muito tempo abandonado em Tebas. No mesmo período o 'Livro dos Mortos' foi unificado e transformou-se em uma parte indispensável das mobílias funerárias.

Piankhi – faraós núbios
Para os reis das dinastias libanesas, as referências ao passado eram uma forma de associar-se com as glórias de períodos anteriores. Os novos mestres do Egito vieram do reino de Cux (núbios do Sudão do norte). Eles sentiam a necessidade de serem aceitos pelos povos locais, como os verdadeiros sucessores da tradição faraônica. O rei Piankhi o primeiro governante cuxita a ter sucesso em estender sua influência sobre grande parte do Egito, comemorou sua marcha vitoriosa até Mênfis com uma estela escrita com palavras que imitam claramente os modelos do Médio Império.

Durante o decorrer da 25ª dinastia, depois de um intervalo de 300 anos, os mais importantes oficiais do Estado começaram novamente a preparar tumbas decoradas de tamanho descomunal. A procura por algo que recordasse o passado mas ao mesmo tempo parecesse incomum, era a essência do gosto pela antiguidade que caracterizou a 25ª dinastia.

Origem: 'Tesouros do Egito' do Museu Egípcio do Cairo

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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