quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A viagem ao Ponto


O deus Amon falou ao coração de sua filha Hatchepsut e ordenou-lhe que aumentasse a quantidade de unguentos destinados às divinas carnes e que os fosse buscar muito longe, na "terra do deus", no Ponto. A exigência:

– Instalar o Ponto no interior do seu templo, plantar as árvores do país do deus de ambos os lados do seu santuário, no seu jardim.

Onde fica o ponto? Aparentemente situa-se em algum lugar nas costas da Somália. Mas o Ponto pertence sobretudo à geografia simbólica do Antigo Egito; as expedições a essa região, atestadas ao longo das dinastias, destinam-se a trazer aos templos substâncias odoríferas indispensáveis às práticas rituais. A viagem ao Ponto é uma busca dos perfumes e das essências sutis.
Essa viagem revestia-se de tamanha importância que Hatchepsut mandou gravar os seus episódios no templo de Deir el-Bahari.


  • Senenmut supervisionou a intendência;
  • Tuty superior da Casa de Ouro e da Prata, deu o seu aval e forneceu os meios materiais;
  • Nehesi portador do selo real, foi encarregado de comandar o corpo expedicionário, que contava 210 homens.
Os 5 barcos necessários foram reunidos no porto de Kosseir e rumaram em direção à costa ocidental do Mar Vermelho.

Os textos não nos descrevem o itinerário, limitando a relatar que os marinheiros chegaram ao Ponto depois de uma boa viagem, para esse efeito haviam levado um grupo de estátuas representando Amon e Hatchepsut, graças ao qual todos os perigos haviam sido afastados.



________O Ponto__________
Quando Nehesi descobriu o Ponto, ficou encantado com a grandiosa paisagem: palmeiras, coqueiros, árvores de incenso. Os moradores do Ponto viviam em cabanas construídas sobre estacas, às quais subiam por uma escada, e pareciam pacíficos. Nehesi tomou precauções elementares: apresentou-se acompanhado de uma pequena escolta, na verdade muito pouco ameaçadora, uma vez que os soldados egípcios traziam presentes como colares, pulseiras, contas e vitualhas.

O acolhimento foi caloroso, a família reinante do Ponto e os dignatários inclinaram-se diante dos enviados de Hatchepsut. Vacas, burros e macacos assistiam ao espetáculo. Pa-Rahu, o rei de Ponto, usava uma tanga e tinha um porte digno. Como a maior parte de seus compatriotas, tinha uma barba pontiaguda. Sua esposa, Ity era gorda, obesa, inchada, disforme, sofria de uma penosa enfermidade, tinha 2 filhos e uma filha.

Os "grandes do Ponto" não ocultaram o seu espanto de como os egípcios conseguiram chegar àquela terra, cuja localização os homens desconheciam. Tinham passado pelos caminhos celestes, haviam chegado por mar ou por terra? As narrativas não contém vestígios de explicações geográficas.

Montaram um pavilhão e fizeram um banquete. O cardápio era de carnes, legumes, frutas, vinho e cerveja. Os habitantes do Ponto veneravam Amon, que vinha visitar Hathor, a soberana daquele maravilhoso país. As oferendas trazidas pelos marinheiros egípcios eram destinadas à deusa.

Terminados os festejos, foi preciso pensar no regresso. Os homens de Nehesi carregaram mirra, marfim, madeiras preciosas, antimônio, peles de pantera, sacos de gomas aromáticas, sacos de couro, bumerangues e árvores de incenso cujas raízes haviam sido cuidadosamente embrulhadas em redes úmidas. E também levaram para bordo macacos e cães, que certamente encontraram excelentes donos no Egito.

No centro da aldeia do Ponto foi erguida a estátua que representava Hatchepsut e Amon; o grande deus de Tebas estaria assim, para sempre, junto de Hathor, soberana da terra das árvores do incenso.
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Ao chegaram em Tebas foram recebidos com uma festa; a população havia se reunido, dançando e cantando. Nehesi foi condecorado com 4 colares em honra pelos seus bons e leais serviços. Mas o essencial eram as árvores de incenso e as riquezas de Ponto. Registraram por escrito a lista dos produtos e Hatchepsut, em pessoa, mediu o olíbano fresco com um alqueire de ouro fino. Pegando um pouco de bálsamo, passou pela pele, e o maravilhoso odor espalhou-se pelo corpo da rainha faraó, sua dourada pele pareceu ouro puro, e toda ela resplandeceu como uma estrela. Ouro, âmbar, prata, lápis-lazúli e malaquita foram pesados e oferecidos a Amon.

Hatchepsut plantou com suas próprias mãos as árvores do incenso, cujo odor encheria as salas do templo de Deir el-Bahari. O que Amon ordenara fora feito, o fabuloso país do Ponto estaria ali, no santuário de milhões de anos de Hatchepsut.

Fonte: 'As Egípcias' de Christian Jacq

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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