terça-feira, 21 de abril de 2009

A fabricação do papiro



O Historiador Plínio, o Velho, deixou-nos a descrição de uma planta que crescia no Egito e que tinha múltiplas utilizações, desde a fabricação de móveis, barcos, cestos ou sandálias até a alimentação. No entanto, o seu uso mais comum era como material de base para escrita. É evidente que se referia ao papiro.




Uma das paisagens típicas do Egito, sobretudo do Delta, eram os pântanos e os charcos. Ali crescia o papiro, uma planta que enchia o pântano de cor e atraía muitos animais. Tornou-se rapidamente o símbolo do Baixo Egito e passou a constar nas figurações da união entre os dois países. Nos túmulos abundam cenas de caça e pesca que mostram paisagens com plantas de papiro. Estas cenas tanto evocavam o ócio a que o morto aspirava no Além, como os perigos dos pântanos e de sua fauna, que deviam ser evitadas. Geralmente, a planta de papiro era usada para produzir o material no qual se escrevia. Os produtos mais finos eram elaborados com a parte de dentro da casca, ao passo que com a parte de fora se faziam outros produtos de uso mais genérico. As raízes da planta, rizomas, aproveitam-se como combustível.

O nome papiro significa o faraônico ou pertencente ao rei, e refere-se ao fato de o faraó deter o monopólio da sua produção e venda, fonte de grandes receitas para os cofres do reino. Além disso, como material para escrever, era utilizado pelos burocratas do reino.

As margens do Nilo proliferavam os campos de papiro assim como uma vegetação exuberante. Estas regiões eram habitadas por uma grande quantidade de animais. Muitas aves migratórias faziam seus ninhos entre os papiros ao lado de outras espécies nativas, atraindo outros animais. Diversas cenas de caça e de pesca que aparecem nos túmulos desenrolam-se nestes locais. Desde o Antigo Império, nas mastabas dos nobres, aparecem baixos relevos com charcos e regiões de papiro, com toda a flora e fauna típicas.

A planta de papiro, podia chegar a 3 m, tem folhas filiformes, o seu caule é coroado por uma espécie de cápsula, chamada umbela. Durante as diferentes fases de crescimento, a umbela assume vários formatos. Na maior parte das representações, sobretudo em amuletos e relevos, a umbela é representada aberta, embora alguns capitéis de colunas dos templos aparece fechada. Floresce no verão. Sua extinção no Egito talvez se deva à exagerada exploração que sofreu.

O utilizador de papiro mais popular era a elaboração, sob a forma de folhas, de material para escrever. Desde os primeiros tempos faraônicos que os escribaas usavam as folhas de papiro enroladas, formando rolos, para anotar, em hierático ou demótico, todos os escritos. Aproveitavam a parte em que as folhas ficavam na horizontal, evitando assim que o papiro se rasgasse. Muito maleável, podia conter muita informação em pouco espaço e era fácil de transportar.

A colheita do papiro – embora o papiro fosse uma planta muito abundante, e as folhas utilizadas para produzí-lo muito apreciadas, sabe-se pouquíssimo a cerca do seu cultivo ou da sua fabricação. Não há referências quanto à estação do ano indicada para o cultivo ou a colheita, embora atualmente costume ser apanhado na primavera ou no verão. Os baixos- relevos que mostram como se arrancava o talo do papiro são escassos. Nas poucas representações que chegaram até nós, vê-se como era atado para formar feixes e transferido para um local próximo. Ali se iniciava o processo de arranque da casca do talo, que, depois, era cortado em lâminas. O trabalho devia ser árduo, pois tanto o tranporte como a fabricação do papel exigiam grande esforço físico.


O papiro passo a passo
O papiro tinha que ser produzido em um local próximo ao pântano em que eram apanhadas as plantas, pois devia estar fresco para poder ser cortado. Para fabricar o material sobre o qual se escrevia, só se aproveitava, de toda a planta, o caule. Os filamentos gordurosos do caule eram postos para secar ao sol de modo a formarem lâminas. Essas tiras do caule eram coladas e prensadas, constituindo assim o rolo. Inicialmente, escrevia-se na direção indicada pelas fibras, no direito, pois, do outro lado, o verso, as fibras eram dispostas em colunas.

  1. tirava-se a casca e cortavam-se lâminas muito finas do miolo, que eram colocadas verticalmente, umas ao lado das outras
  2. acrescentavam-se outras camadas, na horizontal, sobre a primeira camada, antes que secasse, pois o suco que o papiro libertava permitia uni-las
  3. para deixar com aspecto de folha e unir muito bem todas as camadas, batia-se esse entrelaçado de tiras com um tipo de martelo e, depois, deixava-se em repouso com um peso por cima durante vários dias
  4. por fim, era alisado com uma pedra, para ficar mais fino, as margens eram cortadas para se obter uma boa apresentação. A seguir, colavam-se as folhas com uma pasta e faziam-se rolos.


O último texto escrito em papiro é um documento árabe do século XI da nossa era. Pouco a pouco, foi sendo substituído pelo pergaminho e, depois, pelo papel. No entanto, a compra de um papiro atual fabricado como na época dos faraós é um
souvenir obrigatório de uma visita ao Egito.



* Veja também: Papiro


(fonte: Egitomania – fascículos e fotos do blog letraslivroseafins)

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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