quinta-feira, 4 de junho de 2009

Saqqara

Um lugar mágico, onde sopra o espírito egípcio em toda a sua pureza. Neste planalto desértico onde o gênio da velha civilização faraônica é quase palpável. A pirâmide em degraus de Djoser e Imhotep, o recinto sagrado do complexo funerário e os monumentos que se erguem aos céus.

Saqqara fica no deserto, na orla do planalto líbio, diante de terras cultivadas e do palmar onde foram encontrados pobres restos da gloriosa Mênfis. O local escolhido por Imhotep dominava a capital de Djoser e não era muito diferente da nécropole dos faraós da 1ª e 2ª dinastias, assegurando uma espécie de continuidade espacial. Um sítio que viveu desde o mais Antigo Egito até o século III, cuja vitalidade é ainda testemunhada por algumas obras da estatuária grega.


A obra
Imhotep mandou retirar a areia e aplainar a superfície calcária. Depois abriram poços na pedra a uma profundidade de 25 m. O seu fundo foi guarnecido de granito, embora não existam pedreiras de granito nos arredores de Mênfis. A pedra de melhor qualidade encontra-se na área da primeira catarata, a 800 km de Saqqara. Os blocos foram conduzidos por barcos até a região.

Saqqara começa já com uma pirâmide em degraus, ficando no centro da superfície de 15 hectares ocupada pelo domínio funerário e também no centro do admirável ideal de Djoser. Os degraus da pirâmide são ao mesmo tempo mastabas sobrepostas e os degraus de uma escada que une o Céu e a Terra. A pirâmide tem 6 degraus desiguais que se elevam a mais de 60 m de altura. Os 4 lados da pirâmide, cada um com cerca de 62 m, estão orientados segundo os pontos cardeais. Os aposentos funerários de Djoser sob a pirâmide, há 28 m de profundidade, uma verdadeira cidade labirinto, formada pela sepultura do rei, as suas dependências, o túmulo das rainhas e dos filhos do rei, galerias, corredores e câmaras de diversos tamanhos. Uma cidade em pedra eterna. O faraó reserva dois túmulos para si: o que se encontra sob a pirâmide, o outro sob o maciço da muralha sul, a mais de 200 m da sua múmia, este túmulo imita o jazigo situado sob a pirâmide, no qual encontramos a figura de Djoser celebrando os mesmos ritos. Um dos sarcófagos era uma obra prima de marcenaria, parcialmente chapeado a ouro. Em uma sala havia uma incrível quantidade de recipientes em pedra dura:
  • 40.000 peças: em alabastros, xisto, diorito, dolerito, granito e etc...
Voltando à superfície, encontramos dois edifícios retangulares de teto abobadado:
  1. a "casa do Norte"
  2. a "casa do Sul"
Correspondentes às duas partes do Egito que desempenham um papel na celebração da festa de set para a qual foi concebida a complexa rede de monumentos situados no interior das muralhas. Ainda vemos colunas que perfiguram a coluna dórica grega, a qual só aparecerá 2000 anos depois. Uma câmara sem aberturas, apenas dois buracos abertos numa das paredes – serdab, encontra-se uma estátua extraordinária de Djoser, vestido num comprido manto ritual que deixa ver apenas as mãos e os pés, uma longa peruca coberta com um tecido pregueado, uma barba postiça, os olhos em cristal de rocha e engastados em alvéolos de cobre, desapareceram. A mão esquerda pousada na coxa, e a direita fechada sobre o peito. Atualmente uma réplica substitui o original conservado no Museu do Cairo.


Uma imensa muralha rodeava o conjunto funerário, que media 1500 m de comprimento, erguia-se a altura de 11 m. De 4 em 4 m, o ritmo da muralha era marcado por uma espécie de bastião saliente ornado por uma falsa porta de dois batentes. Este dispositivo de proteção era marcado por uma alternância de partes salientes e reentrantes que lhe davam a feição de "fachada fortificada de um palácio". Djoser deve ter querido reproduzir a famosa "muralha branca" que cercava Mênfis e cuja construção havia sido decidida por Menés. Originariamente devia ser:
  • por toda parte deparamos com bastiões, portas falsas que parecem abertas, mas na verdade estão pintadas na pedra
  • só junto do ângulo sul do lado leste da muralha, existe o único acesso, aberto numa porta monumental com 6m de altura por 1 m de largura, sem fechadura. A única passagem possível tem apenas como defesa o fato de ser estreita
É que a grande obra de Djoser não foi construída para os mortais, só a alma pode entrar através dessa fenda. Uma vez lá dentro, descobrimos uma alameda primitivamente coberta e ladeada por quarenta colunas ao longo de 54 m, o primeiro espaço coberto por pedras que se conhece. Após a passagem da porta encontramos a vertical, no eixo da entrada, as colunas. Logo em seguida uma saleta e o simulacro de uma porta aberta, desembocando no grande pátio do sul da pirâmide. No ângulo sudoeste existe uma parede encimada por um friso de serpentes enfurecidas. As uraei destinam-se a afastar as forças nocivas que poderiam alterar o destino póstumo do faraó. Nos textos gravados nas paredes das pirâmides (5ª e 6ª dinastias), o sacerdote tem o cuidado de cortar ao meio os animais – répteis e insetos perigosos – para que não ataquem o rei.

Saqqara é o lugar de uma festa, o conjunto funerário de Djoser é voltado principalmente à eterna celebração da festa sed.



Festa de sed – os deuses das províncias do Egito, representados por sacerdotes, se unem em torno da pessoa do rei para lhe darem força e vigor. Os egípcios pensavam que a energia do faraó se esgotava ao fim de alguns anos de reinado. Durante a festa o rei ascende ao trono do Alto do Egito, usando a coroa branca, e ao trono do Baixo Egito, usando a coroa vermelha.
Origem: 'O Egito dos Grandes Faraós' de Christian Jacq





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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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