O desejo desperta os sentidos. A mulher apaixonada tem o gênio da maquilagem e sabe escolher unguentos e perfumes. Peparou-se demoradamente para o seu primeiro encontro; vem ter com o seu amante com os cabelos perfumados e os braços floridos, assim se assemelhando a Hathor, a maravilhosa deusa que enche as Duas Terras com os mais suaves odores. O apaixonado deseja captar o perfume da sua bem amada, a sutil emanação que encanta a alma.
Seu coração bate mais depressa, já não sabe o que vestir, deixa de pintar os olhos e de se perfumar, perdendo todo o bom senso. Em suma, está apaixonada. O pior é quando não pode ver o amante. Os membros estão pesados, os médicos não conhecem remédio eficaz.
A minha salvação, é voltar a vê-la, que ela abra os olhos para mim e eis que estou curado. Que ela fale, e recupero todo o meu vigor.
Com uma túnica de linho fino e transparente, coberta de óleos perfumados, a jovem deixa adivinhar a perfeição do seu corpo. Entra lentamente na água, depois se despe e começa a nadar, nua divertindo-se em apanhar um peixe vermelho, que lhe foge por entre os dedos. Vem e olha para mim! recomenda ao seu bem amado. Então enlaça-o com flores de lótus e de papiro. Que bom é passear depois de barco num lago, remando preguiçosamente, incomodando os patos e saboreando frutos maduros!
Depois de terem confessado o seu desejo mútuo, os apaixonados só têm um desejo: estarem a sós no pântano, onde se caçam as aves, ou, melhor ainda, um jardim deserto. Escondem-se entre os papiros ou à sombra ainda, num jardim deserto. Escondem-se entre os papiros ou à sombra de um sicômoro plantado pela jovem em honra da deusa Hathor à qual havia pedido que lhe fizesse conhecer o amor.
A mulher amada é gratificada pelo seu amante com mil nomes meigos: "gazela", "gatinho", "andorinha", "pomba", ainda usados nas nossas sociedades, ao passo que "meu hipopótamo", "minha hiena", "minha macaca" ou "minha rã" são menos utilizados.
Beijar é estar ébrio sem ter bebido. Acaso existe felicidade mais doce do que o amor partilhado neste jardim onde falam o sicômoro, o tamarindo, a romãzeira e a figueira? Com o coração dilatado, o apaixonado satisfeito pode murmurar o canto de amor que as beldades do Egito ouviram encantadas:
Tú és a única, a bem amada, a sem igual, a mais bela do mundo, semelhante à estrela brilhante do ano novo, às portas de um bom ano, aquela cuja graça resplandece, cuja pele brilha, de claro olhar, doces lábios, longo pescoço, cabeleira de lápis-lazúli, dedos semelhantes a cálices de lótus, de ancas estreitas, de nobre andar.
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* No Novo Império foram compostos "cantos de amor", de onde foi retirado este trecho da mulher apaixonada.
* No Novo Império foram compostos "cantos de amor", de onde foi retirado este trecho da mulher apaixonada.
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Origem: 'As Egípcias' de Christian Jacq
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