Pepi II filho de Pepi I e meio irmão de Merenré, assume o poder com 6 anos de idade. Uma estátua de alabastro, de 40 cm de altura no Brooklyn Museum de Nova York, revela uma cena em que a rainha Ankhnesmerryre tem ao colo o pequeno faraó, perpendicular a ela, posição excepcional na estatuária egípcia. Estátua do monarca criança , mas o rosto já de adulto.
Reinado
Durante os primeiros anos de reinado, sua mãe dirige o país. Por ocasião de uma expedição enviada ao Sinaí, no ano 4 do reinado, mãe e filho são mencionados juntos. Época de um Egito poderoso. Mênfis é uma capital brilhante. Basta contemplar as admiráveis mastabas dos nobres, túmulos com baixos relevos encantadores ao longo da necrópole menfita, de Abusir norte e Saqqara sul. Tudo respira ordem e beleza. Os faraós da 6ª dinastia continuam mandando construir pirâmides que, embora muito menos altas que as de Quéops e de Quéfren, não deixam de ser monumentos imponentes. Essas pirâmides, todas elas com as mesmas proporções regidas pelo chamado "triângulo sagrado" comportam gigantescas pedras de abóbada de cerca de 2,5 m de espessura e que chegam a pesar 40 toneladas. Nas paredes continuam a gravar os Textos das Pirâmides, de acordo com a tradição que Unas (último rei da 5ª dinastia) começou.
Quando Pepi II estava com 8 anos de idade, o explorador Hirkhuf – homem rude e corajoso – empreendeu sua 4ª expedição à Núbia, partindo de Elefantina, descobrindo novas rotas. Traz de suas viagens:
- incensos
- marfim
- óleos raros
- peles de leopardo
- paus de arremesso
Mas naquele ano, Hirkhuf traz uma grande curiosidade: um pigmeu, que apaixona o faraó, e recebe uma carta do monarca: "A Minha Majestade, deseja ver esse anão mais do que os produtos do Sinai e do Ponto". O faraó teve grande alegria em conhecer o que é um autêntico pigmeu, que fez danças dos deuses para o soberano.
Outro herói torna-se mais célebre do que Hirkhuf, o funcionário Ani, cuja carreira foi excepcionalmente longa. Começa a ocupar cargos subalternos antes de assumir importantes funções como:
- oficial de baixa patente
- portador do selo
- camareiro
- cargo sacerdotal na cidade da pirâmide de Pepi II
- confidente do faraó
- homem de confiança, num obscuro caso do harém
- papel militar da mais alta importância, chefe de tropas
- governador dos países do sul
- especialista em transportes de material
- encarregado da administração do Alto Egito no fim de sua carreira
Os nomos e seus nomarcas
O nomo de Elefantina, onde se situa a fronteira entre o Egito e a Núbia, causa problemas a Pepi II, mas também lhe confere um estatuto especial. Um alto funcionário especialmente encarregado dos assuntos núbios dirige-o, e não o monarca. A fronteira é estreitamente vigiada. Instala-se colônias da Núbia, protegidas pelo exército. Aventureiros, comerciantes e militares sulcam a Núbia, caravanas trazem ao Egito pedras preciosas, unguentos, penas de avestruz e ébano. A Núbia é o sonho exótico do Egito, um avanço realista e razoável em direção à África negra.
Nas atividades comerciais, são estabelecidos contatos regulares com o Ponto (moderna Eritréia) e com Biblos, regiões onde se importam produtos de luxo, essências preciosas e madeiras raras particularmente apreciadas pela requintada corte.
A 250 km a oeste de Luxor, oásis como Khargeh ou Dakhleh constituem pequenos mundos fechados em si mesmos, mas não desprezíveis. Khargeh tem hoje 150 km de comprimento e uma largura que varia entre 20 a 40 km. Em Balat, no oásis de Dakhleh, onde o Instituto Francês de Arqueologia Oriental acaba de fazer escavações, descobriram túmulos datados da 6ª dinastia. Havia ali um homem importante chamado Medu-Nefer – governador, capitão e alto dignatário do clero. Seu túmulo foi encontrado inviolado, porque sua superestrutura havia ruído. Continha numerosos objetos interessantes como :
- cabeceiras em pedra
- paletas de escribas
- jóias e
- amuletos
Os arquitetos da 6ª dinastia haviam edificado ali uma grande cidade. O oásis já não são terras perdidas nas imensidões desérticas, mas províncias egípcias habitadas e civilizadas.
O rei preocupou-se com fundações religiosas isentas de contribuições por decreto. Livrou certas confrarias religiosas do pagamento de impostos. Concedendo estes privilégios e permitindo a certos templos a exploração de terras que pertencem por direito ao faraó, Pepi II inicia um processo de enfraquecimento do poder real. A sua autoridade diminui fatalmente.
O poderoso reino de Pepi II é um colosso com pés de barro, não por ameaças externas, mas em virtude da sua estrutura interna. A relação entre o faraó e os nomarcas constitui o ponto fraco do Estado. Embora respeitando o poder central, vão se libertando dele. Dois indícios:
- o nomarca prefere ser enterrado no seu nomo do que em sepultura perto do faraó
- tende a tornar hereditário o seu cargo, transmitindo a seu filho sem pedir o parecer do faraó, a fim de que as riquezas adquiridas permaneçam na família
O nomarca de Abidos, tem a sua própria corte e seus funcionários dedicados, e a sua organização de seu palácio é copiada pela do palácio real. Os nomarcas são homens extremamente competentes, senhores de uma viva inteligência, sempre procurando não opor-se ao poder central do qual dependem e que lhes parece indispensável para assegurar a estabilidade no Egito, para manter sua própria fortuna. Quanto mais distante de Mênfis, mais os altos funcionários são livres para tomar suas próprias iniciativas quanto ao seu domínio. Seria abusivo imaginar facções de nomarcas preparadas para derrubar o faraó.
Fim do reinado
Escreveu-se várias vezes que o velho Pepi II já não tinha a autoridade necessária para governar o Egito, ancião de 94 anos abandonara as rédeas do poder aos seus nomarcas, os quais se haviam dilacerado uns aos outros; levando o país a anarquia.
Para compreender esse difícil fim de reinado, pensou:
- numa invasão de beduínos no Baixo Egito,
- numa guerra civil,
- numa sucessão de fomes,
- no abandono dos trabalhos de irrigação,
perigos supostos e não provados. A única certeza é o enfraquecimento do poder central, parcialmente transferido para certos nomarcas. As províncias mais ricas puderam adquirir uma relativa autonomia.
No final do reinado de Pepi II, o Antigo Império desmorona. Oito ou mais reis sucedem ao grande monarca, mas nenhuma personalidade forte consegue impor-se. O último soberano da 6ª dinastia e do Antigo Império é uma mulher Nitócris, "a mais nobre e a mais bela das mulheres de seu tempo", segundo Mâneton. Heródoto é mais um que não deixa de contar rumores maledicentes a seu respeito: que teria se suicidado depois de vingar os que haviam assassinado seu irmão, cuja morte lhe permitira subir ao trono. Aplica assim ao Egito as tristes querelas assassinas da Grécia. Na realidade Nitócris teve de domar uma crise, extremamente profunda para ser resolvida e que faria o Antigo Império afundar nas brumas do Primeiro Período Intermediário, por volta de 2155 a.C .
Leia também: Pepi II e suas mulheres
Origem: 'O Egito dos Grandes Faraós, histórias & Lendas' de Christian Jacq
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