quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cuche



Cuche foi uma civilização que se desenvolveu na região norte-africana da Núbia, localizada no que é hoje o norte do Sudão, a partir do século XXXII aC. Uma das primeiras civilizações a surgir no vale do rio Nilo, os Estados cuchitas controlaram a região antes do período das incursões egípcias na área.



Etimologia e grafia
O nome dado a esta civilização é proveniente do Velho Testamento, que registra um personagem bíblico, Cuche (ou Cuxe, ou Cus), um dos filhos de Cão que se estabeleceu no nordeste da África. Na Idade Antiga e na Bíblia, uma grande região que abrangia o norte do Sudão, o sul do Egito e partes da Etiópia, Eritréia e Somália era conhecida como Cuche. Outros estudiosos afirmam que a Cuche bíblica localizava-se no sul da Arábia.

Em português, o nome do personagem bíblico varia conforme a versão do Velho Testamento. O dicionário Houaiss e a tradução de João Ferreira de Almeida atualizada empregam a forma Cuche. Já a Bíblia Ave Maria, católica, prefere a grafia Cus, cusita.
  • O gentílico de Cuche é cuchita ou cuxita.

Origens
As primeiras sociedades a se desenvolver na área surgiram na Núbia antes da Primeira Dinastia do Egito (3100-2890 aC). Em cerca de 2500 aC, os egípcios começaram a avançar na direção sul e é por meio deles que a maior parte das informações sobre Cuche ficou conhecida. Mas esta expansão foi detida pela queda do Médio Império no Egito. A expansão egípcia recomeçou em aproximadamente 1500 aC, mas desta vez encontrou resistência organizada. Os historiadores não têm certeza se esta resistência foi oferecida por cidades-Estado múltiplas ou por um império unificado, e debatem se o conceito de Estado surgiu ali de modo independente ou se foi tomado do Egito. Os egípcios lograram vencer a resistência e fizeram da região uma colônia sua, durante o reinado de Tutmósis I, cujo exército mantinha ali um certo número de fortalezas.

No século XI aC, disputas internas no Egito permitiram aos nativos derrubar o regime colonial egípcio e instituir um reino independente, governado a partir de Napata, na Núbia.

Napata
Este novo reino, com sede em Napata, foi unificado por Alara no período entre 780 e 755 aC. Alara era visto pelos seus sucessores como o fundador do reino cuchita. O reino cresceu em influência e veio a dominar a região meridional egípcia de Elefantina e até mesmo Tebas, no reinado de Kachta, sucessor de Alara e que logrou no século VIII aC. forçar Chepenuepet I, meia-irmã de Takelot III e "esposa do deus Amon", a adotar Amenirdis I, filha do soberano cuchita, como sucessora. Com isto, Tebas passou ao controle de fato do reino de Napata. Seu poder chegou ao auge com Piye, sucessor de Kachta, que conquistou todo o Egito e fundou a XXV dinastia.

Quando os assírios invadiram em 671 aC, Cuche tornou-se uma vez mais um Estado independente. O último rei cuchita a tentar retomar o controle do Egito foi Tantamani, que foi definitivamente derrotado pela Assíria em 664 aC. Subseqüentemente, o poder cuchita sobre o território egípcio declinou e extinguiu-se em 656 aC, quando Psamético I, fundador da XXVI dinastia, reunificou o Egito. Em 591 aC, os egípcios invadiram Cuche – possivelmente porque esta, governada por Aspelta, preparava-se para atacar o Egito – e saquearam e incendiaram Napata.

Meroé
Diversos registros arqueológicos mostram que os sucessores de Aspelta transferiram a capital para Meroé, mais ao sul do que Napata. A data exata da mudança não é conhecida, embora alguns historiadores acreditem que o fato ocorreu durante o reinado de Aspelta, como reação à invasão egípcia da Baixa Núbia. Outros estudiosos pensam que a transferência deveu-se à atração do ferro, já que Meroé, ao contrário de Napata, possuía vastas florestas que serviam de combustível para os altos-fornos. A chegada de mercadores gregos na área também sinalizou o fim da dependência cuchita do comércio ao longo do Nilo, pois agora podia exportar seus produtos via o mar Vermelho e as colônias mercantis gregas ali localizadas.

Uma teoria alternativa afirma que havia na verdade dois Estados separados mas estreitamente interligados, um em Napata e outro em Meroé. Com o tempo, o último teria eclipsado o primeiro. Não se encontrou até o momento uma residência real ao norte de Meroé e é possível que Napata fosse apenas um centro religioso, mas este permaneceu uma cidade importante, onde os reis eram coroados e sepultados, mesmo se houvessem residido em Meroé.

Em cerca de 300 aC, os soberanos cuchitas começaram a ser sepultados em Meroé. Alguns entendem que este fato indicaria uma ruptura com os sacerdotes de Napata. Diodoro Sículo relata a história de um soberano meroítico chamado Ergamenes, quem recebera a ordem de se suicidar mas teria rompido com a tradição e ordenado a execução dos sacerdotes. Uma explicação mais simples é que a capital sempre fora em Meroé.

Em algum momento, Cuche deixou de usar os hieróglifos egípcios e desenvolveu uma nova escrita, chamada meroítica, para representar a língua meroítica, que ainda não foi completamente decifrada. Em 23 aC, o governador romano do Egito, Petrônio, invadiu a Núbia em reação a um ataque núbio contra o sul da província e saqueou Napata (22 aC).

Declínio
O declínio de Cuche é um assunto altamente controverso. Após o século II, os túmulos reais começam a reduzir-se em dimensões e esplendor e a construção de grandes monumentos cessou. Os sepultamentos reais em pirâmides cessam a partir de meados do século IV. Segundo a teoria tradicional, Cuche teria sido destruída por uma invasão do reino etíope de Axum, por volta de 350. Entretanto, alguns pensam que o relato axumita parece descrever a repressão a uma revolta em terras que os etíopes já controlavam. Ademais, refere-se apenas aos nubas (um povo dos montes Nuba, no atual Sudão), sem mencionar os governantes de Meroé. O último rei de Meroé chamava-se Sect Lie; pouco mais é conhecido a seu respeito.


Por volta do século VI, novos Estados se haviam formado na área antes controlada por Meroé. Ao que parece, os nobatas (mencionados em fontes romanas anteriores e que alguns estudiosos associam com os nubas) evoluíram para formar o Estado da Nobácia (um reino cristão africano na Baixa Núbia) e outros na região. Os outros dois Estados da área, Makúria e Alodia, eram similares. Falavam núbio antigo e escreviam com uma versão do alfabeto copta. A língua meroítica e sua escrita parecem ter desaparecido.





Fonte: Wikipédia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

Comentários