sexta-feira, 31 de julho de 2009

Iniciadas nos mistérios de Hathor



Quem é Hathor?
O nome da deusa é composto de duas palavras: Hut e Hor, traduzido como "o templo de Hórus". Hathor é o espaço sagrado, a matriz celeste que contém Hórus, o protetor da instituição faraônica. Hathor é o céu e é também aquela que espalha pelas superfícies celestes a esmeralda, a malaquita e a turquesa para com elas fazer estrelas. É muitas vezes chamada de "a dourada", porque é o ouro das divindades, a matéria alquímica que forma o seu corpo.

"Única e sem paralelo no céu"

Hathor encarnava numa vaca imensa, da dimensão do cosmos, que oferecia generosamente o seu leite para que as estrelas vivessem. Goza de grande popularidade no Egito, sua residência preferida era no Alto Egito em Dendera – onde sobrevive um templo ptolomaíco de grande beleza e encanto.
  • Mãe das mães, gerava o Sol e derramava nos corações a alegria de viver.
  • Concedia a beleza, a juventude e o fogo do amor sob todas as suas formas, do desejo físico ao amor do divino.
  • Favorecia os casamentos e os tornava harmoniosos, mas somente quando o homem e a mulher escutavam a sua voz.
  • Ensina aos seus adeptos a dança e o sentido da festa, protetora dos vinhos, chama os seus fiéis à mesa do banquete divino.
Na sua qualidade de protetora e ama da alma dos justos, reside muitas vezes num sicômoro; com a madeira dessa árvore fabricavam sarcófagos. Era a mãe dos vivos e dos ressuscitados. Acolhe todos aqueles que empreendem a grande viagem para o outro mundo. Sorridente, enigmática, está na orla do deserto e tem na mão o sinal hieroglífico da vida, e a haste de papiro que simboliza o eterno crescimento da alma dos justos.

Para vencer as provas do Além, o homem deve tornar-se Osíris; o mesmo acontece com a mulher, que tem a vantagem de ser ao mesmo tempo Osíris e Hathor. Alimentada pelo leite da vaca celeste, a ressuscitada percorre para sempre o caminho das estrelas, dança com elas, ouve a música celeste e saboreia a sutil essência de todas as coisas.


A Confraria das sete Hathor
Na época dos Ptolomeus, os mistérios de Hathor eram celebrados nos mammisis por uma comunidade de mulheres intituladas "perfeitas, belas e puras". Esses ritos remontavam à Alta Antiguidade, mas como muitas outras vezes, foi o Egito crepuscular que os revelou.

As Hathor tocavam música, cantavam e dançavam depois de um passeio ritualístico pelos pântanos, onde haviam feito zumbir os papiros em honra da deusa, ritualizando a Criação do Mundo. A cerimônia terminava com uma oferenda de vinho, líquido que abria o caminho à intuição do divino. «As Hathor eram 7, número sagrado e particularmente ligado à espiritualidade feminina» que são também chamadas "as veneráveis". Seu papel consistia em:
  • afastar o Mal
  • manter a harmonia
  • favorecer todos os fenômenos do nascimento
Festivas, tocam tamboril e batem palmas. Tranquilas e recolhidas, dão as mãos para formar uma cadeia. Têm na fronte uma uraeus, e o seu toucado apresenta os chifres da vaca celeste emoldurando o globo solar.

A superiora das 7 Hathor segurava um cetro cuja extremidade tinha a forma de uma umbela de papiro. Sua irmãs envergavam, como ela, vestidos longos, enfeitadas com fitas vermelhas formando sete nós nos quais o Mal ficava encerrado. As 7 filhas da divina Luz, Rá, eram responsáveis pelo tempo de vida dos humanos e pelo seu destino. Presidiam simbolicamente a todos os nascimentos e vinham visitar as parturientes.

As serpentes uraeus que trazem na fronte lançam chamas purificadoras ou destrutivas, dependendo da autencidade do ser que as enfrenta. Podem conceder longevidade, estabilidade, saúde e descendência, mas também estabelecem as provas e o termo de um destino.

As fadas da Europa pagã foram suas herdeiras

Em Dendera e Edfu as 7 Hathor tocam tamboril e sistro em honra da deusa e do faraó que acabam de nascer. As iniciadas nos mistérios de Hathor manejavam 10 objetos sagrados, que podiam ser executados em miniaturas e em materiais preciosos:
  1. colar da ressurreição – cujos sons recriam o mundo
  2. clepsidra – relógio de água associado a Thot, senhor do tempo sagrado
  3. dois sistros – afastam a violência e proporcionam a tranquilidade
  4. símbolo hatórico real – 2 asas que protegem o Egito e o cosmos
  5. mammisi – lugar do repouso e templo onde se realiza o mistério do nascimento
  6. pote de leite – doce para o ka, alimento celeste que ilumina e rejuvenesce
  7. cântaro – contém a bebida da embriaguez sagrada e que revela o que estava oculto
  8. coroa para a fronte de Hathor – fundida por Ptah, que escolhera o ouro, a carne dos deuses
  9. porta monumental fundada pelo Sol feminino – que abastece o país em oferendas e dá acesso ao templo
Esses objetos eram, representados nas paredes do templo da deusa e assim permaneceram vivos.

Fonte: 'As Egípcias' de Christian Jacq


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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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