Uma enseada soberba, que parece ter sido traçada a compasso. Mas nenhum daqueles relevos que tornam Nápoles, Gênova ou Marselhas tão interessantes. Também não há monumentos antigos para compensar essa costa branca e plana, exceto a coluna Pompéia, que se destaca solitária contra o céu.
"Cidade-souvenir", "capital da memória" ... O que resta do farol, da biblioteca, dos ptolomeus e de seus palácios? Onde fica mesmo a cidade furiosamente cosmopolita imortalizada? Alexandria parece esmerar-se em apagar os vestígios de seu passado.
De que Alexandria falamos? Pois há pelo menos três:
- a cidade farol da Antiguidade,
- a cidade cosmopolita dos anos 1860-1960, e
- a megalópole de hoje
- o lugar é fácil de defender,
- por ser um porto natural,
– A nova cidade destinava-se primeiramente aos gregos. Desde o nascimento, foi uma cidade à margem: Alexandrea ad Aegyptum (Alexandria próxima ao Egito). O célebre arquiteto Dinocrate concebeu um plano em forma de tabuleiro de xadrez para permitir a livre circulação do ar pelas ruas retilíneas quando ventasse. A água doce seria fornecida por enormes cisternas, alimentadas por aquedutos subterrâneos. Alexandria tornou-se, ao mesmo tempo, a sede da administração – doze soberanos lágidas(dinastia grega que reinou no Egito de 306 a 30 a.C.) ali reinaram – um centro artesanal, um importante centro comercial e a capital mundial do saber, graças à sua biblioteca e ao seu museu. Uma cidade completa e já mítica, que logo teria centenas de milhares de habitantes.
– São Marcos chegou a Alexandria no ano 43 d.C. para fundar a Igreja do Egito. Às perseguições de que foram vítimas, os cristãos responderiam mais tarde com destruições: a Alexandria pagã não teria mais razão de ser. E os muçulmanos que ocupariam o Egito em 640 iriam empenhar-se em fazê-la desaparecer, preferindo outra capital.
– Quando Bonaparte desembarcou ali em julho de 1798, Alexandria não passava de uma sombra de si mesma. Uma aldeota de 6000 habitantes, com ruas estreitas e casebres nada sólidos. A cidade só renasceria duas décadas mais tarde, graças à iniciativa de Mohammed Ali, o novo senhor do Egito (outro macedônio), que faria dela uma fortaleza e um arsenal.
– Europeus instalaram-se em Alexandria, a cidade ressuscitou, transformou-se pouco a pouco em centro financeiro e comercial de todo o Mediterrâneo. A presença e a arrogância dos europeus materializou-se de forma emblemática na Praça dos Cônsules, onde se instalaram as principais representações estrangeiras, as filiais das companhias marítimas, os grandes hotéis, restaurantes e lojas.
Em 1882, uma rixa banal entre um egípcio e um maltês incendiou a cidade, exposto às reações de oficiais nacionalistas, o quediva (título dos vices-reis turcos do Egito de 1867 a 1914), pediu socorro aos ocidentais, e a Inglaterra apressou-se em ocupar o país. Alexandria foi bombardeada, sofreu uma sucessão de incêndios e saques. A Praça dos Cônsules ficou em ruínas... Mais distante do Egito que nunca, Alexandria olhava para o resto do país com altivez. Nem por isso tornou-se inglesa.
A Revolução egípcia em 1952 e sobretudo a crise de Suez em 1956, mudou o clima e os residentes britânicos e franceses foram expulsos do Egito. Nos anos seguintes, Alexandria pouco a pouco se esvaziou da maior parte de sua população cosmopolita. Judeus, gregos, italianos, sírio-libaneses ou armênios exilaram-se. Alexandria passou a ser uma cidade egípcia, "no" Egito. É um grande centro industrial e comercial de quatro milhões de habitantes, mais tranquilo que o Cairo, embora mude de ritmo e de cara todo verão, com a invasão dos turistas.
- Não faltam trunfos à "segunda capital". A nova biblioteca poderia atrair pesquisadores do mundo inteiro. Os vestígios greco-romanos são de uma riqueza incalculável: não se encontram apenas num museu velhusco e encantador, mas também sob a terra e sob o mar. Alexandria possui sem dúvida um nome mágico, que irá sempre provocar a imaginação.
do Livro 'Egito um olhar amoroso'
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