Depois da morte, a múmia preparada e colocada num trenó puxado por bois, organizado o cortejo fúnebre... aparecem as carpideiras.
As Carpideiras – de veste branca e sem ornamentos, seios nus, batem no peito e cobrem a cabeça de pó. Desoladas lançam gritos de dor, evocam o bom pastor que partiu para o país da eternidade, ou seja, o defunto assimilado ao deus ressuscitado que sabe conduzir o rebanho humano aos paraísos do Além. Elas dispõem de um repertório de textos e cânticos livres sem improvisação.
"Tu, cuja casa era numerosa, encontras-te agora numa terra solitária. Aquele que gostava de mexer as pernas e andar está imóvel e enfaixado."
Cantoras da deusa Hathor, as carpideiras intervêm nos funeráis e estão encarregadas também de fazer o gesto de ka, a fim de manterem a energia criadora que sobriveverá ao nada.
Ísis e Néftis, os dois milhafres fêmeas – as duas principais carpideiras chamavam-se djeryt, ou seja, "milhafres fêmeas": aves de rapina que pousavam à cabeça e aos pés do sarcófago e o protegiam. Vemos também elas no barco que transporta o féretro para o paraíso dos justos. Essas duas aves são Ísis e Néftis, "a voz da justiça"; durante os rituais, como exemplo: mulheres como a dama Ny-Ankh-Hathor, "Aquela que pertence à vida, Hathor", que viveu na sexta dinastia, estão encarregadas de encarnar as deusas. Essas iniciadas usavam um comprido traje de alças que deixava os seios à mostra; um aro cingia a sua curta peruca. Traziam cofres de madeira, que continham tecidos e vestes de ressurreição.
- Ísis é a grande carpideira,
- Néftis a pequena carpideira
- purificam os locais onde oficiavam
- depiladas e com perucas frisadas
- Ísis e Néftis tinham o nome inscrito no braço
- veneravam Osíris quatro vezes
- e um ritualista respondia-lhes "O Céu está reconciliado com a Terra"
Para terem a boca pura, as carpideiras mascavam natrão e depois eram incensadas. O olho de Hórus, sinônimo de oferenda, borrifava o seu perfume sobre elas. Elevavam-se cântigos e músicas, anunciando a tranformação de Osíris morto em Osíris vivo.
A intervenção da carpideira e a intensidade do seu amor produzem um resultado feliz. O esposo de Ísis regressa a seus braços, ela começa por sentir a sua presença graças ao seu perfume, o perfume do maravilhoso país do Ponto; Osíris ressucitado derrama a vida à sua volta. As carpideiras contribuíram para esse milagre.
do livro: As Egípcias de Christian Jacq
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