sábado, 16 de maio de 2009

As Carpideiras

Uma confraria sagrada

Depois da morte, a múmia preparada e colocada num trenó puxado por bois, organizado o cortejo fúnebre... aparecem as carpideiras.



As Carpideiras – de veste branca e sem ornamentos, seios nus, batem no peito e cobrem a cabeça de pó. Desoladas lançam gritos de dor, evocam o bom pastor que partiu para o país da eternidade, ou seja, o defunto assimilado ao deus ressuscitado que sabe conduzir o rebanho humano aos paraísos do Além. Elas dispõem de um repertório de textos e cânticos livres sem improvisação.


"Tu, cuja casa era numerosa, encontras-te agora numa terra solitária. Aquele que gostava de mexer as pernas e andar está imóvel e enfaixado."

Cantoras da deusa Hathor, as carpideiras intervêm nos funeráis e estão encarregadas também de fazer o gesto de ka, a fim de manterem a energia criadora que sobriveverá ao nada.

Ísis e Néftis, os dois milhafres fêmeas – as duas principais carpideiras chamavam-se djeryt, ou seja, "milhafres fêmeas": aves de rapina que pousavam à cabeça e aos pés do sarcófago e o protegiam. Vemos também elas no barco que transporta o féretro para o paraíso dos justos. Essas duas aves são Ísis e Néftis, "a voz da justiça"; durante os rituais, como exemplo: mulheres como a dama Ny-Ankh-Hathor, "Aquela que pertence à vida, Hathor", que viveu na sexta dinastia, estão encarregadas de encarnar as deusas. Essas iniciadas usavam um comprido traje de alças que deixava os seios à mostra; um aro cingia a sua curta peruca. Traziam cofres de madeira, que continham tecidos e vestes de ressurreição.
  • Ísis é a grande carpideira, 
  • Néftis a pequena carpideira
Recitavam-se as lamentações de Ísis e Néftis, cujo beneficiário era Osíris, ou seja, todos os seres reconhecidos como justos pelo tribunal do outro mundo. Nas festas das carpideiras:
  • purificam os locais onde oficiavam 
  • depiladas e com perucas frisadas 
  • Ísis e Néftis tinham o nome inscrito no braço
  • veneravam Osíris quatro vezes
  • e um ritualista respondia-lhes "O Céu está reconciliado com a Terra"

Para terem a boca pura, as carpideiras mascavam natrão e depois eram incensadas. O olho de Hórus, sinônimo de oferenda, borrifava o seu perfume sobre elas. Elevavam-se cântigos e músicas, anunciando a tranformação de Osíris morto em Osíris vivo.

A intervenção da carpideira e a intensidade do seu amor produzem um resultado feliz. O esposo de Ísis regressa a seus braços, ela começa por sentir a sua presença graças ao seu perfume, o perfume do maravilhoso país do Ponto; Osíris ressucitado derrama a vida à sua volta. As carpideiras contribuíram para esse milagre.

do livro: As Egípcias de Christian Jacq

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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