Se na terra do Egito não existiam desigualdades entre homens e mulheres, o mesmo acontecia no céu, no paraíso do outro mundo e no domínio do espírito. Neste aspecto a humanidade regrediu muito.
Nos tempos dos faraós, uma mulher podia ocupar as mais altas funções sagradas. A rainha do Egito era soberana de todos os cultos, celebrava os rituais, delegava os seus poderes espirituais e litúrgicos a sacerdotisas que oficiavam nas principais cidades do país.
A esse magnífico desenvolvimento da espiritualidade feminina, não mais conhecido desde a extinção da civilização faraônica, acrescenta-se outra dimensão não menos admirável: a ausência de rivalidade espiritual e intelectual entre homens e mulheres. Trabalharam juntos nos templos e formaram comunidades dirigidas ora por um homem, ora por uma mulher. Existiam caminhos iniciáticos especificamente masculinos ou femininos, que no entanto se cruzavam no essencial, e os grandes mistérios eram celebrados por um casal formado pelo rei e pela grande esposa real. Esse casamento espiritual era, proclamado na festa da união de Hórus de Edfu, o principio masculino, e de Hathor de Dendera, o princípio feminino.
No campo da busca espiritual, a condição social e a fortuna não contavam; entravam no templo e participavam dos ritos:
- damas ricas
- mulheres e jovens modestas
- mulheres casadas
- viúvas e solteiras
A partir da sexta dinastia, o nome da pirâmide do soberano reinante foi associado aos nomes e aos títulos da mãe do rei, da sua esposa e das suas filhas. Estas tornavam-se, "esposa da pirâmide", "mãe da pirâmide", exercendo assim a sua proteção mágica sobre o monumento mais essencial.
Uma sacerdotisa com uma posição elevada na hierarquia não tinha de preocupar-se com suas condições materiais de existência, na medida em que se consagrava ao templo, recebia cerca de hectare e meio de terra arável e uma parte das doações feitas à comunidade que dirigia. Seu cargo era pesado, pois tinha de assegurar a boa realização dos ritos cotidianos, das numerosas festas, e governar um pessoal composto de permanentes e instáveis. As mulheres, como os homens, dividiam-se em quatro equipes e exerciam alternadamente as suas funções durante um mês. No Novo Império, numerosas damas faziam parte do clero de Amon, na qualidade de executantes musicais e cantoras. Nas festas, acompanhavam a barca divina que saía do templo.
O que exprimiam essas sacerdotisas era apenas a alegria de uma espiritualidade vivida, florescente, larga como o céu e generosa como a terra, uma espiritualidade fundada ao mesmo tempo no desejo de conhecimento e na prática diária do rito.
Origem: 'As Egípcias' de Christian Jacq
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