quinta-feira, 14 de maio de 2009

O processo de mumificação

Para os egípcios, a morte significava a separação dos elementos que constituíam o corpo. Para preservar um destes elementos, o ka, ou duplo espírito do homem, o corpo devia manter-se incorrupto. Ao ser enterrado diretamente na areia, o corpo conservava-se intacto. Contudo, as mudanças nos costumes funerários obrigaram os egípcios a procurar outra maneira de salvar o corpo.



Quando um egípcio morria, após um breve período de luto o seu cadáver era transferido para o local de mumificação, inicialmente uma simples tenda ao ar livre, e mais tarde, um edifício de alvenaria. Ali os sacerdotes encarregados do processo de embalsamamento ocupavam-se do cadáver. Primeiro extraiam o cérebro introduzindo um gancho no nariz, depois de terem partido o osso etmóide. A seguir, marcavam com um pincel, uma linha no lado esquerdo do corpo, onde faziam um corte para extrair as vísceras. O coração, que devia controlar o corpo no Além, e os rins aos quais o acesso era difícil, permaneciam dentro do cadáver. As vísceras eram lavadas com substâncias aromáticas e colocadas em Vasos  Canopos (urnas de pedras). A seguir, o corpo era depositado em natrão (carbonato de sódio natural) durante algum tempo e depois, lavado e massageado com perfumes, óleos e incenso para a cabeça. Colocavam-se olhos de vidro, para dar sensação de realidade, cobria-se a incisão com uma placa e o cadáver estava pronto para ser enfaixado.

Para enfaixar o corpo, utilizavam-se tiras desfiadas de roupa usada. O único material empregado era o linho, e o melhor era o de Sais. Só a partir da época ptolomaica é que se começaram a fabricar faixas novas destinadas à mumificação, e foi nessa época que o enfaixamento atingiu seu maior esplendor. As tiras compunham complicados desenhos geométricos em forma de quadrados ou poliedros. Às vezes, as faixas tinham fórmulas rituais escritas. O sacerdote encarregado do ritual ia proferindo preces à medida que enfaixava e colocava amuletos para proteger o morto da violação. Começava-se por enfaixar cada dedo individualmente, depois os membros, a cabeça e, por fim todo o corpo. Os braços eram esticados ao longo do corpo, com os antebraços cruzados no peito ou no abdome. Depois de enfaixar o cadáver, despeja-se resina por cima das faixas e colocava-se uma máscara na cabeça. Era então depositado em um sarcófago e entregue à família. 
A prática do embalsamamento começou a decair a partir do século I, com o advento do cristianismo. Em 392 da nossa era, o imperador Teodósio proibiu a mumificação dos cadáveres, o que significou o final dessa arte.

O corpo mumificado e enfaixado era depositado em um sarcófago antropomórfico, o qual era colocado dentro de outro sarcófago. No caso dos faraós, usavam-se mais sarcófagos. A partir da XXII dinastia, o sarcófago interior foi substituído por uma cobertura de papiro usado e endurecido com resina. Essa cobertura era decorada com todo tipo de detalhes, sobretudo jóias e fórmulas mágicas. A parte do rosto era fabricada em série, com um retrato idealizado do morto. Na época romana, a máscara foi substituída por um retrato fiel do defunto, em madeira.

Os instrumentos mágicos
Os egípcios não queriam deixar ao acaso a questão da vida do Além. Por isso, realizavam uma série de rituais mágicos para garantirem a revitalização do corpo. Um deles era a cerimônia de abertura da boca e dos olhos, que se fazia  à entrada do túmulo, por meio da qual se despertavam os sentidos do morto.

Na tenda de mumificação
O lugar onde era celebrada a mumificação, tal como a casa dos sacerdotes embalsamadores, devia situar-se fora da cidade. Socialmente, esses sacerdotes eram muito considerados. O seu trabalho era hierarquizado, e cada um encarregava-se de uma parte específica do ritual.

Os perfumes para  defunto
As substâncias utilizadas para perfumar o cadáver eram guardadas em vasos de alabastro. No recipiente indicava-se o tipo de óleo ali contido, pois havia partes do corpo que eram ungidas com óleos especiais.

A proteção das vísceras
O estômago, os intestinos, o fígado e os pulmões eram guardados em vasos canopos. A partir da XXI dinastia, estes órgãos eram enfaixados e colocados dentro do corpo do defunto.

Protegido pelas deusas
Para enfaixar melhor o cadáver, colocava-se o corpo sobre dois cavaletes, sem prendê-lo a nada. Dessa maneira, as faixas envolveriam o corpo com mais facilidade. Depois de enfaixado, despejava-se resina por cima, punha-se uma máscara funerária e depositava-se o corpo em um leito funerário, para que ele fosse regenerado pelo poder mágico da deusa que apareceria à sua cabeceira.

O olho de Hórus
Entre as várias camadas de faixas, e para garantir a futura ressurreição do morto, colocavam-se amuletos de diferentes formatos. Um deles é o udyat, ou olho de Hórus no lugar do que ele perdeu em uma luta com o deus Set. Às vezes, esse símbolo aparecia nas placas de madeira, cera ou metal que fechavam a incisão do lado esquerdo das costas do cadáver, através da qual eram extraídas as vísceras.

Fonte: Egitomania _ fascículos 2001

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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