sábado, 2 de maio de 2009

Nas pegadas dos sábios


O Egito dos faraós foi o país dos sábios

Durante mais de três milênios, eles tiveram como principal preocupação a busca de realização espiritual através da prática da sabedoria, encarnada em uma deusa Mâat – a retidão, a integridade, a verdade, a precisão e a justiça, a regra imutável do universo, a coerência, a solidariedade. Ela é radicalmente oposta a isefet – o caos, a desordem, o mal sob todas as suas formas. 

Os sábios do Egito escreveram seus "Ensinamentos" para abrir o espírito, ampliar o coração, fazer dele o receptáculo de Mâat, simbolizada, ao mesmo tempo, pela pena rectriz, que permite ao pássaro dirigir seu vôo, pela base a qual são colocadas as estátuas vivificadas pelos ritos e pelo leme que torna o justo capaz de atravessar alegremente o rio da existência para chegar às margens da eternidade.

O termo sebayt, "ensinamento" é formado pela raiz seba, que também pode significar "a porta" e "a estrela". Estes textos são realmente portas que se abrem sobre o conhecimento dos elementos fundamentais da sabedoria, bem como estrelas destinadas a nos orientar no caminho da vida.

Vencer a ignorância, eis o essencial. Ninguém nasce sábio e é preciso realizar sérios esforços para desenvolver as qualidades que tornam alguém apto "a dizer e a fazer Mâat", sem se deixar cair nas armadilhas mortais da vaidade e da cobiça. A cada dia, os ouvidos, "estes viventes", devem escutar as palavras de sabedoria; se o entendimento for bom, a retidão será verdadeira, deste entendimento nascerá o ato justo, em conformidade com Mâat. Um ato desprovido de egoísmo, um ato útil e luminoso para o próximo, desde que respeite uma regra de ouro: agir em nome daquele que age.

"Aquele que conhece a realidade, os mitos e os rituais": é assim que se apresenta o sábio egípcio, de coração vigilante, de fala capaz de analisar com clareza, de palavra eficaz, capaz de satisfazer a Deus e aos deuses, porque toda a sua existência repousa no conhecimento e não na crença. Adepto da calma e do silêncio, ele se afasta do burburinho, do tagarela e do invejoso. Realizar o que é correto, buscar a excelência em todas as coisas, jamais fugir de suas responsabilidades, venerar o que é maior que ele são alguns dos deveres cotidianos do sábio.

É por ter sabido criar seres desta estirpe que a civilização egípcia venceu o tempo, a barbárie, os invasores e a loucura da destruição. Apesar dos golpes que recebeu, esta sabedoria continua a irradiar e a nos atingir. É ela que constitui, sem dúvida, o verdadeiro segredo dos antigos egípcios.

do livro 'A Sabedoria Viva do Antigo Egito' de Christian Jacq

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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