sexta-feira, 10 de abril de 2009

As crianças e as mulheres egípcias

Uma das características mais consideráveis dos egípcios era a adoração que tinham por crianças. A imagem de Ísis amamentando ou segurando Hórus no colo, que teria inspirado a virgem cristã com a criança, foi uma das mais recorrentes da Antiguidade. Um dos temas preponderantes da "Escola de Armana" foi Akhenaton e Nefertiti brincando com sua filhas – o faraó idealista, supomos, enfatizando uma emoção "natural" , universal na vida egípcia, mas que, até então, não havia recebido um tratamento artístico. No segundo milênio antes de Cristo, na arte do ocidente da Ásia e egéia, não havia nada como tal representação.
O afeto que os egípcios não se envergonhavam de demonstrar por suas crianças se relacionava com a condição altamente favorável da mulher na sociedade. Apesar das mulheres não terem se tornado oficiais seculares nem tomado parte no comércio e nas expedições, elas podiam se transformar em sacerdotisas da alta hierarquia. O mais imortante era o gozo de amplos direitos de posse: mesmo depois de casadas, elas podiam possuir serventes, escravos, casas, terras ou outras propriedades, adotar crianças e herdar os bens paternos ou os do marido. 
  • Em resumo, elas estavam em melhores condições legais que as mulheres britânicas do século XIX, chegando a se transformar em rainhas do Egito.
Há discussões acadêmicas acerca de questões não resolvidas sobre a maneira pela qual se dava a sucessão do trono no antigo Egito. Parece que o direito ao trono era passado, geralmente, pela linhagem das mulheres – ou seja, a condição da criança era determinada por sua mãe, outra noção que os hebreus adquiriram dos egípcios. A herdeira, a filha mais velha do rei em exercício com sua favorita Grande Esposa, transferia o direito de governar a seu marido, quase sempre um meio irmão e, alguns casos, um irmão de pai e mãe. A filha se tornava, então, a favorita Grande Esposa ou a própria rainha. Quanto maior a quantidade de sangue régio de ambos os lados, mais certo era o título ao trono; o que realmente importava, entretanto, era o lado materno. O sangue régio feminino tinha sua importância determinante sobretudo quando o poder era transferido de uma dinastia a outra em momentos pacíficos. Muitas vezes, o faraó se casava com uma de suas próprias filhas (como esposa adicional) para assegurar o trono. Esses casamentos consanguíneos não parecem ter tido nenhum efeito danoso explícito. 
Os faraós da famosa 'Décima Oitava Dinastia' se casaram por 200 anos dentro desse âmbito familiar, alardeando sua saúde e força física – pode ser questionado, entretanto,  se a peculiar aparência de Akhenaton foi fruto de tais uniões.
Fora da realeza, não havia motivos que justificassem casamentos incestuosos, e não há nenhuma indicação de eles terem ocorrido. Mesmo em círculos régios, há apenas um caso de um irmão se casado com uma irmã de pai e mãe. Todos os textos de sabedoria exortam os maridos a tratarem suas mulheres de maneira exemplar, mantendo-se fiéis a elas. Uma esposa infiel podia ser queimada viva com seu amante, e ambos terem suas cinzas lançadas ao Nilo – uma punição horrível para os egípcios, pois seria determinante por toda a eternidade.
Exceção feita às classes mais pobres, os maridos egípcios não compartilhavam habitualmente o leito com suas esposas; as ocasiões em que o faziam eram determinadas pelo caráter auspicioso do dia. Segundo Diodoro, até mesmo o faraó – talvez seja melhor dizer sobretudo o faraó – não estabelecia relações sexuais com sua esposa se o dia não tivesse "propício".
(do livro 'História Ilustrada do Antigo Egito' de Paul Johnson)

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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