terça-feira, 14 de abril de 2009

Ramsés II

Ramsés II pelos olhos do egípcio Robert Solé:

Um de seus colossos reina diante da estação central do Cairo, em meio aos gases lançados pelos escapamentos dos carros. De todos os soberanos da Antiguidade, foi o único a dar nome a uma grande avenida. A ele foram aplicados todos os qualificativos e superlativos. Mais que ser o "faraó-sol", Ramsés II é o faraó por excelência, aquele que simboliza toda uma civilização. Tal privilégio se deve em primeiro lugar à longa duração de seu reinado no século XIII a.C. : mais de 67 anos! Nenhum rei, sultão, quediva ou presidente governou o Egito por tanto tempo (1290-1224 a.C.). Ramsés II nem precisou esperar sua sagração, por volta dos 25 anos, para ter poder, pois seu pai Séthi I, teve a clarividência de fazer dele um co-regente. Durante sua longa vida, esse soberano fora do comum teve seis esposas oficiais – entre elas três filhas suas – e uns 100 filhos.

Diversas realizações marcaram esse reinado excepcional. Privilegiando o gigantismo arquitetônico, construindo templos magníficos, como Abu Simbel e Remesseum, ampliando e completando outros:
  • Ábidos
  • Luxor
  • Karnak,
não exitando em assumir a autoria da obra dos antecessores, Ramsés II quis deizar sua marca em cada pedra do Egito.

O maior faraó de todos os tempos era ruivo, cor maldita, por ser a cor do deus Seth, patrono de sua família e associado ao mal por muitos egípcios. Fazer com que esquecessem isso talvez fosse um dos motivos para realizar obras grandiosas. Foi um grande comunicador, talvez o pioneiro no gênero. Deu provas dessa habilidade contra os hititas, ou melhor, no modo como essa batalha foi reescrita depois.

No ano 5 de seu reinado, foi combater os hititas e seus aliados na Síria do Norte. Segundo os relatos oficiais, gravados em vários templos, o faraó viu-se a certa altura numa situação crítica, à beira do Oronte, cercado apenas de sua guarda pessoal, com milhares de soldados inimigos à sua frente. Teria então invocado Amon, lembrando-lhe todos os seus méritos:

Amon, meu pai, o que se passa?
Um pai por ventura esquece o filho? ...
Não ergui para ti incontáveis monumentos,
não lotei teu templo com meus cativos?
Foi pra ti que construí meu templo de milhões de anos
e a ti fiz dom de todos os meus bens.
Pus todos os países estrangeiros a serviço de tuas oferendas
e a ti mandei oferecerem milhares de bois,
além de toda espécie de planta agradavelmente perfumada.
Não há nada de belo que tenha deixado de fazer em teu santuário.
Para ti ergui imponentes pilonos
e neles plantei eu mesmo os mastros com bandeiras.
Para ti mandei trazer obeliscos de Elefantina
e de lá transportar o granito.
Lanço navios no Verdíssimo
para trazer-te o tributo dos países bárbaros.
Quantos não se espantariam se algum mal acontecesse a quem
se dobra à tua vontade...
Favorece, ao contrário, quem te venera e a ti servirão com amor.

Amon ouve a súplica do filho Ramsés, que depois contaria aos súditos:

Meu coração esta novamente forte; e meu peito, alegre (...). Via os 2500 carros à minha volta desabarem diante de meus cavalos. Mas nenhum tinha mão para combater-me (...) Fiz com que mergulhassem na água como crocodilos. Semeava a morte entre eles como queria (...)

Na verdade, o faraó foi socorrido na última hora por parte de seu exército, evitando-se o desastre. Essa derrota parcial – Qadesh permaneceu sob controle dos hititas – Ramsés tranformou numa vitória formidável, celebrada interminavelmente. "Os chefes de todos os países estrangeiros estão a teus pés", proclama uma das inscrições gravadas no obelisco da Place de la Concorde, em Paris. O soberano não se apresentou mais simplesmente como filho de um deus, mas como encarnação dessa divindade.

Após muitas guerras, no ano 21 do reinado, o faraó-sol afirmou um contrato de paz com o soberano hitita Hattusili III. O texto assinado por ambas as partes é histórico, pois se trata do primeiro acordo do gênero feito entre dois Estados; Ramsés II desposou a filha mais velha de seu ex-inimigo, e o Egito entrou num período de paz e prosperidade até o fim de seu reinado.

Saquadores invadiram seu túmulo ao longo dos reinados seguintes e danificaram a múmia do soberano, transferida então para a tumba de Séthi I, onde sofreu outros ataques antes de ser transferida uma segunda vez. Os restos de Ramsés II foram descobertos no dia 6 de julho de 1881, num esconderijo em Deir el-Bahari, e levados para o Museu Egípcio do Cairo. Um século depois, sua múmia, precisou ser levada urgente para Paris para ser tratada. As técnicas mais modernas na época permitiram estudar a múmia sob todas as costuras, antes de submetê-la à irradiação para preservá-la definitivamente. – Descobriram que esse velho magro e aquilino, estava entrevado por reumatismo, claudicava um pouco e tinha tido abscessos dentários – Depois a múmia de Ramsés voltou ao Cairo curada.



Imagens Wikipédia


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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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