Cercado pelo deserto, o Egito floresceu como uma grande civilização graças ao rio que abria caminho por entre essas terras áridas. Foi com toda razão que Heródoto chamou o Egito "o dom do Nilo" pois sem a riqueza que o rio proporciona, o país seria apenas Decheret, "a terra vermelha", um deserto miserável.
A importância que o Nilo tinha para os egípcios era tal que chegaram a divinizá-lo. Hapi, o rio durante a cheia, simbolizava a fertilidade em geral. Era representado como um homem pronto a caminhar, barrigudo e, às vezes, hermafrodita. A cor da sua pele podia ser verde, evocando, assim, a regeneração das plantas, ou azul e com as ondulações típicas do rio. Como os antigos egípcios não sabiam onde ficava a sua verdadeira nascente, eles a situavam na primeira catarata, perto da atual Assuã. No século XIX, os exploradores britânicos lançaram-se em busca das nascentes do Nilo e descobriram a sua origem no lago Vitória, em Uganda. A este Nilo, chamado "Branco", junta-se um grande afluente em Cartum, o "Nilo Azul", que nascia na Etiópia. Com a água de ambos os caudais e com as terras e lodos que deslocavam em suspensão, o Nilo tornou-se a fonte de riqueza do Egito.
Segundo Heródoto, "o Nilo enche durante cem dias, a partir do solstício de verão e, passado esse número de dias, regressa ao seu leito e baixa o nível da sua corrente, de maneira que, durante todo o inverno, permanece baixo até ao novo solstício de verão". A cheia devia-se, sobretudo, ao aumento do caudal do Nilo Azul que, no verão, passava de 200 para 10.000 metros cúbicos por segundo, devido às chuvas tropicais que caíam na nascente. A cheia atingia a primeira catarata em junho e o Delta em julho, inundando as terras mais próximas em setembro, época em que as águas começavam a retirar-se. Durante o mês de novembro, as terras fertilizadas pelo limo do rio eram semeadas e, em março, estavam prontas para as colheitas. Até que, de novo, regularmente, começava outro ciclo, do qual dependia a vida e a riqueza do Antigo Egito. Era tão importante para os egípcios que inventaram "nilômetros", instalações que lhes permitiam medir a cheia do Nilo e prever um inundação exagerada ou insuficiente.
Nilômetro era um elemento muito importante no controle da cheia, um sistema muito bem organizado, de pontos de medição do caudal permitia conhecer antecipadamente a cheia do rio e prever se o ano seria de abundância ou de seca.
Grande via de comunicação, além de fonte da vida, para se deslocarem os egípcios inventaram todo tipo de embarcação, desde simples botes feitos de juncos de papiro até grandes barcos à vela destinados ao transporte de diferentes cargas. A destreza dos marinheiros egípcios era posta à prova quando se aproximavam das cataratas de Núbia.
Visão medieval, é desde essa época que os visitantes e curiosos vêm ao Egito para contemplar as suas maravilhas. Alguns escreveram livros sobre a sua estadia no país, descrevendo os seus costumes e os seus monumentos. Foram feitos, inclusive, mapas detalhados das localidades egípcias, do percurso do Nilo e do seu principal afluente, o Bahr Yussuf, bem como dos seus seis braços que desaguam no Mediterrâneo.
As palmeiras do Nilo são umas das paisagens típicas das margens do rio e dos oásis. As tâmaras que crescem nas palmeiras são uma rica fonte de alimento, embora seja perigoso apanhá-las.
As águas do deus Hapi ainda hoje nos permite passear de faluca pelo rio mais comprido do mundo. Com 6.671 kms de extensão (incluindo o Kagera, emissário do lago Vitória), o Nilo ultrapassa todos os demais rios em dimensões. No entanto, "só" os seus últimos 1.200 kms percorriam o país que hoje conhecemos como o Antigo Egito, desde a primeira catarata até ao mar, fertilizando-o e dando-lhe vida. O célebre Hino ao Nilo dizia:
Louvado sejas, ó Nilo, que sais da terra e vens dar vida ao Egito! Tu, que dás de beber ao deserto e às terras afastadas da água. Tu, que dás vida ao homem e ao gado!
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Fonte: Egitomania o fascinante mundo do Antigo Egito – fascículos
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