quinta-feira, 16 de abril de 2009

Esfinge

Os egípcios chamam-na de Abul Hol ("o pai do terror"). Há quatro mil e quinhentos anos esse colosso esculpido num monte calcário impressiona os que dele se aproximam. O Egito Antigo era repleto de seres híbridos – deuses com cabeça de cachorro, vaca ou falcão – mas só as esfinges tinham cabeça humana e corpo de leão. A de Gisé, no deserto do Cairo, supera todas em tamanho: mais de 72 m de comprimento e 20 m de altura.
Dependendo do ângulo de observação, essa esfinge causa maior ou menor impacto sobre o espectador. Esculpida numa colina calcária, fazia parte do complexo funerário de Quéfren e representava a imagem desse deus-faraó. A necrópole foi abandonada depois, e sofreu durante cinco séculos a ação da areia do deserto, antes de mudar de função: a restauração do sítio na época do Novo Império fez dela um lugar de culto, devotado à Esfinge, que passaram a chamar de Horemakhet. E assim uma estátua se convertia em deus.
O principal artesão dessa restauração, Tutmés IV (em 1400 a.C), mandou gravar uma estela entre as duas patas dianteiras da Esfinge. Segundo essa "estela do sonho", o jovem príncipe tinha ido caçar no Vale das Gazelas. Cansado, adormeceu ao pé da estátua. Esta dirigiu-se a ele durante o sono, pedindo que a libertasse da areia e prometendo em troca a coroa do Alto e baixo Egito.

– Na nossa era, foi desenterrada, e a estátua ficou vulnerável a todas as agressões: variações de umidade, poluição do ar, vibrações ocasionadas pelo tráfego aéreo e rodoviário. Em 1987, um programa de restauração equivocado agravou os danos. Foi preciso recomeçar do zero alguns anos depois, limitando-se aos materiais originalmente utilizados, isto é, rocha calcária e argamassa. Depois de restaurado, o guardião da metrópole voltou a exibir aquele olhar fixo, por mais alguns milhares de anos, quem sabe.
(do livro 'Egito um olhar amoroso')

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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