segunda-feira, 13 de abril de 2009

A Medicina egípcia

A medicina egípcia ensinou muito aos gregos; aqui mais uma vez, foi o empirismo (experiência), e não a teoria que teve consequências importantes. O sistema teórico medicinal egípcio foi, obviamente, religioso: dessa maneira, ele não se diferenciou muito dos babilônios e assírios, que igualavam a doença ao pecado, prescrevendo remédios encantatórios. Mas eles tiveram um sistema paralelo de medicina empírica frequentemente muito efetivo. É curioso observar que a experiência da mumificação lhes ensinou muito pouco sobre anatomia. Eles acreditavam, por exemplo,  que o coração (e não a mente) era o responsável pelo pensamento. Um estudo de vocabulário anatômico da época revela que eles não sabiam nada sobre a circulação do sangue nem sobre o sistema nervoso, e muito pouco a cerca dos músculos. Como outros povos antigos, eles tendiam a confundir a doença com seus sintomas, tratando desses últimos.
A habilidade de observação permitiu aos egípcios se tornarem o primeiro povo a compilar uma útil farmacopéia. Não podemos identificar todas as substâncias utilizadas como remédio – o óleo de rícino, diversos sais, ópio, chifres de veado, casco de tartaruga, mel de figo e alume, entre outros – mas o tratamento empírico era de grande  simplicidade. Os egípcios utilizaram pela primeira vez algumas drogas bem conhecidas, que desde então permanecem em uso. Sua experiência está explicitada em textos médicos hebreus, sírios e persas, assim como em escritores clássicos como Teofrasto, Plínio, Dioscórides, Galeno e Hipócrates. Além de se fazer presente em tratados medicinais do Império Romano, Bizantino e Árabe, de grande serventia através da Idade Média, da Renascença e mesmo depois. Os egípcios tiveram fama de peritos em envenenamento – nascida, certamente, pelo conhecimento de poções soníferas.
O mundo recebeu o conhecimento médico egípcio de maneira indireta, pois, mesmo entre os gregos, apenas Pitágoras parece ter aprendido a ler na língua egípcia. O Egito produziu, entretanto, inúmeros textos médicos, alguns dos quais só vieram à tona nos últimos 150 anos. Um papiro, atualmente na New York Academy of Medicine, lista tratamentos cirúrgicos para feridas na cabeça e no tórax. O Museu Britânico guarda oito papiros médicos, dentre os quais um também se debruça no tratamento cirúrgico.
Sabemos que médicos egípcios eram requeridos ao longo de todo o primeiro milênio antes de Cristo; Ciro e Dario, os imperadores persas, tinham médicos egípcios. Aos poucos, os gregos foram substituindo os egípcios como médicos internacionais, mas tanto na medicina quanto em muitas outras áreas seus conhecimentos e reputação foram fundados na tradição egípcia. O fato de eles terem igualado Asclépio, o deus da cura, ao Imhotep deificado (supostamente o melhor médico egípcio) testemunha o débito que assumiam ter. Os egípcios foram excelentes oftalmologistas; apesar de só terem realizado operações para catarata (uma palavra egípcia) a partir do século II d.C. Tudo indica que, ao longo do primeiro milênio antes de Cristo, eles já tratavam de alguns problemas na vista com grande sucesso.
Ainda que, em geral, sua cirurgia fosse bastante conservadora, foram os melhores ginecologistas, circuncidando regularmente seus meninos – ritual que passaram para os hebreus – e realizando cesarianas. Sua habilidade em detectar a gravidez logo em seu início era notável, assim como a capacidade para calcular a fertilidade, determinar o sexo de crianças ainda não nascidas, diagnosticar gêmeos e tratar de doenças infantis. Na antiguidade, eles foram também os mais aptos a estabelecerem a contracepção, tanto natural quanto artificial. 
Durante a Renascença, quando Cleópatra era a autoridade suprema, a perícia ginecológica egípcia ainda desfrutava de grande fama, formando a base de um curioso compêndio, erroneamente intitulado 'As Obras de Aristóteles', que circulou como um trabalho pseudo-erótico até poucos anos atrás.
do livro 'História Ilustrada do Egito Antigo' de Paul Johnson 

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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