sábado, 25 de abril de 2009

Superstições

Amuletos, feitiços, talismãs, presságios, metamorfoses, demônios, gênios, encantamentos... as superstições atravessam os séculos, desde a mais remota Antiguidade, testemunhando que o Egito permanece o mesmo, quaisquer que sejam seus dirigentes e sua religião. Esse repertório de crenças e práticas ainda é largamente difundido num país em que o ensino é obrigatório. O Egito antigo reservava um lugar especial para a magia. Tratava-se sobretudo a magia defensiva, destinada a proteger contra doenças, acidentes, derrotas militares, mas também contra mil espíritos malfazejos e gênios perversos, presentes tanto na terra quanto no além. Dizer o nome de um ser ou de um objeto permitia atingi-lo, se não possuí-lo. Para agir sobre ele, muitas vezes bastava representá-lo em imagem. Hoje essas crenças antigas persistem nas tatuagens. Podem ser puramente decorativas ou sinal de inclusão num grupo e profissão de fé, como as cruzes gravadas pelos coptas na junção do pulso direito. (imagem acima, o olho é um amuleto contra mau olhado: ugiat)

– Mas quase sempre tem natureza mágica: 
  • tatuam uma abelha no braço ou na coxa contra reumatismo
  • três pontos ou pássaros nas têmporas para prevenir inflamações oculares
Daí a expressão irônica "andak assafir" = "você tem pássaros", para criticar a tolice daqueles cujas aves teriam devorado o cérebro.

O receio do mau olhado é muito comum em todos os meios. Para proteger-se dele, evitam dizer, que uma criança é bonita, ou então presenteiam o recém-nascido com uma jóia em forma de mão. Põem um olho azul , ou olho de Hórus, na entrada da casa para neutralizar os invejosos. No campo, as moças ainda praticam a velha receita contraceptiva que consiste em engolir caroços de tâmara, cada caroço supostamente garante um ano sem engravidar. Também fuciona com sementes de rícino. Mas a grande inimiga é a esterilidade. Enterrar a placenta de um recém-nascido na entrada da casa assegura o nascimento de outro filho. Na luta contra a esterilidade, atribuem uma virtude peculiar às antiguidades faraônicas. Dar sete voltas em torno da grande pirâmide de Gisé é um clássico no gênero.

A superstição mistura-se às tradições bem consolidadas, está presente numa cerimônia tão difundida como o subu (a semana), que marca o sétimo dia após o nascimento de um bebê. Ainda praticado por certas famílias, um desses ritos consiste em escrever sete nomes diferentes em sete folhas de papel, colocadas sob sete velas acesas. A última chama a extinguir-se indica o nome a ser dado à criança.
(do livro: 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé)

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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