Em breve se firmará o contraste entre a 'terra negra' do Egito cultivado e a 'terra vermelha' do deserto. Pouco a pouco irá se criar uma longa faixa cultivada que atravessará zonas hostis e inóspitas. No flanco ocidental, o deserto líbio é uma parte do Saara, ora pedregosa, ora arenosa. Nessa época, a desertificação não era tão evidente como hoje; havia zonas de pasto e de terra arável. Ali viviam as populações líbias, que nunca atingiram o elevado nível cultural dos egípcios. Esse povo tinha a pele branca, os olhos azuis e cabelos ruivos. No flanco oriental é uma via de acesso estratégico às regiões que formam a Palestina e ladeiam a península do Sinaí. Lá como a leste de Coptos, os egípcios traçaram pistas até as pedreiras, onde encontraram ouro, malaquita, cobre e turquesas. Hathor 'a dama das turquesas', foi logo cedo venerada em Serabit el Khadim. Ao sul a Núbia que começa na 1ª catarata, é uma região bem menos rica do que o Egito, mas os seus produtos exóticos e seu ouro interessarão aos faraós.
O homem egípcio talvez seja uma síntese de várias raças:
- nômades errante da savana saariana
- norte-africanos aparentados com os berberes e os calibas
- indivíduos semitas vindos ao mesmo tempo do norte do Sinaí e do sul do deserto arábico
A pré história egípcia é muito pouco conhecida. O período anterior a Menés, o primeiro faraó abrange um tempo imenso em que reinavam as dinastias divinas. Os fatos continuam mal estabelecidos. Os mais antigos vestígios da presença humana talves se encontrem na região tebana; os egípcios primitivos sofreram certamente uma desertificação que os obrigou a se agruparem em torno de pontos de água e de oásis ao longo do Nilo. Antes de se tornaram sedentários, eram talvez nômades dedicados à criação. Sabe-se que o trigo foi cultivado entre 4600 a 4200 a.C. no vale do Nilo. Provavelmente nessa época os homens começaram a irrigar, a caçar e a pescar, a construir santuários para os deuses e a escavar sepulturas onde depositavam objetos preciosos para servir os defuntos no outro mundo. O Nilo deve ter terminado de escavar o seu vale por volta de 4000 a.C. e um acontecimento importante: a paisagem estabilizou-se, o homem tomou realmente posse dela e começou a melhorá-la. – Assim nasceu verdadeiramente o Egito –
O fenômeno da hierarquização tem início, impõem-se o poder de um chefe mais autoritário e mais respeitado e, à sua volta, agrupa-se uma elite. O confronto entre duas povoações que queiram afirmar a sua soberania sobre este ou aquele território pode desencadear um conflito. Em suma, os "principados" locais surgem desenvolvem-se e alargam pouco a pouco as suas zonas de cultura e de caça. Subitamente um rei se manifesta. Um personagem impressionante, hierático, exibindo a coroa branca do Alto Egito. Já não é um simples chefe de clã, mas um monarca. Sua coroa constitui um indício de que não há engano. Seu nome é inigmático, escrito com o hiróglifo do escorpião, mas cuja leitura ainda não foi estabelecida. De modo que, para simplificar, é chamado de rei-Escorpião – existem vários objetos com a inscrição de seu nome, entre os quais um recipiente de Tura e oferendas encontradas no templo de Hierakonpolis, a Nekhen dos antigos egípcios. Mas o documento essencial é uma admirável peça proveniente da estação de Hierakonpolis e conservada no Museum de Oxford – um objeto de calcário contendo várias cenas em alto-relevo que marcam o aparecimento de um faraó na história. O rei Escorpião marca a sua soberania sobre as províncias. Lidera as suas tropas e vence as populações simbolizadas pelos pavões e pelos arcos, certamente os habitantes do Delta e nômades que viviam nas fronteiras do Egito ou em oásias. O rei Escorpião favoreceu a atividade econômica do país durante o seu reinado. Este soberano é um Hórus, como toda linhagem de faraós, ele é "aquele que pertence ao canavial" na sua qualidade de rei do Alto Egito. Veste uma simples tanga e tem uma calda de touro atada à cintura, símbolo do seu poder. Rei mago, a sua função consiste em ser um chefe guerreiro vitorioso, mas também em assegurar as cheias e as colheitas. Estes pontos essenciais são assegurados pelas cenas da peça. Um deles deve chamar-nos a atenção: O fenômeno das cheias. As cenas gravadas na peça de Hierakonpolis provam que o rei-Escorpião, que apenas reinava no Alto Egito, já tinha percebido claramente a importância da domesticação e exploração das cheias do Nilo. Só um poder forte e centralizador, encarnado na pessoa do faraó, seria capaz de realizar tal empreendimento. Nesse domínio, o rei-Escorpião foi um prodigioso inovador. Tirou o Egito da pré-história, ensinando-o a domesticar um fenômeno natural suscetível e de se tornar a fonte de uma grande riqueza. Os egípcios mais do que depressa construíram barcos. Na época do rei-Escorpião já devia existir uma corporação de artífices especializados. Não estamos apenas pensando nos primitivos barcos de papiro, mas em embarcações de madeira. A paisagem egípcia mudou e atualmente vêem-se poucas árvores. Em contrapartida, os operários do rei-Escorpião dispunham certamente de florestas que forneciam aos estaleiros navais. O centro vital do país que o rei-Escorpião dirigia situava-se provavelmente em Hierakonpolis, entre Luxor e Assuã. O Egito toma forma em seu reinado. Muitos contatos entre as civilizações de Elam na Suméria e o Egito.
O rei-Escorpião viveu cerca de 3000 anos a.C. e que a primeira dinastia começa no ano 2950. Julgou-se poder estabelecer que o pré dinástico recente, ou seja, o período anterior a Menés, compreendia apenas dois reis:
- o rei Escorpião
- e um tal Ka
Sob a égide do Escorpião, uma região de pântanos e florestas transforma-se progressivamente em terra arável. As cheias começam a ser controladas, as águas trazem as riquezas, o trabalho dos homens é portador de maravilhosas esperanças. Graças a irrigação, uma civilização inédita nasce do limo fertilizante. O nascimento da mais perfeita língua jamais criada pelos homens – os hieróglifos, uma língua sagrada, igualmente criadora de cultura e de civilização. O nome do rei-Escorpião está inscrito num hieróglifo, nas paletas pré-dinasticas, sente-se que o hieroglífico está em formação que o pensamento dos homens se canaliza cada vez mais rapidamente para atingir uma forma de expressão original. O nascimento dos hieróglifos não é associável ao do Egito unificado: uma única língua para todo o país a fim de registrar todas as vontades dos deuses e dos reis; uma língua carregada de poder mágico.
Fonte: do livro 'O Egito dos grandes faraós história & lenda'
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