sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ísis




A superstar da Antiguidade a princípio não passava de uma deusa local do Delta. O culto a Ísis pouco a pouco foi abrangendo todo o Egito, para em seguida atravessar as fronteiras. Contar o mito de Ísis com todos os detalhes, em todas as suas variantes, exigiria um livro.





Ísis é a irmã, mas sobretudo a esposa, de Osíris, deus reinante sobre a terra do Egito. Osíris é assassinado pelo irmão Seth, que enciumado, trancou-o num cofre e jogou-o no Nilo. Ísis então começa a procurar o cadáver do marido. Acaba encontrando o cofre em Biblos, no Líbano, e com seu poder mágico, consegue trazê-lo de volta e escondê-lo provisoriamente num pântano.
Seth descobre o esconderijo durante uma caçada. Corta o corpo em 14 (ou 16) pedaços, que espalha pelo rio. Ísis sai mais uma vez a procura do marido, encontra os pedaços de seu corpo e faz com eles uma múmia. Esta reúne todos os pedaços, com exceção de um: o falo de Osíris, que foi engolido por um peixe. A deusa transforma-se em ave e, ao bater as asas, faz o deus voltar à vida e restitui-lhe o membro perdido. Em seguida, planando suavemente sobre o corpo do bem amado, incita sua virilidade para unir-se a ele. Desse ato de amor nasce Hórus. Ísis cria o menino protegendo-o de Seth, pois chegada a hora ele disputará o trono do Egito.
Mas Seth afirma que Hórus não é filho de Osíris. E começa um processo infindável – duraria 80 anos, segundo uma das versões do mito – para decidir a disputa entre os deuses rivais. Naturalmente, Ísis não deixa de combater as manobras do assassino de seu esposo usando toda a sua magia. Hórus acaba ocupando o trono do Egito, enquanto Osíris governa o reino dos mortos.

Dali em diante, todo faraó passou a ser um Hórus e, após a morte um Osíris. Essa determinação do mito terminou por democratizá-lo:
   a partir da sexta dinastia, qualquer egípcio falecido pode tentar virar um Osíris

– Ísis acumulou funções:
  • mãe exemplar
  • protetora das crianças
  • protetora das mulheres grávidas
  • assegura a fertilidade e a fecundidade da terra
  • intercede a favor dos defuntos
No período greco-romano, o templo de Filae é consagrado à "soberana de todos os deuses". Inscrição gravada num dos pilonos de Filae:
Grande deusa, mãe de deus, Ísis, fonte da vida, tu que reinas sobre Filae e sobre a região que ninguém pode percorrer, soberana da ilha vizinha, deusa enlutada que reconstitui o corpo lacerado de teu irmão Osíris, grande e poderosa soberana dos deuses, cujo nome as deusas exaltam, dona da magia benéfica que expulsa o demônio pelas palavras de seus lábios. Sem o seu consentimento, ninguém ousaria pisar o chão do palácio: só a sua vontade pode coroar reis. É chamada fonte da vida, pois dá vida à terra, e cada um vive o que ela ordena. Tudo leva a sua marca, e nada se realiza sem ela, no céu, na terra ou no além.

curiosidades
Os sacerdotes de Filae foram os últimos a resistir à cristianização do império no século IV. Na mentalidade popular, Ísis e a Virgem Maria confundiram-se durante muito tempo. Cada uma à sua maneira, essas duas "mães divinas" deram à luz sem um genitor, e tanto uma como a outra foram representadas amamentando a criança-rei. Inúmeros santuários foram edificados para a glória de Ísis em volta de todo o Mediterrâneo. 

Em 1811, chegaram a decretar oficialmente as origens "isíacas" da capital francesa.
"Paris" não vinha de "Par Isis" (Por Ísis)? Não se tinha constatado que um antigo templo dedicado a Ísis existiu no local em que fica a Igreja de Saint-Germain-des-Prés? Com base nos trabalhos de uma comissão erududita, Napoleão decretou que o novo brasão da cidade representaria a mãe de Hórus sentada na proa de um navio antigo. Infelizmente, a bela deusa egípcia não sobreviveu ao Império. Alguns anos depois, Luis XVIII ordenou o retorno ao brasão original.
(do livro 'Egito um olhar amoroso')

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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