A superstar da Antiguidade a princípio não passava de uma deusa local do Delta. O culto a Ísis pouco a pouco foi abrangendo todo o Egito, para em seguida atravessar as fronteiras. Contar o mito de Ísis com todos os detalhes, em todas as suas variantes, exigiria um livro.
– curiosidades –
Ísis é a irmã, mas sobretudo a esposa, de Osíris, deus reinante sobre a terra do Egito. Osíris é assassinado pelo irmão Seth, que enciumado, trancou-o num cofre e jogou-o no Nilo. Ísis então começa a procurar o cadáver do marido. Acaba encontrando o cofre em Biblos, no Líbano, e com seu poder mágico, consegue trazê-lo de volta e escondê-lo provisoriamente num pântano.
Seth descobre o esconderijo durante uma caçada. Corta o corpo em 14 (ou 16) pedaços, que espalha pelo rio. Ísis sai mais uma vez a procura do marido, encontra os pedaços de seu corpo e faz com eles uma múmia. Esta reúne todos os pedaços, com exceção de um: o falo de Osíris, que foi engolido por um peixe. A deusa transforma-se em ave e, ao bater as asas, faz o deus voltar à vida e restitui-lhe o membro perdido. Em seguida, planando suavemente sobre o corpo do bem amado, incita sua virilidade para unir-se a ele. Desse ato de amor nasce Hórus. Ísis cria o menino protegendo-o de Seth, pois chegada a hora ele disputará o trono do Egito.
Mas Seth afirma que Hórus não é filho de Osíris. E começa um processo infindável – duraria 80 anos, segundo uma das versões do mito – para decidir a disputa entre os deuses rivais. Naturalmente, Ísis não deixa de combater as manobras do assassino de seu esposo usando toda a sua magia. Hórus acaba ocupando o trono do Egito, enquanto Osíris governa o reino dos mortos.
Dali em diante, todo faraó passou a ser um Hórus e, após a morte um Osíris. Essa determinação do mito terminou por democratizá-lo:
– a partir da sexta dinastia, qualquer egípcio falecido pode tentar virar um Osíris –
– Ísis acumulou funções:
- mãe exemplar
- protetora das crianças
- protetora das mulheres grávidas
- assegura a fertilidade e a fecundidade da terra
- intercede a favor dos defuntos
Grande deusa, mãe de deus, Ísis, fonte da vida, tu que reinas sobre Filae e sobre a região que ninguém pode percorrer, soberana da ilha vizinha, deusa enlutada que reconstitui o corpo lacerado de teu irmão Osíris, grande e poderosa soberana dos deuses, cujo nome as deusas exaltam, dona da magia benéfica que expulsa o demônio pelas palavras de seus lábios. Sem o seu consentimento, ninguém ousaria pisar o chão do palácio: só a sua vontade pode coroar reis. É chamada fonte da vida, pois dá vida à terra, e cada um vive o que ela ordena. Tudo leva a sua marca, e nada se realiza sem ela, no céu, na terra ou no além.
Os sacerdotes de Filae foram os últimos a resistir à cristianização do império no século IV. Na mentalidade popular, Ísis e a Virgem Maria confundiram-se durante muito tempo. Cada uma à sua maneira, essas duas "mães divinas" deram à luz sem um genitor, e tanto uma como a outra foram representadas amamentando a criança-rei. Inúmeros santuários foram edificados para a glória de Ísis em volta de todo o Mediterrâneo.
Em 1811, chegaram a decretar oficialmente as origens "isíacas" da capital francesa.
"Paris" não vinha de "Par Isis" (Por Ísis)? Não se tinha constatado que um antigo templo dedicado a Ísis existiu no local em que fica a Igreja de Saint-Germain-des-Prés? Com base nos trabalhos de uma comissão erududita, Napoleão decretou que o novo brasão da cidade representaria a mãe de Hórus sentada na proa de um navio antigo. Infelizmente, a bela deusa egípcia não sobreviveu ao Império. Alguns anos depois, Luis XVIII ordenou o retorno ao brasão original.
(do livro 'Egito um olhar amoroso')
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