domingo, 19 de abril de 2009

Faraó



Faraó era o título atribuído aos reis (com estatuto de deuses) no Antigo Egito. Tem sua origem imediata do latim tardio Pharăo-onis, por sua vez do grego Φαραώ e este do hebraico Par῾ōh, termo de origem egípcia que significava propriamente "casa elevada", indicando inicialmente o palácio real. O termo, na realidade, não era muito utilizado pelos próprios egípcios. No entanto, devido à inclusão deste título na Bíblia, mais específicamente no livro do "Êxodo", os historiadores modernos adotaram o vocábulo e generalizaram-no. (Wikipédia)



Essa palavra tem uma força impressionante: acabou por simbolizar uma civilização. Entretanto, sua acepção atual data apenas do primeiro milênio a.C., isto é, do fim da era faraônica. Antes disso, chamavam o soberano de rei, senhor ou majestade. O termo "faraó"  ( do antigo egípcio pir-ô ou per-a'a) designava o palácio real e seus habitantes, e era usado como hoje usamos o nome "Buckingham", "Casa Branca" ou "Elisée". Só a partir do Novo Império o rei do Egito ocasionalmente teve direito a um.
De qualquer modo, o soberano não corria o risco de ser confundido com o comum dos mortais. Nas paredes dos templos, a figura a ele correspondente podia ser identificada pelo tamanho, bem maior que as outras, e por alguns elementos: 
  • a coroa vermelha do Baixo Egito, ou 
  • a branca do Alto Egito, ou 
  • ambas ao mesmo tempo (pschent); 
  • a naja enroscada à testa (uraeus), 
  • a barba postiça; 
  • a tanga com cauda
Autocrata, proprietário de todo o Egito, se não da Terra inteira, o faraó acumulava poderes:
  1. era a maior autoridade administrativa;
  2. judiciária;
  3. religiosa; 
  4. militar;
  5. antes de mais nada um deus encarnado, sucessor de Hórus, e as vezes cultuava suas próprias efígies;
  6. manter a ordem cósmica
Por isso, as férias do soberano eram temidas, sem ele, nunca se sabia se o sol nasceria ou se poria, nem se a preciosa inundação das terras ocorreria a tempo.
O faraó podia ter várias esposas, e algumas eram meias irmãs ou filhas dele. A ausência de herdeiros do sexo masculino as vezes levou mulheres ao trono, mas seu reinado nunca durou muito tempo, e sempre terminou mal. A rainha Hatshepsut foi uma exceção digna de nota. Tia e sogra do jovem Tutmés III, assegurou uma regência que se transformaria gradualmente em co-regência. Ambiciosa, conseguiria ser coroada por volta de 1471 a.C. e adotaria os atributos do faraó, até mesmo a barba postiça. A ela devemos o templo funerário de Deir el-Bahari, em Luxor, além da Capela Vermelha de Karnak, onde ela mandou gravar a seguinte inscrição:
O pai (Amon), senhor dos deuses, instalou sua filha (a-Grande-de-Magia) para ser meu uroeus. Ele me promoveu para governar as Duas Margens, enquanto Sua Majestade (Amon) emitia um oráculo. Introduziu-me para que me tornasse senhora do povo diante da terra inteira. Pôs-me mais à frente que aquele no palácio (...) Coroou-me com suas próprias mãos, quando fui elevada como um Hórus de braço forte. Fez com que me sentasse no altar jubilar de Hórus na presença de todos os cortesãos do rei.

Os documentos da época são pobres em detalhes sobre cada soberano. A imagem idealizada do faraó relegou a segundo plano sua personalidade e seus hábitos, assim negligenciados. Não sabemos se Miquerinos era colérico, nem se Sesóstris III gostava de passear à noite no terraço de um de seus palácios. Até o número de faraós e a duração de seus reinados geram confusões. Os egiptólogos basearam-se na obra de Manethon, sacerdote-historiador do tempo dos ptolomeus, para definir trinta dinastias. Cada soberano determinava seu próprio calendário (falava-se no ano 3 de tal reinado, do ano 4 de outro), como se a criação do mundo recomeçasse a cada subida ao trono.
O primeiro faraó teria sido Menés, que teria fundado Mênfis entre 3000 e 2950 a.C. Mas nenhum egiptólogo pode garantir que ele de fato tenha existido. A descoberta de soberanos anteriores, que reinaram em certas regiões do Egito, provocou uma revisão da cronologia e a determinação de uma "dinastia zero".
E como identificar quem foi o último dos faraós? Deve-se parar na conquista persa, em Cambises ou em Dario? Ou nos ptolomeus, que também adotaram o modelo faraônico? Dezoito séculos mais tarde, atribuíram o título a Mohammed Ali, fundador do Egito moderno. Título ao qual Nasser e depois Sadat também tiveram direito. E quem ousaria negá-lo ao rais em exercício, Hosni Mubarak? 
  • No plural, a palavra consegue pelo menos uma unanimidade no Egito: a seleção nacional de futebol chama-se "os faraós".
do livro 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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