sexta-feira, 10 de abril de 2009

Farol de Alexandria

Como aceitar que o Farol, construção colossal, umas das Sete Maravilhas do mundo, tenha desaparecido?
A construção do 'segundo sol' teve início por volta de 297 a.C. e durou cerca de 15 anos. Não foi o primeiro farol do mundo grego, mas certamente o maior e mais ambicioso, o que simbolizaria todos os demais, pois Faros, a ilhota ao largo de Alexandria onde o erigiram, virou substantivo comum.
A costa era perigosa. Os navios precisavam ser guiados de longe para não se chocarem contra os recifes na superfície da água. Dada a topografia da ilha, sem montanha ou penhasco, foi necessário construir uma torre bem mais alta. Mas seus 135 metros de altura também se destinavam a impressionar, como observou E.M. Foster em Pharos and Pharillon (1923):

A presença de um farol era um imperativo (...) Mas é possível que seus construtores estivessem dominados por uma loucura divina; que, de forma deliberada, tivessem dado à sua engenharia ambições poéticas, assim oferecendo ao mundo uma nova maravilha. E foram duplamente bem sucedidos: as artes e as ciências aplaudiram seu triunfo. Assim como Atenas tinha sido identificada com o Paternon, Alexandria foi identificada com o Farol e vice versa. Nunca na história da arquitetura uma edificação civil foi tão venerada quanto o Farol e adquiriu vida espiritual própria. Sua luz se apagou, mas muito tempo depois ainda permanecia acesa no espírito dos homens.

Para se ter uma idéia de como era o monumento, só nos resta comparar os relatos contraditórios de viajantes gregos, romanos e árabes, e examinar moedas antigas. O Farol teria sido feito de:
  • calcário branco e granito de Assuã
  • cercado por uma muralha que o protegia das ondas
  • possuía três níveis superpostos
  • largura decrescente
  • um andar quadrangular, outro octogonal
  • e por fim um cilíndrico, encimado por uma estátua de Zeus
  • o fogo que queimava no alto do farol podia ser visto à noite a uma distância de 50 kms
O combustível era transportado no lombo de burros ou de mulas, que subiam por uma rampa espiral de bronze, instaladas em cada ângulo do primeiro terraço.
Vários escritores da Antiguidade mencionam uma inscrição gravada no Farol. O nome do arquiteto: Sóstrates de Cnida, mas não o do soberano. Depois concluiu-se que o arquiteto tinha usado de um artifício para apagar os nomes de Ptolomeu e de sua esposa: estes estavam gravados numa camada de cal, que não tardaria a desaparecer, para dar lugar a seu próprio nome, solidamente gravado na pedra. Sóstrates também é citado num belo epigrama do poeta macedônio Posídipo de Pella, dirigido a Proteu, "o velho do mar", que segundo a mitologia grega, habitava a ilha de Faros.

Salvaguarda dos gregos, a sentinela de Faros, ó senhor Proteu, foi erigida por Sóstrates, filho de Dexífanes, de Cnida. No Egito, não existem como posto de vigilância montanhas em ilhas: na baía que acolhe os navios, as terras estendem-se planas, sem relevo que ultrapasse o nível da água. Por isso, recorta-se contra o céu uma torre avistada de uma distância infinita durante o dia. À noite, em meio as ondas, o marujo rapidamente verá o grande fogo que queima lá no alto, e correrá para o corno de Touro, e quem navega naquelas paragens decerto alcançará Zeus Salvador, ó Proteu.

Desde o século IV, o Farol de Sóstrates foi abalado por vários tremores de terra. Tiveram de reforçar sua estrutura e até reconstruir partes dele. O sultão Ibn Tulun aproveitou um desses consertos para instalar um oratório. Surgia a mais alta mesquita do mundo... Em 1349, segundo um viajante árabe, o Farol não passava de uma ruína inacessível. Mais de um século depois, o sultão Qaitbay utilizou-o para construir uma fortaleza, hoje o monumento mais visitado de Alexandria.

No mar, não muito longe da fortaleza, Jean-Yves Empereur e sua equipe de mergulhadores descobriram muitos blocos de pedra, e alguns deles necessariamente pertenciam ao Farol. Esse tesouro submarino inclui os fragmentos de duas estátuas colossais – um Ptolomeu-Faraó e sua esposa, representada como Ísis – que ficavam ao pé da fabulosa torre de luz.
( do livro 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé )

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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