terça-feira, 28 de abril de 2009

Saqqara

Chamavam-na de "planície das múmias". Em 1828, Champollion viu ali apenas um campo de ruínas: 
  • pirâmides desmoronadas, 
  • tumbas saqueadas, 
  • crânios, 
  • ossadas, 
  • fragmentos de cerâmica... 
"Essa localidade é quase nula para estudo", escreveu precipitadamente o decifrador de hieróglifos antes de seguir caminho para o Alto Egito. Só com as escavações do inglês Perring (1837), do prussiano Lepsius (1842) e principalmente de Auguste Marriette (a partir de 1851), o sítio de Saqqara, situado uns 30 km ao sul do Cairo, começaria a revelar sua fabulosa riqueza.

Na década de 1920, foi a vez de o inglês Francis Firth apaixonar-se por Saqqara, onde fez muitas descobertas. A ele juntou-se o jovem arquiteto francês Jean-Philippe Lauer, que dedicaria 70 anos de sua vida a esse sítio extraordinário. Morando no local, interrogava incansavelmente o genial Imhotep, autor do principal complexo funerário. E reconstituiu pedra por pedra o muro circundante, as capelas, e os corredores.

Não se localizou o túmulo de Imhotep Por volta de 2700 a.C, na época da III dinastia, esse homem fora do comum – que também foi médico, grande sacerdote de Heliópolis e principal colaborador do faraó Djoser – inventou ao mesmo tempo um estilo funerário (a pirâmide) e a arquitetura de pedra. Mais tarde foram atribuídas a ele curas milagrosas. Era considerado um santo é até um deus, a quem consagraram uma capela no Templo de Filae. Em homenagem àquele que consideravam seu patrono, os escribas adotaram o hábito de derramar umas gotas de seu pote de tinta antes de escrever.


Saqqara tornara-se o principal cemitério de Mênfis, uma das cidades mais importantes da Antiguidade; daí a profusão de sepulturas. Sepulturas de humanos, mas também de animais: nas galerias com centenas de metros de comprimento, foram encontradas múmias de touros, íbis, falcões, cobras, gatos... Uma imensa necrópole zoológica.



O nome desse planalto desértico deriva de uma alteração da palavra árabe sakhr (pedra, rocha). Dá para imaginar o encantamento provocado por esse lugar antes da estabilização das águas do Nilo, quando o vale sobre o qual se projeta ficava inundado durante parte do ano.

– Philippe Lauer nunca esqueceu a paisagem vista por ele ao chegar lá, em 1926:
Um imenso lençol de água ligeiramente azulada estendia-se a perder de vista no vale, só era limitado a oeste pelo vilarejo de Saqqara com seu palmeiral e sobretudo pela maleável faixa dourada das areias do deserto da Líbia contra a qual se desenhava o contorno de várias pirâmides, entre elas a pirâmide em níveis de Djoser. Logo nos vimos rodeados de água, bem no meio de um espelho descomunal, com infinitas nuanças de cor. Tudo o que emergia dessa onda calma e límpida eram palmeiras, tamariscos e acácias, entre os quais embarcações de pescadores ou de barqueiros evoluíam tranquilamente...

Os franceses trabalham em quatro sítios arqueológicos em Saqqara: 
  1. Bubasteion, 
  2. Djoser, 
  3. Louvre e 
  4. Pepi I. 
A cada ano, uma das equipes faz pelo menos uma descoberta espetacular. Nesse espaço de mais de dez quilômetros quadrados, os vestígios, que vão do Antigo Império ao período copta, estão longe de se esgotar.

Por Robert Solé do livro 'Egito um olhar amoroso'

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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