quinta-feira, 30 de abril de 2009

Hatshepsut, rainha faraó

Por mais de 20 anos (1490 - 1468 a.C.), uma mulher, reinará no Egito. Não será o primeiro faraó feminino, porque já aconteceu uma vez no Antigo Império e uma segunda vez no Médio Império. Mas essas outras duas mulheres faraós, haviam reinado no final de épocas ilustres, em períodos de crise. Hatshepsut, pelo contrário, é chefe de um Egito rico e poderoso. Inteligente, hábil, dotada de habilidades administrativas quase que excepcionais, política, Hatshepsut era uma das duas filhas do grande monarca Tutmósis I, que preparou sua filha para o exercício do poder.



Origens
Filha mais velha do grande monarca Tutmósis I (1506-1494 a.C.) e da rainha Ahmoses, nasceu em Tebas. Herdou o caráter enérgico do pai. Desposou seu irmão, nascido de uma concubina, Tutmósis II, cujo reinado foi curto (1493-1490 a.C.), tiveram duas filhas. Hatshepsut era uma mulher muito bela. Um de seus mais belos retratos nos é oferecido por uma esfinge com cabeça humana conservada no Museu de Arte de Nova York. As feições são ao mesmo tempo finas e voluntariosas. Sua múmia é uma das mais pungentes: conservou o cabelo comprido e, apesar da máscara mortuária, advinha-se uma forte personalidade, uma energia feroz aliada ao encanto de uma feminilidade radiosa.

Reinado
O Jovem Tutmósis II, seu marido, morre cedo, e deixa o Egito numa situação difícil. Deixa duas filhas e um filho, o futuro Tutmósis III (filho de outra esposa). Mas este era, na ocasião, uma criança. Hatshepsut assegura a regência. "Filha do rei, irmã do rei, esposa do deus, grande esposa real", ela dirigirá o país de acordo com a própria vontade de seu sobrinho. Mas este governo iniciante não corresponde à mentalidade egípcia, de modo que ela resolve ser rei. Rei, porque assumirá as características masculinas que farão dela faraó como os outros. A princípio representada como mulher, depois veste-se de homem, adota os protocolos dos reis, usa a barba postiça e a dupla coroa. Dois anos após a morte de Tutmósis II, ela já agia como chefe de Estado. Tem o cuidado de legitimar o seu poder, explicando que seu pai, o bem amado Tutmósis I, a escolhera como rainha. Os textos afirmam que Hatshepsut, filha do deus Amon, que caucionava igualmente a sua tomada do poder, dirigia os assuntos do Egito de acordo com os seus próprios planos. Graças à obra de antecessores, conheceu tempos pacíficos, que aproveita para se consagrar à gestão econômica do país, e sobretudo a uma intensa atividade arquitetônica. Sua política externa foi muito fraca. Manteve relações comerciais com o estrangeiro.

Construções
  • ergueu 4 obeliscos em Karnak
  • um templo dedicado a Hórus em Buhen, na Núbia

Sua obra prima foi Deir el-Bahari – construído na região tebana num local consagrado à deusa Hathor. Seu arquiteto Senmut, concebeu um projeto muito original, que apresenta um plano único na arquitetura egípcia:
  • uma calçada que sobe suavemente em direção ao templo composto por terraços sobrepostos.
Este mundo de pedra, onde Hathor, a deusa da alegria e do amor, ocupa um importante lugar, é um hino imortal à beleza. A rainha ali honrou seu pai Tutmósis I, o grande deus Amon-Rá e também o deus solar Rá-Horakhty, e o deus funerário Anúbis. Nos depósitos da fundação, encontrou-se ânforas com a inscrição: "A filha de Rá, Hatshepsut, construiu este monumento em honra de seu pai Amon, no momento de iniciar a construção do templo de Amon, a maravilha das maravilhas". Para chegar ao templo, seguia-se por uma alameda de esfinges representando Hatshepsut. Diante do edifício havia um magnífico jardim com sicômoros, filas de tamarindos, palmeiras, árvores frutíferas e arbustos de incenso.

A aventura de Hatshepsut teria sido impossível sem o apoio do clero de Amon, que paradoxalmente, havia designado Tutmósis III como rei. Ela encontrou, um amigo fiel na pessoa do sumo sacerdote Hapuseneb, senhor de grande influência política. Foi ele quem favoreceu a criação do mito do nascimento divino e justificou teologicamente a legitimidade de Hatshepsut. Elevado à categoria de chefe dos sacerdotes do Sul e do Norte, Hapuseneb dirigia todos os cultos e servia-se do oráculo para revelar a vontade de Amon. Hatshepsut vai lhe dar o cargo de vizir, colocando-o assim à frente do Estado.

Como terminou a aventura de Hatshepsut, não possuimos certeza. Escreveu-se várias vezes que o jovem Tutmósis III a odiava, mandou martelar seu nome nos monumentos a fim de apagar a sua lembrança da História. Mas não mandou arrasar seu templo de Deir el-Bahari. O túmulo de Hatshepsut foi encontrado, tendo sido o primeiro a ser escavado no Vale das Rainhas. Devemos a seu pai uma inovação fundamental: a escolha do Vale dos Reis para lá escavar as derradeiras moradas dos faraós.

Reinado feliz, anos de paz e tranquilidade, beleza de uma civilização traduzida no templo de Deir el-Bahari



* Leia também: Hatchepsut
do livro 'O Egito dos Grandes Faraós história & lenda' de Christian Jacq

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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